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07/08/2002 - 09h45

Pitta diz que faz "campanha pobre" a deputado e elogia Paulo Maluf

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MILENA BUOSI
da Folha Online

Candidato a deputado federal, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (PSL), 55, reclama da falta de recursos em sua campanha e diz que recebe a ajuda de amigos e ex-colaboradores para ser eleito. O ex-pupilo de Paulo Maluf (PPB) admite que o pepebista é "um candidato de peso" ao governo de São Paulo, mas afirma que não encontra o ex-padrinho político há três anos. "Nossa relação está congelada", diz.

O economista afirma ter verificado em sua campanha "corpo-a-corpo" que, quem vota em Maluf para governador e Ciro Gomes (PPS) para presidente, "manifesta apoio a Pitta para deputado".

Pitta deixou a Prefeitura de São Paulo em 2000, com 81% de reprovação popular, segundo o Datafolha. Foi alvo de denúncias de corrupção, sofreu ataques da ex-mulher e ficou 19 dias afastado da administração.

O ex-prefeito, que está com as contas bloqueadas na Justiça desde 1997, diz que "deu a volta por cima" e que o eleitorado, principalmente o feminino e o de classes baixas, está reavaliando a opinião sobre sua gestão.

Em relação às classes mais altas, Celso Pitta aconselha a leitura do seu livro "Política e Preconceito - A História e a Luta do Prefeito que Enfrentou os Poderosos", onde faz a defesa de sua trajetória política (o livro custa R$ 19,50).

O candidato disputa o cargo por um partido "nanico", que não possui coligação e tem como candidato a governador Roberto Siqueira Campos. Pitta, que estima que os nove candidatos do PSL precisam de um total 250 mil votos para que um seja eleito, é o cabeça de chapa do partido, com número de candidatura 1700. O valor máximo de gasto na campanha, segundo registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é de R$ 700 mil.

Celso Pitta espera receber o apoio do eleitorado concentrado na periferia, onde, segundo ele, os resultados de sua gestão tiveram maior êxito. "O pessoal lá na periferia reconhece o meu trabalho". Também afirma que busca o apoio de religiosos e não-religiosos, de evangélicos a umbandistas. O ex-prefeito é católico.

Se eleito, promete lutar pela comunidade negra. Leia trechos da entrevista exclusiva à Folha Online:

Folha Online - Como está a campanha para deputado?

Celso Pitta - Tenho percorrido diariamente a periferia de São Paulo, onde reside o grosso do meu eleitorado. Além do trabalho corpo-a-corpo, fazemos reuniões com líderes locais, palestras, participamos de entrevistas. Concentro o trabalho na capital.

Folha Online - Qual o perfil do seu eleitorado?

Pitta - É o pessoal da periferia, das classes mais humildes. Tenho um eleitorado feminino muito grande. No geral são vinculados ou simpatizantes do PPB e PPS. O pessoal vira e fala: "Eu vou votar no Ciro (PPS), vou votar no Maluf (PPB)", e vemos que há uma simpatia desse eleitorado pela minha candidatura.

Folha Online - Seria por que a imagem do senhor está muito ligada a Paulo Maluf?

Pitta - Eu não sei se essa é a resposta. Sei que o perfil das pessoas que declaram espontaneamente o voto é esse.

Folha Online - Qual é a relação do senhor com o ex-prefeito Maluf?

Pitta - É uma relação congelada. Está congelada há três anos. A última vez que encontrei com ele foi no velório do Calim Eid [tesoureiro das campanhas de Maluf, morto em acidente de carro em 99]. Somos educados, nos cumprimentamos. Mas o negócio está congelado.

Folha Online - Maluf é um bom candidato ao governo?

Pitta -As pesquisas dizem, né?

Folha Online - E na opinião do senhor?

Pitta - Eu vejo, desses que estão aí, sendo ele um candidato de peso. Mas o meu partido, o PSL, tem o seu candidato, o Roberto Siqueira.

Folha Online - E em um eventual segundo turno entre Maluf e Geraldo Alckmin (PSDB)?

Pitta - É uma decisão que vou seguir orientação do partido.

Folha Online - Em quem vai votar para presidente?

Pitta - Estou em dúvida entre Ciro e Garotinho. Por exclusão, não votaria nem no Lula nem no Serra, por razões conhecidas. Não sou simpático a um governo de esquerda nos moldes do PT. Segundo, porque com relação a José Serra, não vejo qualidades. Eu debati com ele nas campanhas para a prefeitura em 96 e ele perdeu. Nem passou para o 2º turno.

Folha Online - Quantos votos o senhor calcula para ser eleito?

Pitta - O coeficiente eleitoral que definirá a eleição do primeiro candidato de um partido é avaliado em 250 mil votos. Eu e outros candidatos do PSL temos que obter 250 mil no total para eleger um da nossa legenda [são nove candidatos a deputado federal pelo partido].

Folha Online - O senhor acredita que tenha quantos votos? Fez alguma sondagem?

Pitta - Eu trabalho com o maior número de votos possível. A minha avaliação subjetiva é muito boa, mas não tenho quantificação. Número em eleição é mais difícil que acertar na loteria.

Folha Online - Por que sua campanha é voltada para a periferia?

Pitta - Meu trabalho como prefeito foi direcionado para a população mais humilde e mais pobre, como a construção de 138 escolas _quase todas na periferia_, projetos habitacionais como o Cingapura e o Lote-legal, que regulamentou a situação fundiária de ocupantes de lotes anteriormente irregulares. Foram 110 mil lotes. Não foi acompanhado pela imprensa na época mas o pessoal lá reconhece.

Folha Online - As escolas, por exemplo, foram alvos de críticas. Foram chamadas "escolas de lata"...

Pitta - É, mas o que ouço dizer é que "hoje meu filho está na escola". Se ela é de alumínio ou de metal, depois vamos melhorar, mas antes não tinha escola. Hoje tem escola. Algumas que estavam praticamente concluídas, não foram. Uma coisa é o que o PT fala, outra é o que você ouve a população dizer e avaliar.

Folha Online - Sua gestão foi muito polêmica, com denúncias de corrupção, houve processo de impeachment, a máfia da propina. Como esses escândalos vão refletir na sua candidatura?

Pitta - Ponto a ponto, estão colocadas no livro que lancei. Essa é a razão pela qual decidi redigir o livro, que dá ponto a ponto a resposta e a verdade dos fatos desses casos polêmicos. Se você sortear qualquer um desses pontos, você vê que o tempo está mostrando a verdade em cada um deles.

Folha Online - Como o senhor avalia sua candidatura entre os eleitores das classes A e B?

Pitta - Nas classes mais altas existe a necessidade de informação, que só vou conseguir à medida que a campanha vá crescendo. A primeira providência que tomei em relação a esse segmento foi escrever o livro.

Folha Online - Quanto o senhor vai gastar na campanha?

Pitta - O partido definiu um teto de R$ 700 mil para cada candidato a deputado federal, mas a minha campanha é uma campanha pobre. Eu não tenho tido muito recurso por parte de doadores. Estou fazendo esse trabalho de corpo-a-corpo como sendo o forte da minha campanha. Se depender de dinheiro, não vai ter dinheiro para a campanha mesmo.

Folha Online - Quem são os doadores da sua campanha?

Pitta - São amigos, pessoas físicas, muitos são ex-colaboradores, amigos do meu círculo de amizade que se prontificaram a dar sua contribuição.

Folha Online - Amigos que foram feitos durante a administração?

Pitta - Ah, querida, não tenta distorcer o que eu estou falando. Olha, a prestação de contas tanto minha quanto dos demais candidatos será feita de acordo com a Legislação Eleitoral. Não há por que intuir que eu tenha usado qualquer relacionamento da prefeitura para obter doação de campanha. Estou sem dinheiro para a campanha, se você quer saber.

Folha Online - Mesmo sem dinheiro para a campanha é possível ser eleito?

Pitta - Eu trabalho no corpo-a-corpo. Estou indo às ruas. Conto, claro, com o horário eleitoral gratuito. É a oportunidade dos candidatos duros que nem eu para ter votos.

Folha Online - Os bens do senhor ainda estão bloqueados...

Pitta - Exatamente.

Folha Online - E como é que o senhor está fazendo para pagar as contas?

Pitta - Primeiramente tenho meu trabalho profissional de economista. Desde que deixei a prefeitura voltei a trabalhar como consultor financeiro, consultor econômico, e é disso que estou vivendo. Faço aqui no escritório do professor Edvaldo Brito [ex-secretário dos Negócios Jurídicos]. Não tenho dinheiro para campanha e estou repousando nas doações espontâneas de pessoas físicas, que acreditam no Pitta e acham que devo continuar a fazer o trabalho que fazia como prefeito, para deslanchar essa campanha que ainda não está deslanchada.

Folha Online - Em outdoors, o senhor aparece ao lado do deputado De Velasco, que é pastor da Igreja Universal. Há intenção em buscar votos de evangélicos?

Pitta - A intenção é buscar votos de todos os segmentos, religiosos, não religiosos, evangélicos, católicos, umbandistas, espíritas, todos os segmentos. É o meu objetivo. O fato de estar fazendo a dobrada com o De Velasco, primeiro porque foi ele quem me convidou para ir para o PSL.

Folha Online - Qual será a estratégia na TV?

Pitta - Mostrar as propostas de trabalho e, na medida do possível, tentar estabelecer uma comparação do que falaram do Pitta e do que é a realidade do governo Pitta. Coube ao PSL e seus deputados 32 segundos por vez. Dá para se dizer mais do que "meu nome é Pitta".

Folha Online - Quais seus principais projetos, se eleito?

Pitta - Primeiro não é aceitável que o povo paulista seja discriminado pelo governo federal na destinação de verbas orçamentárias como aconteceu na prefeitura como o PAS. Segundo, lutar pela municipalização da segurança. O terceiro ponto é lutar por ações afirmativas para a comunidade negra, defendendo, ampliando e fiscalizando a política de cotas nas universidades e mercado de trabalho.

Folha Online - O que o senhor acha da Secretaria da Segurança criada pela atual prefeita, Marta Suplicy (PT)?

Pitta - É uma criação absolutamente desnecessária e política. Não era necessário criar uma secretaria antes da segurança ser municipalizada.

Folha Online - Se eleito, o senhor acredita que será melhor deputado que prefeito?

Pitta - Essa avaliação de Pitta como prefeito aos poucos está sendo revista pela cidade. Um ano e meio depois, intuitivamente a população já faz uma outra avaliação do Pitta. E se formos comparar setor por setor, a gente vê que estava muito melhor antes que agora. Na educação, eles reduziram atualmente o compromisso de destinar à área 30% do orçamento para 25%. O setor de transporte está em uma situação desorganizada. O de saúde nem se fala, porque desativaram o PAS e não colocaram outro sistema de saúde no lugar. Não é uma avaliação subjetiva, é fruto das andanças que faço pela cidade.

Leia mais:

  • Conheça a trajetória e o processo de impeachment de Pitta
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