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05/06/2006 - 12h48

Maioria dos jovens peruanos deixaria o país se pudesse

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Lima

A falta de oportunidades no Peru está levando a maioria dos jovens do país a sonhar com a vida no exterior.

Segundo pesquisa de opinião do Instituto Apoyo, um dos mais conceituados do Peru, pelo menos 75% dos jovens peruanos deixariam sua terra natal se pudessem, para tentar a sorte em outro país.

Não é difícil constatar essa realidade nos diferentes bairros de Lima, a capital peruana.

Desempregada, depois de terminar a faculdade de jornalismo, Mayra Olivo, de 24 anos, diz que sua “esperança” não está no Peru, mas “lá fora”. “Aqui, não terei nunca os empregos que posso ter no exterior e já me preparo para ir embora de novo”, disse.

Filha de uma professora peruana com um funcionário público espanhol, Mayra passou três meses com o pai em Madri e se convenceu de que na capital espanhola terá “infinitamente” mais oportunidades do que em Lima.

Desemprego

Desocupado há mais de um ano, seu amigo Giancarlo Abanto Delgado, de 29 anos, filho de pais peruanos, morou um ano na Venezuela, onde trabalhou no setor de vendas de uma multinacional.

Ele foi obrigado a retornar a Lima porque não conseguiu renovar seu visto de trabalho. “Durmo e acordo pensando em como farei para sair daqui de novo. Agora, não quero mais a Venezuela. Desta vez, estou me informando sobre a vida e o trabalho na Austrália.”

Para fazer o quê? “Qualquer coisa. Tenho certeza de que tenho mais chances em qualquer outro lugar”, afirma Delgado.

Mayra e Giancarlo estavam na Universidade Nacional de Engenharia, na localidade de Rimac, na periferia de Lima, onde votaram no segundo turno das eleições presidenciais.

“Não pense que é fácil. Sou filha única e aqui está minha mãe, além dos meus amigos. Mas tenho que organizar meu futuro”, disse Mayra.

País de 27 milhões de habitantes, o Peru registra mais de 50 meses consecutivos de crescimento econômico, arrecadação tributária e exportações recordes.

Os efeitos destes números positivos podem ser observados em Lima, onde, nos últimos tempos, surgiram novos hotéis e lugares de lazer como o “Larco Mar” – complexo de cafés, lojas e restaurantes de frente para o Oceano Pacífico.

Crescimento e riqueza

Mas a renda per capita do país é praticamente a mesma há 30 anos, como observou o economista Gustavo Yamada, da Universidade do Pacífico. “A concentração de renda não diminui e quem era pobre há 10 anos continua pobre”, disse à emissora estatal Televisión Nacional del Perú (TNP).

“Recebo centenas de currículos todas as semanas e muitos deles são de advogados e médicos, entre outros profissionais. Todos querendo emprego, mesmo que seja para varrer as ruas”, contou à BBC Brasil o executivo paulista Odilon Amado, da empresa brasileira Relima, de limpeza urbana, e presidente do Grupo Brasil no Peru.

A Relima é a concessionária que realiza há 10 anos a limpeza da capital peruana e o Grupo Brasil reúne as 27 empresas brasileiras instaladas no país.

Segundo dados oficiais, cerca de 51% da população é composta de pobres. Deste total, aproximadamente 22% vivem abaixo da linha da pobreza. Além disso, apenas 30% dos empregos existentes no país são formais, cerca de 60% dos empregos são gerados pela economia informal, como vendedores de frutas, mototáxis, taxistas, com carros e vãs aos pedaços, entre outros. Cerca de 10% da população está desempregada.

O Peru sofre ainda com carências básicas como saneamento básico. “O déficit social, a sensação de frustração e de falta de oportunidades e futuro, com um progresso seletivo no país, justificam que os jovens digam que deixariam o Peru, se pudessem”, escreveu Augusto Alvarez Rodrich, diretor do jornal "Peru 21".

“Não somos muito diferentes de outros países da América Latina. Mas talvez aqui mais peruanos, de diferentes idades, deixem suas famílias para buscar alternativas melhores no exterior”, disse o professor da Universidade de Lima Luis Benavente.

Também não é difícil encontrar peruanos com familiares que partiram para tentar melhor sorte em países como Argentina e Chile, onde mulheres trabalham como domésticas e babás, e homens na construção civil. Além de Espanha e dos Estados Unidos (onde estariam cerca de um milhão de peruanos, segundo dados oficiais).

“Minha irmã vive na Espanha e não pretende voltar”, disse Marisol, de 23 anos, com o seu bebê de poucos meses e o marido Waldir Sanz, de 26 anos, vendedor de alimentos.

Marisol disse que não pretende seguir os passos da irmã. Mas mostra outro traço da juventude peruana: a decepção com a política. “Não me preocupei nem um pouco com essa eleição. Pra mim é tudo igual e votei no Alan García, porque me falaram que era menos pior. Só por isso. São todos iguais e nada vai mudar”, disse.

As dificuldades que encontram no próprio país e o êxodo freqüente de peruanos –principalmente os mais jovens – virou debate, sábado à noite, no programa “Câmara Oculta”, da emissora de televisão TNP.

“Essa é a nossa realidade. Sair para encontrar vida melhor. É dramático? É e confirma a falta de perspectivas. Mas vi muitos peruanos felizes lá fora”, disse o sociólogo Hugo Neyra, que participou do programa.

Enfim, como disse Gianfranco Castagnola, presidente executivo do Apoyo, 26 anos depois da volta da democracia, o Peru avançou, mas ainda parece um país “com muito pouca esperança sobre seu futuro”.

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