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06/07/2003 - 09h21

BB usou doleiro para transportar malotes

RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

No auge das operações realizadas na agência do Banestado de Nova York (EUA) entre 1996 e 1999 e hoje sob investigação de uma CPI no Congresso, o doleiro Alberto Youssef, 35, que ali movimentou US$ 800 milhões, cumpria uma outra tarefa --anônima e surpreendente: o transporte oficial dos malotes de toda a rede bancária brasileira em quatro importantes rotas de São Paulo, Amazonas e Paraná.

A descoberta foi feita pelo Ministério Público do Paraná e confirmada pelo próprio Youssef, em depoimento prestado em setembro de 2002. O doleiro é considerado pelos parlamentares peça-chave na CPI do Banestado.

"Transportava malotes do Banco do Brasil (BB) e de qualquer outro órgão ligado ao banco", disse o doleiro no depoimento prestado em Londrina (PR). Ele usou dois aviões, um turboélice Carajá e um jato Lear Jet, segundo confirmou a Folha a empresa Oliveira Táxi Aéreo, que subcontratava a San Marino Táxi Aéreo, pertencente a Youssef.

"Estamos surpresos com essa informação. Nós não sabíamos que a empresa era dele, lidávamos com outra pessoa, chamada Alan", disse o gerente operacional da Oliveira, Alexandre Silva.

A Oliveira é contratada pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos). Daí se explica a menção à entidade feita por Youssef em seu depoimento. Os bancos fazem um pool para reduzir os custos, suportados pelos sindicatos de bancos e Febraban, e o Banco do Brasil gerencia o sistema.

Para atender o Amazonas, a Oliveira subcontratava a San Marino. Outras duas empresas contrataram a empresa do doleiro no Paraná e em São Paulo. Segundo seu depoimento, no Sul Youssef usava os aviões para "transporte de valores em espécie [notas]".

O doleiro trabalhou no transporte de malotes de 1996 a 2000.
"Achamos desconfortável, ininteligível, que uma pessoa assim prestasse serviços para toda a rede bancária e ainda transportasse valores em espécie", disse o promotor José Aparecido Cruz, 49, que desde 2000 atua no processo em que Youssef é réu sob acusação de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

O promotor disse que desde 1994 Youssef já era "um conhecido doleiro" e dono de casa de câmbio em Curitiba (PR). Foi investigando denúncias de corrupção na Prefeitura de Maringá (PR) --um desvio estimado de R$ 100 milhões-- que o promotor chegou à revelação sobre o transporte de malotes.

Um cheque de R$ 90 mil da prefeitura fora depositado na conta bancária de um comerciante de Manaus (AM), David Nóvoa Gonzalez. Intimado pelo Ministério Público, o empresário foi buscar explicações com os gerentes da Cortez Câmbio, que funciona no centro de Manaus.

Meses antes, Gonzalez havia trocado dólares por reais na casa de câmbio, que pagou com um cheque depositado na conta do empresário. Gonzalez não sabia a origem do dinheiro e não teve nenhuma participação no desvio de dinheiro público, segundo a conclusão do Ministério Público.

Gonzalez até ajudou a esclarecer a denúncia. Gravou uma conversa telefônica na qual um dos donos da casa de câmbio admite que o dinheiro viera da prefeitura paranaense. O promotor Cruz foi a Manaus e lá participou da tomada de depoimento de um dos donos da casa de câmbio, Mário Cortez. Ele contou que o cheque lhe fora entregue por Youssef.

Indagado de onde o conhecia, Cortez então revelou que o paranaense "fazia o transporte de malotes do Banco do Brasil no Amazonas". Cruz retornou ao Paraná e tomou, junto com os colegas Solange Novaes da Silva Valentim e Leila Schimiti Voltarellli, novo depoimento de Youssef. O doleiro contou então ter sido dono da San Marino Táxi Aéreo --que também teve os nomes de Catuaí Táxi Aéreo e American Táxi Aéreo-- e operado em quatro linhas.

No Paraná, os aviões de Youssef faziam a rota Londrina-Curitiba-Pato Branco-Londrina e a rota Londrina-Maringá-Umuarama-Londrina . Em São Paulo, o doleiro do Paraná operava no trecho São Paulo-Franca-Ribeirão Preto-São Paulo. Na região amazônica, Youssef fazia o trajeto Porto Velho (RO)-Manaus (AM). Seu trabalho consistia em recolher os malotes das agências bancárias de diversas instituições e centralizá-los no Banco do Brasil.
 

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