Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/08/2005 - 09h25

CPI quer ouvir doleiro preso em SP, mas petistas resistem

Publicidade

RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo

Deputados e senadores da oposição que integram a CPI dos Correios articularam uma diligência a Avaré, interior de São Paulo, com o objetivo de tomar ainda nesta semana o depoimento do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que cumpre pena na penitenciária de segurança máxima da cidade.

A decisão foi motivada pela informação de que o doleiro estaria disposto a revelar operações clandestinas de remessa de recursos ao exterior feitas para políticos de vários partidos, entre eles o PT.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), apoiou a idéia da diligência num primeiro momento, mas depois ficou de analisar melhor devido à resistência do PT a tomar agora o depoimento, operação que teria, segundo o partido, de ser aprovada pela CPI.

Parlamentares da CPI se reuniriam hoje na Secretaria da Segurança Pública de São Paulo para ir, de helicóptero, a Avaré. Mas Delcídio telefonou para o secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, pedindo que adiasse o plano para amanhã. Uma alternativa, segundo Saulo, seria a CPI --que tem poder de Justiça-- solicitar a transferência do doleiro para a capital, em vez de viajarem a Avaré.

De acordo com a revista "Veja" e a com entrevista da mulher de Barcelona ao "Jornal Nacional", o doleiro seria o responsável por remessas ilegais de recursos do PT ao exterior. Em seu depoimento ao Congresso, o publicitário Duda Mendonça revelou ter aberto uma conta em um paraíso fiscal como forma de receber o pagamento do PT por serviços prestados na campanha de 2002.

O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, afirmou ter recebido e-mail em nome do doleiro dizendo que ele está "desesperado, isolado, sendo tratado como bandido de alta periculosidade". "A idéia é ouvi-lo para avaliar se é necessário que ele seja convocado para depor na CPI", afirmou Gustavo Fruet (PSDB-PR). A proposta partiu do senador Demóstenes Torres (PFL-GO) e do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Além dos três, iria na diligência a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Ela diz ser contra, porém, e afirma que vai tentar impedir o que considera como "operação precipitada". "Não há deliberação da CPI. Ele [Barcelona] está preso, não há o que justifique essa pressa toda. Essa é uma decisão de muita gravidade para ser tomada assim, sem o aval da CPI", alegou.

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) também tentava abortar a missão. Além dessa, a CPI vai se debater a partir de hoje sobre outra divergência. Uma parte da comissão quer se concentrar nas investigações sobre transferência de recursos do publicitário Marcos Valério para o PT e outros partidos políticos via contas no exterior.

Outro grupo defende que seja convocado nesta semana o ex-ministro da Secom (Comunicação de Governo) Luiz Gushiken, o que traria o tema "fundos de pensão" para o debate.

Doleiro

Apontado como o maior doleiro do país, Barcelona movimentou, segundo conclusões da CPI do Banestado, US$ 500 milhões de 1996 a 2002 e está condenado a 25 anos de prisão por crime contra o sistema financeiro.

Toninho, que deve o apelido ao nome de sua casa de câmbio, a Barcelona, é investigado desde 2000, quando foi alvo da CPI do Narcotráfico sob acusação de remessa ilegal para o exterior, com movimentação que somava US$ 29,7 milhões de 1995 a 1997.

Em 2003, seu nome voltou à tona com a Operação Anaconda, em que a Polícia Federal investigou a venda de sentenças judiciais. Ele aparecia como suposto beneficiário de decisões.

Toninho, que teve o telefone grampeado, também é suspeito de obter informações privilegiadas da PF. Ele foi a causa da exoneração do ex-superintendente da PF em São Paulo Francisco Baltazar da Silva. Responsável pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele entregou o cargo em agosto do ano passado, depois que a Folha revelou que Baltazar comprara US$ 134,6 mil de Barcelona.

Depois de ficar foragido por sete meses, em 2003, o doleiro foi preso há um ano, numa força-tarefa que prendeu 63 doleiros em sete Estados. Os doleiros foram presos sob acusação de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Pelo esquema, doleiros recebem dinheiro de origem ilegal no Brasil e abastecem seus clientes em paraísos fiscais a partir de uma conta em Nova York.

A principal conta nos Estados Unidos era utilizada por vários doleiros brasileiros e tinha o nome de Beacon Hill. Por isso, a operação foi batizada de Farol da Colina, a tradução para o português do nome da conta.

A semana

A CPI do Mensalão ouvirá amanhã o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas e o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri. Os dois são beneficiários de saques nas contas das empresas de Valério. Na quarta-feira, é a vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.

O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) deve entregar sua defesa, por escrito, ao Conselho de Ética da Câmara nesta semana.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a crise no governo Lula
  • Leia a cobertura completa sobre a CPI dos Correios
  • Leia a cobertura completa sobre o caso do "mensalão"
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página