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11/01/2003 - 07h11

No Recife, emprego é principal pedido a Lula

ELIANE CANTANHÊDE
FÁBIO GUIBU

da Folha de S.Paulo, em Recife

Numa visita simbólica e de apenas meia hora, sem discursos, mas com muito suor, gritos e empurra-empurra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva meteu os pés na areia molhada para visitar ontem barracos da favela de palafitas Brasília Teimosa, em Recife.

Em clima de campanha, não de Presidência, prometeu à moradora Erinalda Maria da Silva, 37, que iria remover as famílias do local. "Não vou desiludir o povo que me deu um voto de confiança", disse.

Foi a segunda vez depois de eleito e a primeira depois de empossado que o presidente esteve em seu Estado natal, Pernambuco. Estava acompanhado de 28 ministros que se embolaram, alguns de forma constrangida, com os populares que romperam os cordões de isolamento.

O ministro mais assediado foi Gilberto Gil (Cultura), mas a curiosidade ficou por conta de Antonio Palocci Filho (Fazenda), chamado de "médico" ou "doutor" e o preferido das crianças. Raquel, 5, ganhou colo e um beijo. Quando a Folha lhe perguntou quem era ele, respondeu direitinho: "O Palocci".

Ciro Gomes (Integração Nacional) também foi muito abordado e deu alguns autógrafos. Depois de receber o seu, o jovem Gustavo, 16, lamentou: "E a Patrícia [Pillar], não vem?".

Na outra ponta, Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) estava desconfortável e suado, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recém-chegado de Londres e com os sapatos sujos e molhados, passava praticamente incógnito. Para José Dirceu (Casa Civil), velho militante de esquerda, a visita "foi um banho de realidade" para todos eles.

Sem água nem esgoto
Lula chegou a Recife às 15h55, foi recebido pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB e eleitor de José Serra) e pelo prefeito de Recife, João Paulo (PT). Da Base Aérea, rumou direto para as palafitas, num percurso de 5 quilômetros, com 14 batedores da PM.

Ali vivem 561 famílias, a maioria de pescadores artesanais e empregados domésticos à beira do mar, sem água nem esgoto, com energia clandestina e sujeitos à maré e a enchentes. A escolha do local foi cuidadosa: as palafitas de Brasília Teimosa equivalem a outras 150 espalhadas pelo país, mas com a peculiaridade de serem numa cidade administrada pelo PT e no Estado natal de Lula.

A miséria da área, porém, não é maior nem mais chocante do que a de qualquer favela de São Paulo e demais capitais. Na entrada das palafitas, por exemplo, há duas escolas particulares, uma de alfabetização (mensalidade de R$ 20) e outra até a quarta série (R$ 40).

Tudo foi programado para Lula visitar uma só casa, a de Erinalda Maria da Silva, desempregada há um ano e encarregada por amigos e vizinhos de entregar um bolo de cartas para o presidente. Acabou visitando três, acompanhado só da ministra Benedita da Silva (Assistência Social) e do prefeito petista João Paulo.

Pedidos de emprego
Lula recebeu pedidos diversos, mas o principal deles foi de emprego e da transferência da comunidade para um local mais seguro. Fome, explicitamente, não foi um tema recorrente.

Uma das exceções foi o pedreiro Gil Nogueira de Moura, 43, seis filhos e uma afilhada, que comprovou pela Carteira de Trabalho que está desempregado há quase dez anos, vivendo de biscates e da ajuda dos vizinhos. Na quinta-feira, diz que comeu um pacote de macarrão doado pelos vizinhos e, ontem, cuscuz (fubá de milho com água) e café. "Mesmo passando necessidade, nunca tirei nada de ninguém. E não quero comida, quero emprego", disse Moura.

Reduto do peemedebista Jarbas Vasconcelos -que ontem foi vaiado na saída- o bairro sediou o comitê central do tucano José Serra no Estado durante a campanha eleitoral. No final, porém, o placar foi favorável a Lula. No segundo turno, ele teve 4.613 votos no bairro, e Serra, 2.850.

Veja também o especial Governo Lula
 

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