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17/07/2000 - 19h39

Análise: Barbosa Lima Sobrinho e o jornalismo

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Rosemary Bars Mendez

O contato com a história do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, quando comemorou um século de vida, em 1997, possibilitou a reflexão inicial sobre a história do jornalismo no Brasil, contada por ele em seu livro "O Problema da Imprensa".

Publicado pela primeira vez em 1923, revisado na segunda edição publicada em 1988 pela Universidade de São Paulo, suas reflexões sobre a imprensa são apontadas como ponto de análise para quem se debruça para entender o desenvolvimento e transformações registradas sobre o tema.

Nesse trabalho, o autor desponta como um dos pioneiros na análise sobre o papel da imprensa no Brasil contemporâneo.

Essa é mais uma entre as várias heranças que Barbosa Lima Sobrinho deixa para nós: um conhecimento solidificado ao longo do século, respaldo por ações que demonstraram a coerência de seu pensamento. Sua história de vida nos ensina como um jornalista deve ser crítico, fazer análises sobre os acontecimentos nacionais, sempre com a perspectiva de que é o leitor quem tem o direito à informação.

Barbosa Lima Sobrinho estudou a atuação jornalística no Império e as questões do jornalismo em sua época, geralmente panfletário e polêmico, com mais espaço para as opiniões do que para as notícias, mas permanentemente acossado pelo governo com leis de exceção e de censura.

Como profissional, criticou o processo industrial, por inverter as prioridades por ele traçadas: a imprensa, mais do que informar, deve formar opiniões, o que significa deixar de lado a objetividade e a neutralidade, pregada pelo jornalismo contemporâneo.

O pensamento de Barbosa Lima Sobrinho sempre foi respaldado pelas linhas teóricas do positivismo, do liberalismo político e do nacionalismo para a economia. Liberdade e democracia foram as palavras que cercaram sua infância e moldaram sua vida. Conviveu com os anseios jacobinos, herdados da Revolução Francesa, expurgando a interferência estrangeira nos rumos do País.

Como presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) sempre reclamou pelos direitos dos cidadãos, por sua liberdade de expressão, principalmente na mais dura época vivida no Brasil: a ditadura militar. Sua tendência política foi a nacionalista, como a de alguém que quer proteger sua nação com princípios baseados em reformas concretas.

Com essa postura, foi simpatizante de Getúlio Vargas, participando de sua administração e recebendo apoio político para sua campanha ao governo de Pernambuco, à Câmara Federal e para presidir o Instituto de Açúcar e Álcool.

Assistiu, não como um mero espectador, mas como um articulista atuante, as oscilações governamentais, às decisões políticas e econômicas que foram tomadas durante todos esses anos. Como presidente da ABI, entidade onde pôde demonstrar suas convicções sobre a liberdade de expressão, candidatou-se a vice-presidente da República, em 1974, ao lado de Ulisses Guimarães.

Atuou como líder em várias campanhas contra o regime militar e se destacou no movimento nacional pelas Diretas-Já, em 1984, quando milhões de pessoas foram às ruas conclamando por eleições.

Foi o primeiro a aderir ao impeachment de Fernando Collor e foi um crítico ao programa de privatizações defendido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desenvolvimento da imprensa no Brasil para Barbosa Lima Sobrinho não foi apenas uma questão econômica, mas de liberdade, um progresso conquistado pelo jornalismo, não em sua modernidade e transformação técnica, mas nas idéias.

Acreditando no potencial da imprensa em formar a opinião pública, Barbosa Lima Sobrinho atribuiu à imprensa o papel de ajudar a estimular o desenvolvimento do País, defender a poupança interna, os interesses nacionais, dar estímulos ao capital nacional, contra a especulação estrangeira.

Barbosa Lima sempre defendeu que o jornalista deve ser o tradutor, o profissional que apresenta as informações mastigadas, diluídas, compreensíveis ao público leitor. Deve tirar dos especialistas o mistério de um saber, algumas vezes hermético, para que suas idéias sejam conhecidas, transformando o jornal num simpósio, permanentemente, aberto ao debate público.

O legado de Barbosa Lima Sobrinho é rico em informações, não apenas para os jornalistas que atuam nas áreas política e econômica, mas para nossos próprios dirigentes, que devem prestar atenção às suas palavras, perpetuadas, agora, em sua memória.

Rosemary Bars Mendez é chefe de redação do "Jornal de Piracicaba". Defendeu, em março de 1999, dissertação sobre o jornalismo tendo como base as teorias defendidas por Lima Sobrinho ao longo do século.

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