Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/03/2002 - 13h41

Crianças entram no tráfico de drogas a partir dos 8 anos no Rio, diz OIT

Publicidade

RICARDO MIGNONE
da Folha Online, em Brasília

As crianças que trabalham no tráfico de drogas no Rio de Janeiro entram na atividade a partir dos 8 anos. De acordo com a pesquisa "O Emprego de Crianças e Adolescentes no Tráfico de Drogas na Cidade do RJ", 2,5% dos jovens entrevistados começaram a trabalhar no tráfico com esta idade e 5% disse ter começado aos 9 anos.

A pesquisa aponta ainda que 67,5% dos adolescentes até 18 anos que foram entrevistados entraram para o tráfico de drogas até os 13 anos de idade. Entre os jovens que trabalham no narcotráfico, 55% têm menos de quatro anos de estudo, portanto, abaixo da média brasileira que é de 6,4 anos.

A pesquisa foi desenvolvida pelo IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) sob encomenda da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

O IETS entrevistou 100 pessoas, entre julho e dezembro, sendo 50 delas empregadas no tráfico em 21 favelas -entre elas 40 crianças e adolescentes e dez adultos- cinco familiares, cinco policiais, dez técnicos do Poder Judiciário, cinco diretoras de escolas localizadas em favelas, cinco lideranças comunitárias e 20 adolescentes não empregados do tráfico (10 usuários de drogas e 10 não usuários).

Um dado curioso levantado pelo instituto é que 30% dos menores ligados ao tráfico entrevistados frequentam religiões neopentecostais, sendo a maioria da Igreja Universal do Reino de Deus. Entre as amizades, 75% estão também no tráfico.

De acordo com o estudo, 90% dos jovens que trabalham no narcotráfico consome maconha. Em segundo lugar no consumo aparece o haxixe, com 25%. A identidade com os traficantes é o principal fator de ingresso na atividade entre as crianças até 12 anos, seguido pela busca de "adrenalina" e pelo desejo de poder (consumo de bens, dinheiro, prestígio).

Entre os jovens acima dessa idade, o fator principal é a busca de poder, seguido da "adrenalina".

Os jovens que trabalham no tráfico responderam ainda que a condição principal para a contratação de menores de idade é o fato deles serem inimputáveis legalmente.

Para 27,5% dos entrevistados, os principais fatores para a permanência na atividade ilegal são o medo da ação dos policiais e dos grupos rivais. Entre os maiores temores das crianças e adolescentes envolvidos com o tráfico, o risco de morte foi apontado por 35% dos entrevistados, seguido pela extorsão policial com 30% e pelo risco de ser preso por 20%.

A pesquisa também quis saber quais fatores fariam com que a criança ou o jovem deixassem o tráfico de drogas. A maioria das crianças com menos de 12 anos apontou o fato de "guardar muito dinheiro" como o fator principal, seguido pelo fato de "apaixonar-se por uma pessoa honesta".

Entre os adolescentes com mais de 12 anos, que também apontaram "guardar dinheiro" em primeiro lugar, colocaram em segundo plano "arrumar um bom emprego".

Segundo Pedro Américo Furtado de Oliveira, coordenador do Programa para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, entre as sugestões que poderiam ser apontadas para eliminar o trabalho infantil no narcotráfico estão a criação de redes de proteção social (auxílio familiar, renda mínima e geração de emprego) e o desenvolvimento de atividades que possam atrair as crianças e jovens, como esportes, cultura e lazer.

A pesquisa da OIT foi realizada em mais 19 países e faz parte de um conjunto de 38 estudos sobre as piores formas de trabalho infanto-juvenil.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página