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19/04/2006 - 08h12

Após um ano de pontificado, Bento 16 dá "guinada"

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da BBC Brasil, em Roma

Ao final do seu primeiro ano como o 265° sucessor de São Pedro, Joseph Ratzinger decidiu dar uma guinada em seu pontificado. Até o final do ano passado, ele havia tomado poucas decisões, mas a partir de janeiro, seu ritmo mudou.

Bento 16 divulgou o seu primeiro documento --a Encíclica "Deus é Amor"--, nomeou 15 novos cardeais e começou a mexer na poderosa Cúria Romana.

Lento e reflexivo, o pontífice esperou para ter conhecimento da situação antes de tomar decisões que devem revolucionar a Igreja, segundo observadores do Vaticano.

Clique aqui para ver imagens da vida e do pontificado de Bento 16

Alberto Melloni, professor de história da Igreja, define este início de pontificado como sendo de "transição". "O papa deixa aos poucos desvanecer o excesso e a prepotência da superexposição na mídia de João Paulo 2°", disse em entrevista à BBC Brasil.

Audiências

O papa, 79, eliminou sua participação em algumas cerimônias. Ele não celebra mais beatificações, apenas canonizações (declarações oficiais de santidade).

Ele reduziu também suas audiências em 70%, dedicando mais tempo para ouvir as pessoas que encontra.

"João Paulo 2° encontrava muita gente, mas superficialmente. Ratzinger recebe menos pessoas, mas dedica a elas mais tempo e atenção”, observou o vaticanista Sandro Magister em entrevista à BBC Brasil.

As visitas ad limina, que os bispos de outros países fazem ao papa a cada cinco anos para dar a ele informações atualizadas sobre os problemas de suas regiões, são outro exemplo, segundo Magister, de um estilo diferente na condução da igreja.

"Ele se prepara, fala com um bispo de cada vez, não são encontros de rotina. Conta muito com a colaboração dos bispos para colocar a igreja de volta no caminho que programou, e por isso dá muita atenção às nomeações”.

O vaticanista vê, no diálogo com os bispos e com os cardeais, que o papa convocou recentemente a Roma, um início de colegialidade --a decentralização do poder da Santa Sé.

"Colegialidade"

Alberto Melloni, autor do livro O início de papa Ratzinger, não é da mesma opinião. Ele acha que é necessário um gesto mais claro.

"Colegialidade não é reunir-se por três horas com bispos e cardeais. É preciso ver se vai criar ou não um órgão novo, específico para representar a colegialidade na igreja.”

Uma das críticas feitas a João Paulo 2° é que não cuidava do governo da igreja. Preferia dar atenção às viagens e delegava o comando à Cúria. Com Bento 16 isso mudou.

"Ratzinger dirige a Igreja. Foi um pedido claro dos cardeais no conclave", afirmou o vaticanista Andrea Tornielli.

De acordo com os analistas, Bento 16 demonstrou que é ele quem decide ao transformar 4 ministérios em 2. Um modo de reduzir funcionários e gastos, mas também de indicar a linha política, no caso do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que foi englobado pelo Conselho para a Cultura.

O presidente do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, monsenhor Michael Fitzgerald, foi destituído e enviado para o Cairo como núncio apostólico, uma decisão considerada sem precedentes.

Islã

"Suas posições de abertura para com o islã não coincidiam com as do papa", comentou Sandro Magister.

Segundo ele, Ratzinger não busca acomodações no diálogo com as outras religiões.

“Ele quer discutir com todos, mas passando uma imagem muito forte da Igreja Católica”.

A mudança na linha do diálogo com as outras religiões ficou clara no final do ano passado. Um decreto de Bento 16 limitava a autonomia dos franciscanos da basílica de Assis. Apoiados pelo papa João Paulo 2°, eles organizavam encontros e manifestações com diferentes representantes religiosos, inclusive muçulmanos.

Na opinião de Sandro Magister, Joseph Ratzinger está preparando uma reviravolta interna na Cúria. Sua intenção seria voltar ao esquema anterior ao papa Paulo 6°. Dar menos poder para a Secretaria de Estado e colocar a ex-Inquisição no centro do sistema, sob a dependência direta do papa.

Isto de fato já é assim, segundo o vaticanista. Mesmo sendo presidida pelo cardeal William Levada, a Congregação para a Doutrina da Fé continua sendo governada por Ratzinger, que foi o guardião da ortodoxia durante 25 anos.

"Até agora, todos os documentos e atos da Cúria passavam pelo crivo da
Secretaria de Estado, que terá menos peso. A filtragem e o controle da doutrina serão feitos pelo ex-Santo Ofício“, prevê Magister.

Liturgia

O retorno à tradição marca também o estilo das celebrações litúrgicas, uma grande preocupação de papa Bento 16. O canto gregoriano voltou a acompanhar suas missas e o latim é muito mais usado do que antes.

"Celebrações espetaculares com elementos de outras culturas, como se fazia durante o pontificado de João Paulo 2°, são impensáveis com Ratzinger”, comenta Sandro Magister.

Bento 16 não está acostumado a usar os gestos, mas palavras e conceitos, dizem os analistas, que também, neste aspecto, comparam-no ao seu predecessor.

"Oitenta por cento do que o papa polonês lia ou publicava, não era escrito por ele mas por seus colaboradores. Ele apenas supervisionava. Ratzinger escreve tudo de próprio punho”, segundo o escritor católico Vittorio Messori.

Quanto às viagens, que foram uma das características do pontificado de João Paulo 2°, neste primeiro ano, o papa Ratzinger não ficou atrás. Tem quatro na agenda: Polônia, Alemanha, Espanha e Turquia. Em maio do ano que vem ele irá ao Brasil.

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