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24/05/2003 - 07h10

Governo deu "cavalo-de-pau" na economia, afirma Dirceu

JULIA DUAILIBI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG

da Folha de S.Paulo

O ministro José Dirceu (Casa Civil) admitiu ontem, sem saber que era ouvido por jornalistas, que o governo está "desestimulando" e "segurando" a atividade econômica do país ao manter a taxa de juros em 26,5% ao ano.

"Um governo que faz um superávit de 4,25% [do PIB] e mantém uma taxa de juros em 26,5%, e que está obrigado às restrições a que nós estamos [obrigados], evidentemente está desestimulando e segurando a atividade econômica", afirmou o ministro, durante seminário sobre Previdência promovido pelo PT e pela Fundação Perseu Abramo, em São Paulo. "Não vamos dourar a pílula."

Após ser avisado de que seu pronunciamento estava sendo transmitido ao vivo pela internet e acompanhado em um telão por jornalistas, Dirceu elogiou a avaliação técnica que teria sido usada pelo BC para manter a taxa no patamar atual, mas mandou um recado a críticos do presidente.

"Todo o país dizia que iríamos submeter o Banco Central às decisões políticas. Os mesmos que diziam isso pediram ao presidente que fizesse intervenção no BC e determinasse qual era a taxa de juros. E diziam que ele não poderia ganhar a eleição e governar o país porque iria fazer isso", contestou o ministro, lembrando os ataques que eram feitos ao partido durante a campanha presidencial do ano passado.

As altas taxas de juros e de superávit primário e o corte de R$ 14 bilhões no Orçamento foram classificadas por Dirceu como medidas que "não realizam nesse momento os nossos objetivos", mas que deram "um cavalo-de-pau" na economia.

"Se nós não demos um cavalo-de-pau no país, demos um cavalo-de-pau na economia", declarou, para completar em seguida: "Evidentemente que as consequências aparecem imediatamente. É só conversar com os ministros das Cidades, da Integração Nacional e dos Transportes".

Mais tarde, em entrevista, explicou o uso da expressão "cavalo-de-pau": "[Durante a campanha] alguns diziam que nós íamos dar um cavalo-de-pau no país, que seríamos incapazes de governar o país, que o país não suportaria um governo nosso".

Segundo o "Aurélio", cavalo-de-pau significa: "Manobra de emergência que consiste em fazer um veículo inverter a direção, mediante a aplicação súbita dos freios, e de ordinário com o fim de fazê-lo parar".

Dirceu fez a declaração para parlamentares e militantes do PT. Na sala ao lado, um telão transmitia o discurso.

O ministro ficou surpreso e visivelmente desconcertado quando foi avisado da transmissão: "Ao vivo? Está ao vivo para onde?", perguntou. Diante dos risos da platéia -cerca de 300 pessoas-, brincou: "Ainda bem que eu e o [José] Genoino [presidente do PT, que estava ao lado] já vivemos situações mais adversas".

O governo tem enfrentado uma série de críticas em razão da manutenção da taxa de juros em 26,5%, definida nesta semana pelo Copom (Comitê de Política Monetária). O próprio vice-presidente José Alencar chegou a defender a queda dos juros. Homem forte do governo, Dirceu tem apoiado publicamente as decisões da equipe econômica.

Antes de saber que suas declarações eram acompanhadas por outras pessoas além dos petistas, Dirceu afirmou que "a queda que existe no país da atividade econômica é visível e seria ridículo se nós disséssemos o contrário".

O ministro definiu os cinco primeiros meses do governo como sendo de "felicidade" e "angústia". Felicidade, segundo Dirceu, porque o partido chegou ao poder, e angústia por ter só quatro anos para cumprir seu programa.

Na saída do auditório, ao ser contestado sobre suas declarações, Dirceu disse não ter ficado "constrangido". "É evidente que qualquer cidadão tem de saber onde está falando e para quem está falando."

Voltou a defender o BC, mas afirmou: "Todos nós sabemos que subir juros não estimula a produção e o consumo". Ainda de acordo com Dirceu, o governo não pode "enganar" ninguém.
 

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