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31/10/2000 - 04h13

Petista está mais para Albright do que para Jackie

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ERIKA PALOMINO, da Folha de S.Paulo

Mais para Madeleine Albright do que para Jackie Kennedy; mais Hillary Clinton, menos Ruth Cardoso. Chega ao poder a elegância discreta de Marta Teresa Smith de Vasconcellos Suplicy. O estilo da nova prefeita de
São Paulo combina com a personalidade plurifacetada da metrópole, que preserva sua essência, mas tem jogo de cintura para se adaptar a diferentes situações.

De jaqueta jeans, ela visita Sapopemba; de longo preto com estola de cetim, pérolas e brilhantes, chega à festa de casamento de Michel Temer (talvez seu momento mais Lady Di) na casa noturna Leopoldo, no Morumbi (foto 6). Eleita, Marta assumiu de vez o vermelho, visto primeiro no xale (foto 2) com que foi votar no colégio Madre Álix, na elegante alameda Gabriel Monteiro da Silva (Jardim Europa). "É o PT vermelho", chegou a declarar a "Marta do PT". Usado sobre o terninho básico cor de creme, o xale serviu para envolver a prefeita, que, ao abrir os braços, encarnou uma espécie de pomba-gira sufragista, para deleite dos fotógrafos.

Na avenida Paulista, foi de camisa vermelha sobre cacharrel branca e, depois, foi de vermelho absoluto à festa do PT, de tailleur. Cor oficial do partido, pode-se dizer que também é vermelho o matiz do comunismo.

Presta-se bem à vitória, ao destaque público, sobressai-se dentro das
massas. Recentemente, designers de embalagens e criadores de imagem perceberam a supremacia do vermelho sobre o prata, na representação do conceito de futuro. O novo futurismo, então, é vermelho.

Antes da cor vencedora apareceu o cor-de-rosa, como no tailleur de decote drapeado usado por Marta Suplicy no último debate na TV com Maluf. A cor, tão ou mais fashion que o tal vermelho, bate e rebate com a alcunha de "PT cor-de-rosa", também a cor que simboliza o movimento gay (além, é claro, do famoso arco-íris).

"PT Chanel" é outro dos apelidos do estilo Marta Suplicy dentro do partido, alusão que se pretende depreciativa à maison francesa de alta-costura e prêt-à-porter, por si um universo frívolo, bem distante da realidade dos trabalhadores e assalariados brasileiros. Mademoiselle Gabrielle Coco Chanel (1883-1971) é, por sua vez, símbolo da nova mulher, que nos anos 20 se valeu de tecidos até então restritos à moda masculina/ esportiva, como o jérsei, e de uma silhueta desestruturada que libertou as mulheres dos espartilhos usados na época.

Longe de ser uma "vítima da moda", a nova prefeita é adepta do chamado "hype invisível". Ou seja: prefere roupas de qualidade e até mesmo de grife, mas que não sejam ostensivas nem imediatamente reconhecíveis -mesmo por olhares treinados.

Das grifes internacionais, já disse que gosta de Valentino, um estilista famoso pela discrição e elegância, pelo corte feminino sem maiores ousadias. As preferidas cores em tons pastel (verde e azul, principalmente) combinam bem com os olhos verdes da prefeita, e não brigam com o tom louro acinzentado (sempre em cima) da tintura de seus cabelos, curtos, como se espera de uma mulher executiva.

A foto de Marta com o paletó segurado por uma das mãos, nas costas, se constitui peça fundamental da campanha eleitoral: trata-se do emblema da mulher que "põe a mão na massa", mas que não abre mão de seu charme e de sua feminilidade. Mais: de sua condição feminina.

Deve ter sido nos tempos da televisão, quando sexóloga de plantão do "TV Mulher", nos anos 80, que Marta Suplicy aprendeu a administrar a imagem, com roupas que ficam bem ou não no vídeo ou nos registros dos fotógrafos. É certo que, naquela época, eram mais curtas as saias dos terninhos (agora fixadas em quatro dedos acima do joelho, como no look acetinado com que subiu a avenida Tucuruvi em setembro).

Os vestidos, estes têm sido de comprimento "longuette" ou mesmo longo, comportados mesmo, como o que a então candidata fez sua visita ao mundo da moda em si. Marta foi assistir em julho último ao desfile de Alexandre Herchcovitch, justamente o mais moderno, o mais vanguarda, o mais transgressor do cenário fashion brasileiro.

Ela se deixou fotografar sob as luzes ultravioleta da passarela do estilista (foto 7), as mesmas usadas nas câmeras de bronzeamento artificial, -verdadeira "photo opportunity".

Não foi a primeira vez que Marta Suplicy caiu no mundinho fashion: por conta do apreço em relação à assessora da marca Zoomp, Fabiana Kherlakian, ela compareceu numa temporada ao desfile da grife paulista vestindo "total look Zoomp". Fabiana foi casada com o cantor Supla, filho da prefeita, este sim cheio de atitudes -na moda e no palco (do estilo dele pode-se até dizer que é punk, bem ao gosto das ruas de Nova York, onde ele mora).

De candidata a prefeita, Marta Suplicy tem evitado, com sobriedade, maiores riscos (como as transparências nas festas da rua Grécia) ou mesmo gafes. Mas é possível identificar como verdadeiro equívoco fashion o pavoroso poncho vestido na visita à favela de Paraisópolis em junho (foto 4), quando foi acompanhada pelos rapper Thaíde e pelo DJ Hum.

Em outra conexão da prefeita com o admirável mundo novo da música
eletrônica foi a polêmica entrada no clube underground A Lôca, em setembro, quando, vestindo um casacão "annorak" laranja, combinou bem com o look de coroa de strass e tomara-que-caia do performer Michael Love, figura clássica do underground paulistano.

Do submundo à elite, Marta Suplicy conseguiu evitar o estigma de "perua". Sua habilidade em relação ao vocabulário do vestir lhe deu o passe livre entre as classes sociais que compõem o caos paulistano. E hoje em dia, sempre é bom lembrar, imagem é tudo.

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