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05/02/2003 - 07h24

Banestado em NY "lava" dinheiro de corrupção

da Folha de S.Paulo

O esquema de lavagem de dinheiro por meio da agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná, privatizado em outubro de 2000) em Nova York, que movimentou US$ 30 bilhões entre 1996 e 1999, foi utilizado para "esquentar" dinheiro dos principais casos de corrupção brasileiros da década de 1990.

Pela agência passaram recursos provenientes do esquema PC Farias, das negociações irregulares de títulos públicos para pagamento de precatórios (dívidas judiciais), das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo e do superfaturamento de obras viárias da Prefeitura de São Paulo durante a gestão Paulo Maluf (1993-96).

A agência também foi utilizada para a remessa ilegal de recursos ao exterior feita pela fraudadora do INSS Jorgina de Freitas, pelo suposto contrabandista de Mato Grosso João Arcanjo Ribeiro e pelos fiscais do Rio de Janeiro acusados de extorquir dinheiro de empresas, que têm US$ 36 milhões depositados na Suíça.

Segundo a Folha apurou, todos os esquemas de corrupção utilizaram-se dos mesmos doleiros, "laranjas", bancos e contas CC5 (de não-residentes) para "lavar" parte do dinheiro que desviaram.

As operações da agência de Nova York do Banestado foram investigadas por uma equipe da Polícia Federal chefiada pelo delegado José Francisco de Castilho Neto, que conseguiu a quebra de sigilo bancário de todas as suas contas. Os dados permitiram a confecção de um mapa da lavagem de dinheiro no Brasil, guardado sob sigilo pela PF.

Sob a alegação de falta de recursos, a Polícia Federal não concluiu o rastreamento das contas no ano passado. Agora, avalia a possibilidade de enviar outra equipe a Nova York para que ela conclua o trabalho de rastreamento.

Caminho do dinheiro

Contas de "laranjas" foram abertas em todo o país para receber os recursos que seriam enviados ilegalmente ao exterior. Os "laranjas" sempre são pessoas pobres que não teriam condições de movimentar o dinheiro que passou em suas contas.

Doleiros, distribuidoras de títulos mobiliários e empresas abasteceram as contas dos "laranjas", que serviam apenas para transportar o dinheiro até Foz do Iguaçu (PR), de onde ele era remetido ao exterior por meio de contas CC5, geralmente abertas em nome de bancos ou casas de câmbio paraguaias.

Depois de passar pela fronteira, os recursos eram enviados a contas de doleiros abertas na agência do Banestado de Nova York.

Nos Estados Unidos, o dinheiro era distribuído para contas de narcotraficantes, de contrabandistas, de políticos corruptos e de empresários sonegadores de impostos, abertas em paraísos fiscais na Europa e no Caribe.

Geralmente essas contas não estão em nome dos verdadeiros donos do dinheiro "lavado". Costumam ser numeradas, ter nomes fantasias ou estar em nome de empresas "offshore" -com ações ao portador e sede virtual em paraísos fiscais, que não têm registro sobre seus proprietários.

Uma CC5 do Interbanco (filial paraguaia do extinto Banco Nacional) foi utilizada para a remessa de dinheiro do esquema PC e do TRT. A Split Distribuidora de Valores Ltda., que pertencia ao empresário Enrico Piccioto, foi um importante canal dos recursos da obra do TRT, do esquema dos precatórios e até das verbas públicas desviadas na construção das obras viárias contratadas pela Prefeitura de São Paulo.

Banestado

Giovani Gionédis, ex-secretário da Fazenda do Paraná e ex-presidente do Conselho de Administração do Banestado, diz que suspeitas envolvendo a agência de Nova York e o Banco del Paraná (filial paraguaia do Banestado) eram assunto corrente.

Ele afirma que o banco não pode ser responsabilizado pelas operações de lavagem de dinheiro que seus clientes realizaram. Diz que o Banestado em Foz do Iguaçu e o Banco del Paraná foram usados por operarem na fronteira com o Paraguai.

A agência do Banestado em Nova York foi fechada em 1999, após surgirem as primeiras suspeitas de que ela era usada para operações de lavagem de dinheiro.
 

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