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26/04/2004 - 20h15

Garimpeiros desaparecem em terra indígena desde 99, diz delegado

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KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

O delegado da Polícia Civil de Rondônia Iramar Gonçalves da Silva, 48, que dirigiu em 1987 e 2003 a delegacia regional da cidade de Cacoal, a 200 km da entrada da reserva indígena Roosevelt, afirmou hoje que cerca de 200 garimpeiros desapareceram na terra dos índios cintas-largas a partir de 1999, quando começaram a entrar na reserva para extrair ilegalmente diamantes.

Segundo ele, os desaparecimentos foram relatados por garimpeiros, que informaram ainda a existência de cemitérios clandestinos dentro da reserva. Iramar Silva diz que dez índios já foram indiciados pela delegacia de Cacoal (480 km de Porto Velho) sob a acusação de crimes na reserva.

"Tem muita gente desaparecida, inclusive a existência de cemitérios clandestinos. Antigamente os índios matavam e deixavam [os corpos] em cima da terra. A partir do momento que nós começamos a pedir a prisão preventiva dos índios, foram dez no total, eles começaram a esconder os corpos na mata", afirmou.

Em março, o delegado da Silva foi preso --e posteriormente solto-- por porte ilegal de armas. Ele também é acusado de participar de um esquema de compras de diamantes extraídos na reserva Roosevelt. O delegado nega a acusação. "É tudo armação de policiais de Cacoal", disse, em entrevista por telefone celular da cidade de Buritis (RO), onde dirige atualmente a delegacia local.

"Como a Polícia [Federal] não encontrou diamantes na minha casa e encontrou uma pistola 9 mm, que eu havia apreendido em Espigão d'Oeste, me prendeu por porte ilegal de armas. Eu, um delegado de polícia."

Da Silva afirma que os problemas começaram a acontecer entre garimpeiros e índios cintas-largas quando os indígenas começaram a entender que estavam sendo enganados.

"Os 'brancos' que entravam na reserva não pagavam a porcentagem que acertavam com os índios. Os índios foram descobrindo aquela manipulação em cima deles. E passaram a matar. O garimpeiro não usa armamento, no máximo um facão, uma espingardinha. Eles entraram com a cara e com a coragem, peitaram os índios, todos armados. É entrar e morrer mesmo", disse.

Para o delegado, o problema exige a presença das Forças Armadas, além das polícias Federal e Militar, porque os cintas-largas, segundo ele, estão fortemente armados. "Eles usam coturnos, fardas camufladas, armas pesadas, fuzil A-15, pistola 9 mm, segundo informações dos garimpeiros."

Por isso, diz ele, "é preciso a presença maciça das Forças Armadas e das polícia Federal e Militar para isolar aquela área e parar aquele garimpo. É preciso normalizar a parte mineral da reserva, seja para os índios, para os brancos, para as empresas, porque aquilo ali é a maior reserva de diamantes do mundo".

A Agência Folha procurou o administrador substituto da Funai em Porto Velho, Osman Ribeiro, mas até o fechamento desta edição ele não havia sido localizado para comentar as declarações do delegado.

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário), braço da questão indígena da Igreja Católica, em Rondônia, afirmou em nota que "o garimpo ilegal na reserva terminou por sobrepor aos cintas-largas uma situação de insegurança, violência incontida, preconceito e tensão".

"Assim, para os índios e para a população em geral, precisa-se de esclarecimento, debates e, sobretudo um posicionamento firme para o conturbado cenário em torno da garimpagem de diamantes", diz a nota do Cimi.
 

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