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01/01/2003 - 17h18

Lula recebe faixa presidencial das mãos de FHC

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da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a faixa presidencial das mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso no parlatório do Palácio do Planalto. Depois da transmissão, ambos ouviram o Hino Nacional. Após 40 anos, essa é a primeira vez que um presidente eleito passa a faixa a um sucessor também eleito pelo voto direto.

Os óculos de Fernando Henrique caíram quando ele passou a faixa presidencial a Lula. O próprio petista se abaixou para pegar os óculos e devolvê-los a FHC enquanto recebia a faixa do antecessor.

Uma inovação da cerimônia foi a tradução simultânea do hino brasileiro para a linguagem dos surdos-mudos, feita por uma mulher presente no parlatório. O hino foi executado pela banda da Guarda Presidencial, logo depois da troca de faixa.

Discurso
Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso de 42 minutos no Congresso Nacional, reafirmou compromissos de combate à fome e às questões sociais. Ele também criticou o modelo econômico adotado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que terá como uma de suas prioridades o combate à corrupção e à impunidade.

Lula iniciou o discurso com a palavra "mudança". Segundo o petista, a palavra-chave de sua gestão. Para ele, a sua eleição e a de seu vice, José de Alencar (PL), expressam a vontade de mudança da sociedade brasileira.

"Essa foi a grande mensagem da sociedade brasileira. A esperança finalmente venceu o medo e a sociedade decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos."

Lula criticou o modelo econômico de Fernando Henrique e comprometeu-se a aprovar as reformas Previdenciária, Tributária, Trabalhista, Política e Agrária.

"Diante do esgotamento de um modelo que produziu estagnação, desemprego e fome e fracasso da cultura do individualismo e indiferença perante o próximo e desesperança da família, precariedade da segurança nacional e desrespeito aos mais velhos e desalentos aos mais novos, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou ela mesma a promover a mudança necessária", disse.

O presidente disse que mudanças que pretende fazer no país serão "continuadas", sem "atropelos" ou "atos voluntaristas".

Paciência
Lula pediu paciência e perseverança à população e afirmou que será preciso "manter sob controles as ansiedades sociais", para que elas sejam atingidas no prazo justo. Ele convocou a sociedade brasileira a formar um mutirão cívico contra a fome.

"O Brasil proclamou a independência e a abolição da escravatura, mas não acabou com a fome (...) industrializou-se e adquiriu um moderno parque industrial, mas não venceu a fome. Isso não pode continuar assim. Enquanto houver um irmão brasileira ou uma irmã brasileira passado fome teremos motivo de sobra para nos cobrir de vergonha."

Corrupção
O presidente frisou no discurso que o combate à corrupção, à impunidade e à cultura da impunidade serão prioridades em seu governo.

"Vamos combater a corrupção e enfrentar com determinação a cultura da impunidade que prevalece em certos setores. Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência", disse ele, que foi aplaudido pelos presentes à sessão.

Inflação
Lula ressaltou, durante a cerimônia de posse, compromissos no combate à inflação. Segundo ele, isso não vai impedir o país de crescer, mas o crescimento deverá observar a responsabilidade fiscal e a defesa da moeda nacional.

"Vamos criar as condições macroeconômicas para que haja crescimento sustentável responsável, além de fazer um combate implacável à inflação", afirmou o presidente.

Política externa
Luiz Inácio Lula da Silva disse que pretende reafirmar em seu governo a soberania brasileira e mostrar ao mundo "a que o Brasil foi criado". "Essa nação que se criou sobre o céu tropical tem que dizer a que veio afirmando a sua presença soberana e criativa no mundo", disse.

Para Lula, não deve haver hegemonia de nenhum país no cenário internacional. Ele destacou que o principal compromisso do Brasil será com os países da América do Sul. "A democratização das relações internacionais, sem hegemonia de qualquer espécie é importante para o desenvolvimento da humanidade", afirmou.

Ao comentar a crise no Oriente Médio, Lula foi aplaudido longamente pelos convidados. Lula disse que decisões do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) devem ser seguidas por todos os países e que a crise no Oriente precisa ser resolvida de forma pacífica.

"Crises como a do Oriente Médio devem ser resolvidas de forma pacífica e com negociação', disse o presidente. As afirmações levaram os convidados a gritar palavras de apoio a Lula e garantiram mais aplausos do que as declarações do presidente sobre temas como a fome no Brasil.

Em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Lula afirmou que lutará por regras mais justas e que beneficiem o país. "O Brasil combaterá o protecionismo e lutará pela eliminação de barreiras e tratará de obter regras mais justas e adequadas a um país em desenvolvimento", afirmou.

O presidente Lula afirmou ainda que todos os acordos de sua política externa terão como objetivo o bem-estar do povo brasileiro. "O ser humano é resultado último das negociações, não adianta firmar acordos que não se transformem em benefícios para o nosso povo."

Restabelecer as negociações do Mercosul e lutar pela aproximação e desenvolvimento dos países do Continente será prioridade do novo governo. "A grande prioridade de política externa será a construção de uma América do Sul estável politicamente e desenvolvida. Para isso, devemos revitalizar o Mercosul, enfraquecido pelos seus próprios membros", disse.

Violência
A violência também foi tema do discurso de Lula que associou o problema à diminuição das diferenças entre as classes sociais. "Inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal unido com os governos estaduais em uma política determinada pela nossa segurança pública."

O presidente afirmou que pretende reprimir violência e reduzir a criminalidade nas cidades. "Se conseguirmos andar em paz nas ruas e casas, daremos extraordinário impulso de construir convívio respeitoso com as diferenças."

História e Deus
Ao terminar o discurso, Luiz Inácio Lula da Silva citou sua história como exemplo para o país. "Cada um de nós brasileiros sabe que o que fizemos não foi pouco mas que podemos fazer muito mais. Como eu, por exemplo, que saí de menino pobre que vendia amendoim, que se tornou torneiro mecânico, líder sindical e fundou o Partido dos Trabalhadores, e assume agora o posto de supremo mandatário da nação. Vejo que nós podemos muito mais."

Lula pediu para que o povo brasileiro acredite mais em si e que tenha disposição para fazer mudanças. "Estamos começando uma nova história, como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente ao mundo como nação de todos, de raça, de etnia, de crença. Este é o país do novo milênio por sua riqueza cultural, amor a natureza, competência intelectual, pelo calor humano, mas sobretudo, pelos dons e poderes de seu povo."

O presidente encerrou seu discurso dizendo que "estamos vivendo hoje o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo", e agradeceu a Deus por chegar onde chegou hoje, assumindo a presidência do Brasil.

Além disso, adaptando uma antiga frase cristã, o presidente pediu a Deus "sabedoria para governar, discernimento para mudar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para se unir a cada cidadão no dia-a-dia dos próximos quatro anos."

Veja também o especial Governo Lula
 

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