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03/01/2004
-
08h49
RAYMUNDO COSTA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Encorpado pelo 1,5 milhão de votos de Enéas Carneiro (SP), o deputado federal mais bem votado da história brasileira, o Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional) elegeu uma bancada de seis deputados, mas não resistiu a um ano na oposição e chegou ao final do ano passado com apenas dois parlamentares.
Em menos de um mês, entre 20 de novembro e 18 de dezembro, o partido perdeu quatro deputados. Um, Amauri Robledo Gasques (PL-SP), já está na base do governo. Os outros três, a caminho. Um quinto, Elimar Máximo Damasceno, também pode sair. O Dr. Enéas, nome de guerra do congressista, pode acabar só.
O naufrágio do Prona é um exemplo tardio de um fenômeno que marcou a Câmara dos Deputados no ano passado: o intenso movimento de trocas partidárias, muitas vezes patrocinadas pelo governo, que tomou posse sem maioria parlamentar e chega a 2004 com uma base de sustentação política confortável.
Desde a eleição em 2002 até dezembro do ano passado, 117 deputados (22,81% num total de 513) trocaram 147 vezes de partido. Alguns deles fizeram um circuito completo, como é o caso de Sandro Matos (RJ), que saiu do PTB em janeiro para o PSB, fez escala no PMDB e está de volta ao PTB. É um recordista.
"Astúcia"
"O PT surpreendeu muita gente", diz o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília). "A sigla sempre condenou a cooptação parlamentar, mas, no governo, operou essa movimentação com astúcia e pragmatismo", avalia ele.
Astuto, o PT preferiu inchar os partidos-satélites, como o PTB e o PL --o primeiro elegeu 26 deputados e terminou o ano com o dobro; o segundo passou de 26 para 43. É fato que, para boa parte dos deputados governistas, é mais fácil entrar num partido aliado do Planalto, que não faz tantas exigências quanto o PT, tais como fidelidade partidária e um percentual dos salários.
Das 19 siglas com representação no Congresso, da bancada eleita em 2002, restaram 15 no final de 2003. O governo, que elegeu pouco mais de 170 deputados, hoje conta com cerca de 400, somando-se parcelas do PFL e do PP que votam com o Planalto. Maioria a ser consolidada nas próximas semanas com a entrega de ministérios ao PMDB.
"O governo assumiu num período de instabilidade e precisou fazer maioria rapidamente", diz o deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ), que presidiu a comissão especial da reforma política na Câmara. "Mas agora ele precisa solidificar essa maioria fortalecendo os partidos, sob pena de ter uma maioria igual à do ex-presidente Fernando Henrique, formada por deputados de governo e não por deputados de partido."
A saída seria a reforma política, projeto que líderes e especialistas consideram prejudicado em 2004, por ser ano eleitoral. Sem a reforma, a expectativa é que em 2005 Lula bata o recorde de mudanças na Câmara, atualmente em poder da Legislatura eleita no início do governo Collor, que registrou 200 mudanças entre 1991 e 1995.
A praxe, no Congresso, é a de duas grandes ondas migratórias: no primeiro ano de governo, quando o deputado chega e se situa em relação ao poder, e no terceiro, quando ele se posiciona em relação à eleição do ano seguinte.
Base de Lula "absorve" até o Prona
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
Encorpado pelo 1,5 milhão de votos de Enéas Carneiro (SP), o deputado federal mais bem votado da história brasileira, o Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional) elegeu uma bancada de seis deputados, mas não resistiu a um ano na oposição e chegou ao final do ano passado com apenas dois parlamentares.
Em menos de um mês, entre 20 de novembro e 18 de dezembro, o partido perdeu quatro deputados. Um, Amauri Robledo Gasques (PL-SP), já está na base do governo. Os outros três, a caminho. Um quinto, Elimar Máximo Damasceno, também pode sair. O Dr. Enéas, nome de guerra do congressista, pode acabar só.
O naufrágio do Prona é um exemplo tardio de um fenômeno que marcou a Câmara dos Deputados no ano passado: o intenso movimento de trocas partidárias, muitas vezes patrocinadas pelo governo, que tomou posse sem maioria parlamentar e chega a 2004 com uma base de sustentação política confortável.
Desde a eleição em 2002 até dezembro do ano passado, 117 deputados (22,81% num total de 513) trocaram 147 vezes de partido. Alguns deles fizeram um circuito completo, como é o caso de Sandro Matos (RJ), que saiu do PTB em janeiro para o PSB, fez escala no PMDB e está de volta ao PTB. É um recordista.
"Astúcia"
"O PT surpreendeu muita gente", diz o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília). "A sigla sempre condenou a cooptação parlamentar, mas, no governo, operou essa movimentação com astúcia e pragmatismo", avalia ele.
Astuto, o PT preferiu inchar os partidos-satélites, como o PTB e o PL --o primeiro elegeu 26 deputados e terminou o ano com o dobro; o segundo passou de 26 para 43. É fato que, para boa parte dos deputados governistas, é mais fácil entrar num partido aliado do Planalto, que não faz tantas exigências quanto o PT, tais como fidelidade partidária e um percentual dos salários.
Das 19 siglas com representação no Congresso, da bancada eleita em 2002, restaram 15 no final de 2003. O governo, que elegeu pouco mais de 170 deputados, hoje conta com cerca de 400, somando-se parcelas do PFL e do PP que votam com o Planalto. Maioria a ser consolidada nas próximas semanas com a entrega de ministérios ao PMDB.
"O governo assumiu num período de instabilidade e precisou fazer maioria rapidamente", diz o deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ), que presidiu a comissão especial da reforma política na Câmara. "Mas agora ele precisa solidificar essa maioria fortalecendo os partidos, sob pena de ter uma maioria igual à do ex-presidente Fernando Henrique, formada por deputados de governo e não por deputados de partido."
A saída seria a reforma política, projeto que líderes e especialistas consideram prejudicado em 2004, por ser ano eleitoral. Sem a reforma, a expectativa é que em 2005 Lula bata o recorde de mudanças na Câmara, atualmente em poder da Legislatura eleita no início do governo Collor, que registrou 200 mudanças entre 1991 e 1995.
A praxe, no Congresso, é a de duas grandes ondas migratórias: no primeiro ano de governo, quando o deputado chega e se situa em relação ao poder, e no terceiro, quando ele se posiciona em relação à eleição do ano seguinte.
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