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11/01/2003 - 06h33

FHC diz que poupará Lula de críticas durante um ano

ALCINO LEITE NETO
da Folha de S.Paulo, em Paris

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que vai se abster durante um ano de fazer críticas ao governo Lula. "Um ano é o tempo necessário para saber o que um governo vai ser. Um homem político tem de ter a prudência de calar, por responsabilidade para com o país. Além disso, existem as surpresas. Quem imaginaria, há seis meses, que Lula viria a fazer o que está fazendo agora? Então vamos esperar", disse ontem, em almoço com jornalistas em Paris, onde passa férias.

Sobre o que Lula fez até agora, FHC tem uma avaliação positiva. Segundo o ex-presidente, o essencial para quem entra no governo é evitar duas grandes "borrascas": a que vem do setor financeiro e a que chega da área social. A primeira parece provisoriamente contida pelo novo governo. "E quanto à área social, ao contrário do que o PT pregava, as coisas estavam e estão calmas", afirmou.

O ex-presidente calcula dois grandes problemas para o governo Lula: enfrentar uma tempestade financeira internacional, caso ocorra uma guerra contra o Iraque, por exemplo, e convencer os seus partidários do PT de que reformas sociais como a da previdência e a tributária, defendidas por FHC, são necessárias.

"A agenda [das reformas] não era minha, é do país. O PT levou mais tempo para compreender a nova dinâmica do mundo porque não tinha interesse político em compreender. Eles tinham que disputar conosco, dizer que nós estávamos errados e que eles estão certos." O ex-presidente lamenta que o PT não tenha apoiado as reformas que ele propôs. "Mas não foi só PT quem se opôs. Foi uma maioria que não quis fazê-la e usou a argumentação do PT para recusá-la", declarou.

Na sua avaliação, Lula tem agora boa oportunidade de pôr em prática as mudanças na Previdência porque, primeiro, a questão amadureceu, e, segundo, o PT tem mais controle sobre os sindicatos e outros setores que foram no passado contra ela. "Se ele convencer esses setores, eu aplaudirei, porque acho que são mudanças boas para o Brasil." Ele aconselhou o novo presidente a reformar a previdência o quanto antes. "A força dos presidentes diminuiu com o tempo", afirmou.

Para FHC, não há um problema ideológico dividindo o PSDB e o PT. O que existe é apenas uma disputa de poder. "Tudo foi apresentado sobre a forma ideológica, mas é um problema de hegemonia política, de saber quem manda. Mas nós (do PSDB) temos a hegemonia cultural. Tanto é assim que eles (do PT) não conseguem virar a página."

O exercício do governo vai colocar um desafio crucial ao partido de Lula, segundo o ex-presidente. "Precisamos ver se o PT vai conseguir governar e se, ao governar, não irá se desfigurar. Antes, eles puderam ser do contra porque faziam isso em nome de uma utopia, de uma ruptura. Como vai ser agora, quando um partido da ruptura será obrigado a conduzir um processo?", pergunta.

Ele não descarta uma coligação do PSDB com o PT. "Depende de como funcionará o PT nos próximos anos." Mais provável, porém, é uma disputa entre os dois partidos, que ele caracteriza como as duas novas forças políticas no Brasil, rivalizando "para saber quem conduz a nova época". FHC planeja trabalhar no reforço da consistência doutrinária do PSDB e contribuir para que ele possa voltar ao Planalto mais adiante. "Mas não podemos ser do contra-contra, como foi o PT, porque aí perdemos. Precisamos refletir como seria uma oposição que não seja contra o Brasil."

FHC diz o que poderia opor o PSDB ao PT. Por exemplo, se os novos dirigentes começarem a "andar para trás" em certos avanços. "Querem Fome Zero? Tudo bem. Mas não é possível voltar com a distribuição de cestas, como no passado. O PSDB não fará oposição ao que for uma continuidade do seu próprio governo. Mas, evidentemente, se o PT trouxer uma boa novidade, também não há porque fazer oposição."

FHC diz que não pensa em se candidatar novamente. Para Lula, FHC só tem elogios pessoais: "Ele nunca fez jogo baixo comigo, nem eu com ele. Conversamos muito, com muita abertura e franqueza".

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