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27/12/2001 - 08h18

BNB cobra empresário por projeto no Ceará

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KAMILA FERNANDES
da
O BNB (Banco do Nordeste do Brasil) cobra na Justiça R$ 36 milhões emprestados ao empresário Chhai Kwo Chheng em 1993, para a abertura da Yamacon Nordeste, uma fábrica de máquinas de costura, no Ceará.

Chinês naturalizado brasileiro, Chheng esteve preso na superintendência da Polícia Federal em São Luís, no começo de dezembro, sob a acusação de estelionato, fraude e formação de quadrilha durante sua passagem pelo Maranhão, entre 1995 e 1998.

A Yamacon Nordeste, sediada em Fortaleza e presidida por Chheng até 1998, também está sendo processada pelo BNB. Além das ações do BNB, há outros 20 processos tramitando no Tribunal de Justiça do Ceará contra a Yamacon e contra Chheng, a maioria movida por fornecedores da empresa.

Uma dívida de R$ 1,7 milhão deixada por Chheng não será paga pelo empresário. O BNB cobra a quantia de três costureiras que coordenaram uma cooperativa montada pelo chinês na região do maciço de Baturité, no interior do Estado.

Chheng e a Yamacon chegaram ao Ceará em 1991, pelas mãos do então governador tucano Ciro Gomes, hoje o único pré-candidato a presidente pelo PPS.

O chinês e sua empresa foram festejados pelo governo do Estado como exemplos de possibilidade de desenvolvimento e interiorização da indústria no Estado.

Incentivos fiscais
Além do empréstimo do BNB, o empresário conseguiu dez anos de incentivos fiscais do governo estadual e toda a infra-estrutura da fábrica, construída no município de Acarape (50 km de Fortaleza). Em 1993, Chheng formou um grupo de cooperativas de costureiras, denominado Kao Lin, que também contraiu empréstimos do BNB (R$ 5,3 milhões).

A Yamacon era a avalista das cooperativas. Dava como garantia do empréstimo as máquinas de costura produzidas pela própria Yamacon que as cooperadas comprariam para produzir roupas. Por contrato, a Yamacon Nordeste forneceria tecido e aviamento às costureiras e ficaria com toda a produção.

Desde o início, o grupo de cooperativas deu errado. As cooperadas não recebiam pagamento por seus produtos sob a alegação de que teriam primeiro de pagar dívidas contraídas com a Yamacon e a Kao Lin. A Yamacon também não pagava o BNB e fornecedores.

Em 1996, o secretário da Indústria e Comércio do Estado, Raimundo Viana -no cargo até hoje-, disse à imprensa cearense que os débitos da empresa eram consequência da "conjuntura nacional" e elogiou Chheng, um "empreendedor".

O TCU (Tribunal de Contas da União) considerou regular o empréstimo do BNB à Yamacon Nordeste e a empresa conseguiu renegociar sua dívida, em 1997. Ganhou uma nova carência de dois anos para começar a pagar, mas tornou à inadimplência. Antes, em 1995, Chheng conseguira do BNB mais R$ 3,1 milhões para implantar um pólo de confecções no Maranhão.

A chegada do empresário a São Luís foi incentivada pela governadora Roseana Sarney. Recém-empossada, ela foi apresentada a Chheng pelo secretário de Indústria e Comércio do Ceará do governo Ciro Gomes, Antônio Bahlmann, recém-eleito deputado federal.

A inauguração do pólo de confecções montado por Chheng no município de Rosário (MA) contou até com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Medo

Sem ter como pagar o R$ 1,7 milhão que o BNB lhes cobra, as costureiras Heloísa Maria de Queiroz, Maria Gorete da Silva e Antônia Aurília temem ser presas. "Não tenho dinheiro", afirma Heloísa Maria, funcionária de um convento de frades capuchinhos no município de Guaramiranga.

"Acho que a Yamacon é que deveria ser responsabilizada", diz ela, que ganha R$ 177,00 por mês.

Heloísa conta que foi convencida por Chheng a coordenar uma cooperativa. Pouco tempo depois, teria adoecido e deixado o empreendimento. Em 1999, descobriu que estava sendo processada.


 

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