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13/05/2001 - 09h49

Lula vai à China após negociar por sete anos

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CLAUDIA ANTUNES
da Folha de S.Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu e outras lideranças petistas embarcam hoje rumo à China para uma viagem oficial a convite do governo do país, com término previsto para 25 de maio.

O roteiro básico, que prevê visitas a três cidades, é semelhante ao de uma delegação pefelista que viajou ao país no ano passado.

Para o Partido Comunista, que organiza as viagens de delegações partidárias, a visita petista é, contudo, mais delicada que a do PFL.

O PT e o PC chinês estiveram rompidos no início dos anos 90, depois que os petistas condenaram a repressão do Exército ao movimento estudantil pela democracia, na Praça da Paz Celestial. Na época, junho de 89, Luiz Inácio Lula da Silva, agora líder da comitiva petista, comparou o massacre à invasão do Exército à Companhia Siderúrgica Nacional, que deixou três mortos.

O reatamento teve que ser aprovado num congresso petista e, em 1994, a visita, que tem início oficial na terça-feira, começou a ser negociada.

Problemas de agenda provocaram sucessivos adiamentos e, quando tudo estava encaminhado, uma frase da prefeita Marta Suplicy, num seminário do PT sobre socialismo, em março, voltou a desagradar os chineses. Ela disse que o modelo chinês, que mistura abertura econômica a controle político, torna o país "pior do que os capitalistas".

Há 15 dias, em almoço na embaixada da China em Brasília, foram acertados os detalhes finais. A questão dos direitos humanos é especialmente sensível para a China.

Nas representações diplomáticas no Brasil, os folhetos não falam sobre o extraordinário crescimento econômico dos últimos anos, mas sobre a política oficial de direitos humanos, o Tibete (onde setores independentistas acusam o governo chinês de repressão) e a seita Falun Gong, alvo de uma ofensiva iniciada em 1999.

Por uma questão de imagem, o PT, um partido que conta com ex-maoístas entre seus dirigentes, tem que ressaltar a condenação aos aspectos antidemocráticos do regime chinês -o que não acontece com o PFL, por exemplo, integrante de um governo que nunca se pronunciou em termos duros em relação à China.

"Modelos distantes"
"A visita nada tem a ver com afinidade político-ideológica. São modelos distantes", disse Marco Aurélio Garcia, secretário de Cultura de São Paulo, que foi o principal negociador, em 94, da viagem petista.

O "exemplo" chinês que o PT afirma admirar é a independência do país frente à potência hegemônica, os Estados Unidos, e a capacidade do país de adotar medidas econômicas e posições internacionais "inteligentes, patrióticas", em defesa de seus interesses. "O governo chinês dá resposta à altura aos problemas da globalização", afirma o presidente do PT, José Dirceu.

"Os chineses preferem lidar com quem é governo, com os partidos da situação", avalia um diplomata. "A orientação é sobretudo pragmática. Eles têm em mente que Lula lidera as pesquisas e pode ser presidente." O PC chinês mantém relações oficiais com cerca de 400 partidos no mundo.

O secretário de Relações Internacionais do PT, Aloizio Mercadante, reforça a tese de que a visita tem caráter "institucional e de intercâmbio". "Vamos conhecer as experiências da China nos campos científico, tecnológico e agrícola, entre outros."

Ele diz que não vê como prejuízos eleitorais poderiam ser criados ao partido por visitar um país comunista. "Por que o PSDB pode ter uma relação com o PC chinês, e nós não? Na semana passada, uma delegação chinesa reuniu-se com tucanos", afirma.

A visita faz parte de uma ofensiva petista que já é um esboço do que o partido pretende defender na área de relações externas se chegar ao poder. A prioridade é estreitar relações com países latino-americanos e potências regionais como Índia, Líbia e África do Sul, ao mesmo tempo em que a relação com os EUA ganha contornos mais críticos.

O PT, que já esteve no México, deve visitar ainda Venezuela e países europeus.

As visitas de delegações partidárias costumam seguir roteiro semelhante ao da comitiva petista: Pequim (capital), Xangai (centro econômico e financeiro) e Xi'an (antiga capital imperial).

Integram a comitiva Lula, Dirceu (ambos com suas mulheres), o governador do Acre, Jorge Viana, o prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci, e os deputados federais Paulo Delgado (MG) e Jaques Wagner (BA), além de um assessor. A viagem é custeada pelo governo chinês e pelo PT.

O que poderá demonstrar o grau de importância que os chineses conferem à visita é o nível dos encontros que Lula terá. Os petistas apostam em uma reunião com o presidente do país, Jiang Zemin.


 

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