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06/06/2003 - 15h52

Leia a íntegra do discurso de Lula em Rondonópolis (MT)

da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou hoje na cidade de Rondonópolis (MT) no lançamento do programa habitacional Meu Lar. No pronunciamento, ele anunciou a construção da rodovia Cuiabá-Santarém e reafirmou sua intenção de lançar "o maior programa de cooperativas já implementado no país".

Veja a íntegra do discurso:

"Eu queria começar as minhas palavras, agradecendo ao meu companheiro Percival, prefeito de Rondonópolis, e ao governador Blairo, porque tiveram a gentileza de me convidar para estar aqui, hoje.

Quero dizer, tanto ao Percival, quanto ao companheiro Blairo, que eles não têm apenas uma relação de amizade com o Presidente da República, eu quero dizer Blairo, que você tem mais do que um Presidente da República, você tem um companheiro para todas as horas, em Brasília.

E falando o nome do Blairo e do Percival, eu quero considerar citados os nomes dos nossos deputados federais, dos nossos Vereadores, dos nossos Prefeitos, dos nossos companheiros Secretários, aqui, para tentar economizar palavras. Como eu não sou do Mato Grosso, o sol na minha testa arde mais do que na testa de quem é daqui.

Olha, possivelmente vocês tenham, em algum momento da vida de vocês, uma experiência com a agricultura. Alguém aqui já foi, direta ou indiretamente, trabalhador de roça. E vocês sabem que o Blairo e eu completamos, agora, dia 1º de junho, cinco meses de governo. Cinco meses de governo é um pouquinho mais do tempo que leva um pé de soja para a gente colher. O feijão leva 90 dias, o milho leva 150 dias. Eu estou dizendo isso, porque nós estamos há cinco meses, e nós estamos plantando a nossa roça. Nós estamos semeando as coisas que nós acreditamos que precisam ser feitas por este país.

E a inauguração desse projeto habitacional, que visa dar às pessoas mais pobres dessa cidade e dessa região, uma casinha de 40 metros para morar, com um terreno de 250 metros quadrados, é um começo. E todos nós, pobres, começamos assim. Eu lembro que a primeira casinha que eu fiz era de um quarto, sala e cozinha. A gente levantava, nem rebocava, entrava dentro dela e depois que estava dentro a gente ia chamando os companheiros que sabiam fazer encanamento, depois aqueles que sabiam fazer eletricidade, e a gente ia trocando a parceria entre nós. E de repente, a gente tinha uma casinha nossa, pronta. Foi assim que os nossos pais construíram suas casas.

Hoje, nós sabemos perfeitamente bem, que se deixou, juntar neste país, tanta gente necessitando de casa, que são quase 6 milhões de famílias, que se o Estado não assumir a responsabilidade de construir uma parte, o povo vai ficar sem ter onde morar. Entretanto, nós temos que ter clareza que há uma parte da população que, se fizer uma prestação de 50 reais, essa pessoa não tem como pagar. Não tem como pagar porque não trabalha, e não tem como pagar porque, às vezes, ganha metade de um salário mínimo. Então, nós temos que ter consciência de que, para essa gente, nós vamos ter que colocar, a fundo perdido, nos cofres das prefeituras, do governo dos Estados e do governo federal, a possibilidade de construir casas gratuitas para essa parte da população brasileira.

É verdade que nem sempre a gente tem todo dinheiro que a gente deseja, e vocês também sabem que essa experiência vale para a casa de vocês: nem sempre a gente pode comer tudo que a gente gostaria, nem sempre a gente pode dar tudo que a gente sonha para um filho. O importante é que os filhos tenham a clareza de que a gente está fazendo o máximo que pode, com a honestidade que um pai tem para com um filho, e que a gente nunca vai deixar de fazer aquilo que é o máximo que cada um de nós pode dar.

Eu fui eleito Presidente da República, o companheiro Blairo foi eleito governador deste Estado. Ele, um empresário muito bem sucedido e respeitado aqui no Estado e eu, um ex-sindicalista, porque não dizer, também bem-sucedido no movimento sindical brasileiro.

O que é importante? O importante é que eu não conhecia o Blairo, ele não me conhecia, talvez já tivesse lido meu nome porque eu já fui candidato outras vezes. Mas o importante é que, mesmo sem nos conhecermos, a hora em que a gente pega o programa da candidatura dele e o programa da minha candidatura; ou a hora que a gente pega o discurso dele e o meu discurso, percebemos que a gente não precisa se conhecer, não precisa ser do mesmo partido. Se a gente tiver o coração e a mente voltados para o povo mais pobre, a gente vai falar a mesma linguagem em qualquer lugar do mundo em que a gente estiver.

É por isso que em fevereiro, na reunião que juntou 2.000 prefeitos lá em Brasília, eu anunciei a liberação, pela Caixa Econômica, de 5 bilhões e 400 milhões de reais para a habitação. E sabe o que é duro? O Blairo também sabe disso. É que entre o presidente ou o governador anunciar e este dinheiro chegar onde precisa, há um tempo, porque tem uma guerra do papel, isso passa por tantas mãos, para ser assinado, e não tem como ser diferente, porque se a gente não respeitar a estrada dos papéis e da burocracia, o Tribunal de Contas vem e diz que a gente está cometendo um ato ilícito com a administração pública.

Nós, ao mesmo tempo em que aprovamos, precisamos trabalhar para que este dinheiro chegue o mais rápido possível para que as casas comecem a acontecer no nosso país. E isso nós vamos fazer Percival, vamos fazer, sabe por quê? Porque eu sempre digo para o povo, eu vim aqui, nesta cidade, antes de ser Presidente da República, eu já vim muitas vezes a este Estado antes de ser Presidente da República. E a maior conquista que eu tenho na minha vida, não é o fato de ter sido eleito Presidente da República, não é o de ter pego na mão do Bush, ou na mão do presidente da China. A maior conquista que eu tenho na minha vida, e meu maior orgulho, é ter conquistado o direito de poder olhar nos olhos de cada homem, de cada mulher e de cada criança, e ter a certeza de que eu estou sendo sincero com eles e que eles depositam confiança naquilo que a gente pretende fazer neste país.

Podem ficar certos que, da mesma forma que o Blairo, que é um grande plantador de soja, e quando planta a semente, não fica desesperado querendo cavar para ver se ela já nasceu, é preciso esperar. Ele fica esperando, ele sabe que tem que adubar, ele sabe que tem que aguar, ele sabe que tem que proteger para o bicho não comer. É como governar.

Nós estamos semeando. Nós estamos plantando cada árvore e cada uma tem um tempo para nascer. Uma demora três meses, outra demora quatro meses, outra demora cinco meses. Algumas demoram mais. Um pé de café demora mais para dar, um pé de laranja também demora, mas quando começa, também dá frutos por vários anos seguidos, sem precisar derrubar esse pé. E nós temos essa clareza.

Eu vou dizer uma coisa, aqui, para você, Percival, e para o Blairo: em 1989 eu fui candidato à Presidência da República. E eu fui a Santarém. Quando eu cheguei em Santarém, o pessoal queria que eu fosse num tal de Marco Zero, da rodovia Santarém-Cuiabá, ou Cuiabá-Santarém, porque todos os candidatos tinham ido e tinham se comprometido a construir a Cuiabá-Santarém. Eu me recusei a ir. Eu falei: eu não vou, porque eu não tenho todas as informações, eu não vou ser mais um mentiroso que vou passar por aqui. Não vou.

Blairo, nunca, em nenhuma campanha, eu assumi o compromisso de construir um metro quadrado da Santarém-Cuiabá. Mas eu quero olhar na cara de vocês, olhar na cara do governador, e dizer: Blairo, exatamente eu e você, que nunca prometemos, vamos fazer a Cuiabá-Santarém, para que o povo comece a perceber que o bom político não é aquele que conta a maior mentira, o bom político é aquele que fala a verdade mesmo quando ela dói, como um pai fala com o filho. Muitas vezes o bom pai ou a boa mãe, não é aquela que deixa o filho fazer o que bem entender. Muitas vezes, pegar o filho pelo braço, repreendê-lo e, às vezes, até dar um tapinha no bumbum dele, é mais educativo do que deixar ele sair para a rua sem orientação da família, sem orientação do pai. Porque nós estamos precisando recuperar a questão da união da família neste país, a desagregação da estrutura familiar, o desemprego, a miséria. É filho que não respeita pai, é filho que não respeita mãe. São meninos de 12, 13 e 14 anos que acham que podem fazer o que bem entendem. E nós, como pais, não podemos ficar jogando a culpa em cima do prefeito, em cima da polícia, em cima do governador, em cima do presidente. Nós os colocamos no mundo, nós temos o compromisso moral de educá-los e de cuidá-los.

Então, governar um país é assim. É por isso que nós vamos lançar, este mês, a proposta de primeiro emprego para o Brasil. E porque vamos lançar a proposta de primeiro emprego? Porque eu estou preocupado com meninas e meninos de 17, 18, 19, 20, vinte e poucos anos, que terminam de fazer o segundo grau, não conseguem entrar numa faculdade porque não podem pagar 500, 600, 700, 800 reais. E nas universidades federais e públicas, não cabe todo mundo. E esse jovem não tem nem faculdade, nem emprego. Se ele não tem faculdade nem emprego, fica desesperado. E aí o narcotráfico, o crime organizado, começam a se apresentar como alternativa para os nossos filhos. Então, nós temos que garantir a questão do primeiro emprego. E vamos lançar um grande Programa de Primeiro Emprego, este mês, lá em Brasília, com a presença, se Deus quiser, do nosso governador, da primeira-dama, do Percival, do Juca, da Serys, dos nossos deputados estaduais e federais.

Da mesma forma que nós vamos lançar, este mês, Blairo - eu sei que você é um sonhador disso - o maior programa de cooperativas já lançado neste país. Nós vamos mostrar que será através das cooperativas de crédito que a gente vai reduzir as taxas de juros neste país, que a gente vai gerar emprego, que a gente vai ajudar o pequeno e médio produtor, que a gente vai ajudar o micro, pequeno e médio empresário com coisas criativas, com coisas práticas, porque o Brasil não pode esperar e, sobretudo, a parte mais pobre da população não tem muito tempo para esperar. O Blairo sabe disso, eu sei disso, o Percival sabe disso, os nossos senadores e deputados sabem disso. O nosso mandato é só de 4 anos, e eu tenho certeza que o Blairo e eu não queremos passar para a história apenas, porque teremos uma fotografia nossa, em salas do Palácio, dizendo: "este homem foi presidente ou governador". Nós queremos passar para a história deste país por combater a corrupção, por gerar empregos, por fazer as casas necessárias, por distribuir renda.

Nós queremos passar para a História pelas coisas boas que a gente fizer neste país, e eu não tenho dúvida de que vamos fazer, porque o Blairo quando terminar o mandato dele, não vai poder morar em Paris, porque ele tem a lavoura dele para cuidar. E eu não vou poder morar em Londres, eu tenho que ficar em São Bernardo, na frente da "peãozada" que trabalhou comigo a vida inteira.

Então, nós não temos outro jeito meu caro, nós temos que fazer as coisas, nós temos que acertar, trabalhar, não mentir nunca para este povo. É melhor alguém sair xingando porque a gente disse uma verdade, do que a gente ser aplaudido contando uma mentira para eles. É muito melhor, e nós vamos fazer isso com carinho, por isso, eu quero agradecer a acolhida que vocês me deram

Nós, agora, vamos inaugurar a Ferronorte, vamos inaugurar um trecho da Ferronorte, que é um sonho deste Estado e é um sonho do Brasil. Na década de 50, aqueles que governaram a partir dos anos 50, tiveram a primazia de acabar com as nossas ferrovias, e nós, agora, vamos ter que reconstruir aquilo que foi destruído, porque a ferrovia, no mundo inteiro, é um meio de transporte mais eficaz, que barateia os nossos produtos. E o Brasil, graças a Deus, não deve a nenhum país do mundo em capacidade produtiva, sobretudo, na agricultura.

Agora, não adianta produzir se a gente não fizer o nosso produto chegar aos portos para serem exportados. Então, é preciso fazer estradas, pontes, transportes fluviais, construir ferrovias para que esses transportes façam a nossa carga chegar mais rápido aos portos, para que a gente possa exportar. É por isso que nós vamos, daqui a pouco, inaugurar um trecho da Ferronorte.

E eu quero, Blairo, ao me despedir do povo de Rondonópolis, dizer para vocês, é com muito orgulho, que, quem sabe, quando estiverem prontas as 200 casas, a gente possa vir aqui para inaugurá-las.

Muito obrigado meus companheiros, um grande beijo para todo mundo."
 

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