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17/08/2001 - 03h32

Leia trechos inéditos do livro "O PT"

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da Folha Online

Leia trechos inéditos do livro "O PT", de André Singer, que faz parte da coleção Folha Explica e será lançado no dia 20 de agosto.

Introdução

"Ideologias à parte, quem viu garante que foi de arrepiar. São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 1980. O auditório do tradicional e elegante Colégio Sion estava abarrotado. Eram 242 delegados de 18 unidades da Federação e um número indefinido de militantes, de 400 a mil, que, embora não credenciados, acabaram sendo admitidos com direito a voz. As fotos mostram gente sentada nos corredores e em pé ao fundo da sala. Quando o secretário da mesa, composta em sua maioria de sindicalistas, chamou o crítico de arte Mário Pedrosa, 79, para assinar o Manifesto de Lançamento do Partido dos Trabalhadores (PT), a sala veio abaixo.

Pedrosa simbolizava o longo e tortuoso percurso que desembocava no encontro do Sion. Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na década de 20, o jovem intelectual do Rio de Janeiro parte para Moscou, onde deve frequentar o curso para formação de quadros na Escola Leninista. A caminho da capital soviética, faz uma parada em Berlim, cidade em que adoece e não pode seguir viagem. Na Alemanha, toma contato com as teses da oposição de esquerda na Rússia, liderada por Leon Trotski. Com a expulsão de Trotski do Partido Comunista da URSS em outubro de 1927, Pedrosa desiste de ir a Moscou, rompe em 1929 com o PCB e passa a organizar o trotskismo no Brasil.

No dia 7 de outubro de 1934, é ferido por um tiro na batalha campal que opôs a Frente Única Antifascista à Ação Integralista Brasileira na praça da Sé, em São Paulo. Na década de 40, depois de afastar-se de Trotski, Pedrosa adere por um período ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), agremiação que virá a ser extinta pelo golpe militar de 1964. Em 1971, o professor exila-se no Chile e, em 1973, na França. Quando volta ao país, em 1977, passa a acompanhar com interesse os sinais de que no ABCD paulista surge um novo sindicalismo. Publica na Folha de S.Paulo, em agosto de 1978, a "Carta a um Operário", dirigida a Luiz Inácio da Silva, o Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP). Nela, sugere a formação de um partido dos trabalhadores.

O velho socialista, que morreria no ano seguinte ao da criação do PT, teve a sorte de viver o suficiente para participar, na qualidade de homenageado, da realização do antigo sonho: ver surgir, no Brasil, um amplo partido de esquerda dirigido por operários. Além dele, outras cinco personalidades simbólicas foram convidadas a figurar como os primeiros signatários do manifesto que lançava o partido naquela manhã de verão. Assinaram o livro de fundação, depois extraviado, Manoel da Conceição, líder das Ligas Camponesas que levantaram o Nordeste antes de 1964; o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), autor do clássico "Raízes do Brasil"; a atriz Lélia Abramo, militante desde os anos 30 e presidente do Sindicato dos Artistas de São Paulo; o professor Moacir Gadotti, em nome do educador pernambucano Paulo Freire (1921-97), criador do método de alfabetização que leva o seu nome; e o oficial da reserva Apolônio de Carvalho, herói da Guerra Civil Espanhola e da Resistência Francesa."


Conclusão: Esquerda ou Centro-esquerda?

"Nascido para levar os trabalhadores ao poder, pela representação ou pela conquista hegemônica, o PT cumpre no Brasil o percurso típico dos grandes partidos operários europeus formados no século 19? Do ponto de vista científico, trata-se da principal pergunta sobre o Partido dos Trabalhadores.

Na experiência européia, tais partidos, de início, estão fora do sistema. São porta-vozes de uma classe que mal adquiriu o direito de voto, e, para quem está de fora, preservar as regras do jogo democrático tem papel secundário. O caminho é o da revolução.

À medida que decidem participar das eleições -e essa é a decisão fundamental-, começam a exercer parcelas de poder e, com isso, a defender desde dentro a causa dos trabalhadores. Adquirem interesse na preservação da legalidade democrática. A retórica muda, devagar, para não parecer que houve traição aos velhos princípios, da ênfase na revolução para a crença em reformas profundas e, depois, apenas reformas, o que não significa que deixem de existir diferenças significativas entre esses partidos e os conservadores.

A principal liderança do PT, Lula, nunca teve dúvidas em participar do jogo eleitoral. Criou o partido para isso. Desde 1982, o PT disputa as eleições. Ganhe ou perca, é sempre dos partidos que mais lança candidatos.

A participação levou os trabalhadores ao poder. Não na velocidade imaginada, nem ao poder central. Mas o partido tem no ano 2001 cerca de 3 mil membros com mandato no país, entre governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores. Só esses últimos são 2.485 em 2001. A máquina petista (cujo coração funciona no triângulo paulistano que une a sede do Diretório Nacional, perto da praça da Sé, o Instituto Cidadania, no Ipiranga, e a Fundação Perseu Abramo, na Vila Mariana) está longe de ser desprezível.

Cada parlamentar emprega certo número de assessores, a que o cargo lhe dá direito. As verbas de gabinete costumam ser generosas. Cada membro do Executivo nomeia secretários, os quais, por seu turno, dispõem de assessores e funcionários. São milhares de funcionários ligados ao partido."

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