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14/07/2001 - 10h27

Fita sugere que Garotinho sabia de suborno

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da Folha de S.Paulo, no Rio

Fitas com conversas telefônicas grampeadas, às quais a Folha teve acesso, sugerem que o atual governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), teria participado de uma negociação para subornar um fiscal da Receita Federal em 1995, quando apresentava programas na rádio Tupi e na TV Bandeirantes.

Em conversa com o advogado Jonas Lopes de Carvalho Júnior, o governador questiona o que ele estava pensando em falar com o "cara" no dia seguinte. O governador não fala em valores nem em dinheiro, mas pergunta se Jonas pensou em "número".

Jonas Lopes responde que o contador Waldemar Linhares Duarte, que trabalhava para Anthony Garotinho, havia falado em "500 pratas". Garotinho autoriza a negociação.

Jonas é homem de confiança de Garotinho. Ao se tornar governador, em 1999, Garotinho o nomeou secretário-chefe de Gabinete Civil, cargo que ocupou até abril de 2000, quando foi indicado, também pelo governador, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado do Rio).

Jonas está até hoje no posto. Waldemar, o contador, é o atual diretor administrativo da Ceasa (Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro), órgão do governo do Estado.

A Folha teve acesso a dez fitas com conversas telefônicas grampeadas. Participam dos diálogos Garotinho, Jonas Lopes e o contador, além do advogado e ex-deputado Alexandre Farah. O "Jornal do Brasil" publicou ontem, em parte de sua edição, a transcrição de trechos das fitas.

Decisão judicial
A Folha recebeu ontem, às 19h10, um ofício da Justiça, assinado pelo juiz da 21ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes. No documento, o juiz determina que o jornal se abstenha de veicular quaisquer transcrições relativas ao caso.

À época em que as gravações foram feitas (1995), Garotinho estava sem cargo público, depois de disputar e perder, no ano anterior, o governo do Rio.

O caso de suposto suborno foi revelado na terça-feira pelo jornal "O Globo". Garotinho, sua mulher, Rosinha Matheus, e o conselheiro Jonas Lopes estão sendo investigados pela Receita Federal e pelo Ministério Público Federal.

O fiscal -identificado como Marcos Pereira de Azevedo, hoje lotado na delegacia da Receita em Nova Iguaçu- teria recebido dinheiro para autorizar, como determinava a legislação, sorteios de prêmios no programa "Show do Garotinho".

A empresa organizadora dos sorteios, a Garotinho Editora Gráfica Ltda. (registrada em nome de Rosinha e Jonas, mas que teve Garotinho como sócio), não tinha capital suficiente para distribuir os prêmios: dez carros e uma casa, no valor total de R$ 92 mil.

Para poder fazer os sorteios, o capital da empresa foi alterado de R$ 10 mil para R$ 190 mil na Junta Comercial do Rio, sem que isso constasse das declarações de Imposto de Renda dos sócios.

Receita Federal
Num dos diálogos, Garotinho pergunta a Jonas se ele achava que o assunto estava resolvido. Deixa claro que precisa da autorização para fazer promoções.

Ele tinha pressa em obter a autorização da Receita. Isso porque, no dia em que foi protocolado o primeiro pedido no Fisco, em 19 de maio de 1995, Garotinho já havia feito pelo menos três sorteios de carros sem o conhecimento da Receita Federal.


Folha Imagem
Anthony Garotinho, governador do Rio
Há ainda a denúncia da radialista Valéria Freitas, que trabalhava à época com Garotinho e hoje é produtora do Sistema Globo de Rádio. Segundo ela, um carro e a casa sorteados nunca foram entregues.

Garotinho acusa sua ex-assistente Valéria Freitas de ter tentado obter um emprego no Estado ou dinheiro para não fazer as acusações contra ele: "Ela foi demitida do meu programa porque desviava prêmios e dinheiro da venda de nosso livro de receitas".

O suposto suborno do fiscal aparece em uma das dez fitas, em diálogos com participação de Garotinho, Jonas e o contador Waldemar. Numa conversa com Jonas, o contador detalha seus entendimentos com o fiscal. Waldemar conta ao homem de confiança de Garotinho que o fiscal queria "grana".

Depois, Waldemar relata como abordou o fiscal, chamado Marcos. Conta que o chamou para "conversar", "falar em números". O fiscal, segundo o relato do contador, teria dito que faria o que sua consciência mandasse. O contador então pergunta ao fiscal da Receita o que poderia ser feito para evitar o "procedimento de acordo com a consciência". O fiscal diz que é necessário conversar.

Num diálogo com Garotinho, o contador dá a entender que o assunto foi resolvido. Volta a falar no "homem" e diz que ele "definiu". Segundo o contador, o "homem" havia dito que daria uma coisa naquele dia, mas não queria "mensalidade" e sim "um número definitivo".

Garotinho pergunta se o negócio fora aprovado. O contador responde que estava esperando e que o pessoal iria levar algo até o local em que se encontrava.

Em outro telefonema para o advogado Alexandre Farah, Garotinho diz que não valia a pena brigar com a Receita, porque os "caras" da Receita eram "bandidos".

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