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07/05/2003 - 07h14

30 são suspeitos de usar loteria em lavagem

ANDRÉA MICHAEL
SILVANA DE FREITAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A malha fina do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) capturou, em quatro relatórios concluídos em abril, 30 campeões em prêmios nas loterias federais, que receberam R$ 13,89 milhões e serão agora investigados pelo Ministério Público Federal por suspeita de lavar dinheiro. Dos 30 casos, que vão de 1998 a 2002, 29 são de São Paulo e um é de Minas Gerais.

Os procuradores que os investigam informaram em nota ter encaminhado um dos casos à Superintendência da Polícia Federal, para abertura de inquérito.

O expediente de recorrer à explicação pela sorte no ramo da lavagem ficou famoso com o deputado cassado João Alves, há dez anos. Investigado por suposta participação em desvio de verbas do Orçamento, tentou justificar seu patrimônio dando como fonte de receita prêmios de loterias.

Os irmãos Amauri, Adilson e Alécio Pedro Gouveia são a família campeã nas premiações. Arremataram R$ 3,77 milhões em 25 prêmios. Procurados, não responderam a pedido de entrevista.

A sorte seria comum tanto nas apostas em família quanto nas entre sócios. É o caso do dentista Ariel Lenharo, 62, e de sua mulher e sócia, Neide Polos Plaza, 52. Ela ganhou R$ 623,68 mil em prêmios entre julho de 1999 e dezembro de 2001. Lenharo levou R$ 353,32 mil de janeiro a agosto de 1999.

Neide afirma ser a responsável pelas apostas, um dos seus três vícios, ao lado de "trabalhar e ajudar os outros". "Está tudo declarado no Imposto de Renda."

Individualmente, nos relatórios concluídos em abril, o Coaf indica como o maior premiado José Eugênio da Silva, que teria recebido, em São Paulo, 211 prêmios em dez meses. O menor foi de R$ 847,45; o maior, de R$ 67.785,30. Ao todo, teria recebido das loterias R$ 1,91 milhão. Eugênio da Silva não foi localizado pela Folha.

Agressão à lógica

A técnica adotada por esses campeões para agredir a lógica do caráter aleatório das loterias é uma incógnita.

Na Mega-Sena, por exemplo, é de 1 em 50 milhões a probabilidade de acerto se o jogador investir em apenas seis números em um só bilhete. Para ampliar suas chances para 1 em 29.175 possibilidades, o jogador terá que desembolsar R$ 1.716 para apostar em 13 números no mesmo bilhete.

Ainda assim, a família Surjan Trofo desafia a matemática. O patriarca, Marcos, aparentemente um iniciante, ganhou R$ 264,47 mil em três prêmios -dois deles, um na Mega-Sena e outro na Federal, pagos na mesma data.

Seu filho Marco Antonio, cuja sorte foi revelada pelo Coaf no ano passado, ganhou 327 vezes entre abril de 2000 e outubro de 2001. Os pagamentos, que somam R$ 1,58 milhão, foram realizados em 48 dias diferentes. Feitas as contas, chega-se a um total de 6,81 prêmios em cada uma das datas de pagamento.

Marco Antonio, que é responsável pelo setor de compras da empresa do pai em São Paulo, disse "desconhecer" as premiações que teria recebido.
 

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