Publicidade
Publicidade
22/08/2005
-
09h28
RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
ROGÉRIO PAGNAN
da Folha de S.Paulo
O advogado Rogério Buratti quer depor novamente na CPI dos Bingos, em Brasília, para "nominar" pessoas que tiveram participação em suposto esquema para renovação do contrato de R$ 650 milhões da Caixa Econômica Federal com a multinacional de informática GTech.
A informação foi prestada pelo próprio Buratti aos promotores de Ribeirão Preto (SP), após o depoimento em que acusou, na última sexta-feira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, de receber R$ 50 mil mensais da empresa de lixo Leão Leão para ajudar no caixa dois da direção nacional do PT, ao tempo de sua segunda gestão como prefeito de Ribeirão Preto (2000-2002).
Um dos seis promotores que atuam no caso, Aroldo Costa Filho, 42, 15 anos de Ministério Público, disse que o grupo não se sente "intimidado" com a acusação do Ministério da Fazenda, de que romperam normas ao divulgar o depoimento de Buratti, e que as investigações "vão continuar". Costa Filho, que não é filiado a partido político e não vota há mais de dez anos, falou à Folha antes da entrevista coletiva de Palocci, ontem, em Brasília. O promotor disse que há indícios de que Buratti e Palocci continuaram "ligados implicitamente, por baixo do pano". Leia a entrevista:
Folha - O Ministério Público se sentiu intimidado com a reação do Ministério da Fazenda?
Aroldo Costa Filho - De forma alguma. O promotor Sebastião [Silveira] comunicou à imprensa, inicialmente, o teor do depoimento do Buratti com autorização prévia do procurador-geral de Justiça. Nós não fizemos nada aleatoriamente sem consultá-lo porque sabíamos da relevância, da importância desse depoimento que poderia trazer implicações no âmbito econômico do país. Foi autorizado e nós cumprimos nosso dever constitucional de comunicar à imprensa e à sociedade aquilo que estava ocorrendo.
Folha - A nota em que a Fazenda acusa a Promotoria foi uma forma de pressionar os promotores?
Costa Filho - Pode ter sido feito com esse objetivo, mas isso não vai nos intimidar. Tudo o que fizemos nessas investigações foi com respaldo em documentos apreendidos, nas interceptações telefônicas e nos depoimentos colhidos. Nós temos indícios veementes de que tudo aquilo que o Buratti falou é verdade. Vamos prosseguir nossas investigações. No que se refere a Ribeirão, nós vamos continuar, nas outras cidades da região, também. No que tange ao ministro, vai para o STF [Supremo Tribunal Federal] e a Procuradoria Geral da República. E em relação aos prefeitos que ainda estão no cargo, no âmbito criminal, ao procurador-geral de Justiça, porque a ele compete também investigar e processar criminalmente esses prefeitos.
Com pressão ou sem pressão, isso não vai interferir em nada. Nós vamos continuar trabalhando do mesmo jeito. Ninguém vai calar o Ministério Público com ameaças de que vai representar ou processar. Nós temos consciência de que nosso trabalho foi feito de forma legítima, correta e nos termos da lei. Portanto não temos nada a temer e vamos continuar trabalhando.
Folha - Qual o peso do testemunho de Buratti?
Costa Filho - O depoimento dele veio confirmar toda a nossa investigação durante esse um ano e meio em que trabalhamos no caso, veio dar credibilidade e respaldar nossas investigações. Nós tínhamos documentos, nós tínhamos as interceptações, e o Rogério veio confirmar tudo isso.
Folha - Buratti se sentiu pressionado ou ameaçado a ponto de querer falar?
Costa Filho - Ao ser decretada sua prisão, na última quarta-feira, ao final do interrogatório, ele já disse que gostaria de conversar com os promotores. Mas como já era tarde, nove horas da noite, deixamos essa conversa para a manhã do dia seguinte. Na quinta de manhã, eu e Sebastião comparecemos ao CDP [Centro de Detenção Provisória] e lá, em conversa informal, ele disse que tinha medo. Porque com a sua prisão os fatos poderiam ser revelados e ele temia pela sua vida. Após a conversa, ele concluiu que a melhor forma de preservar a sua vida era falar a verdade, e disse que queria ser ouvido novamente. Foi agendado com o delegado seccional, na própria quinta-feira. Ele se entrevistou com seu advogado, [Roberto] Telhada, por volta de 40, 50 minutos, e ao final ele resolveu que iria declinar a verdade sobre aquilo que ele sabia.
Folha - O sr. considera que Buratti vai levar adiante suas denúncias?
Costa Filho - Não posso prever o futuro, mas ele nos disse que tinha a intenção de contar toda a verdade, inclusive gostaria de ser ouvido novamente pela CPI dos Bingos para nominar as pessoas envolvidas no escândalo da GTech.
Folha - Buratti tem mais a dizer?
Costa Filho - Segundo ele, ele tem mais informações.
Folha - Mais informações que comprometeriam o ministro Palocci?
Costa Filho - Eu não sei, porque ele não nos disse. Mas disse que quer esclarecer e passar a limpo isso para não passar como único responsável por toda essa situação.
Folha - No decorrer das investigações, vemos citados vários nomes do círculo de amizade e até do círculo administrativo do ministro Antonio Palocci. Essas pessoas continuaram agindo juntas mesmo depois da saída de Palocci da Prefeitura de Ribeirão, segundo o que indica a investigação?
Costa Filho - Acho que cada um foi para um lado. O próprio Buratti disse que estava isolado, que não tinha mais contato e que todo mundo o deixou numa situação muito difícil depois que o escândalo da GTech apareceu.
Folha - E antes do escândalo?
Costa Filho - Aparentemente eles continuavam unidos. O Palocci na prefeitura, e o Buratti, depois do escândalo de Ribeirão Preto [1994], foi trabalhar na Leão Leão. E o PT, ao assumir a administração, passou a exigir o pagamento de R$ 50 mil por mês. Aparentemente eles estavam ligados, não de forma clara, explícita, mas implicitamente, por baixo do pano, eles continuavam unidos.
Folha - Incluindo o chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, e o ex-assessor do ministro, Wladimir Poletto?
Costa Filho - Sobre essas pessoas, nós temos conversas, várias, de Wladimir com Buratti falando de negócios na região e no Rio de Janeiro. E há algumas referências também ao Juscelino. Poucas referências, mas há. Aparentemente eles continuavam conversando e realizando um esquema, de acordo com o Buratti, visando conseguir dinheiro para caixa do PT.
Folha - Há críticas sobre a divulgação do vídeo que registrou o depoimento. O que ocorreu?
Costa Filho - Quem fez a gravação do vídeo foi a Polícia Civil. O Ministério Público não teve nenhuma participação com a gravação. E na divulgação também. O Ministério Público foi surpreendido com a exibição da fita. Sabíamos da gravação, mas não sabíamos que havia sido fornecida a um órgão de imprensa.
Folha - Qual o objetivo da gravação?
Costa Filho - Mostrar que o depoimento foi espontâneo, que foi legítimo, sem qualquer coação, sem qualquer constrangimento, ao contrário do que o advogado do Buratti até então dizia. Como o Buratti disse, ele resolveu falar porque percebeu que seu advogado não estava defendendo os interesses dele. O advogado tinha amizade com os advogados da Leão Leão, é um advogado que historicamente combate o Ministério Público e não gostaria de um acordo com o Ministério Público. Isso de alguma forma poderia macular seu currículo de "brigas" com o Ministério Público.
Especial
Leia mais sobre o ministro Antonio Palocci
Leia mais sobre Rogério Tadeu Buratti
Buratti quer revelar nomes, diz promotor
Publicidade
MARIO CESAR CARVALHO
ROGÉRIO PAGNAN
da Folha de S.Paulo
O advogado Rogério Buratti quer depor novamente na CPI dos Bingos, em Brasília, para "nominar" pessoas que tiveram participação em suposto esquema para renovação do contrato de R$ 650 milhões da Caixa Econômica Federal com a multinacional de informática GTech.
A informação foi prestada pelo próprio Buratti aos promotores de Ribeirão Preto (SP), após o depoimento em que acusou, na última sexta-feira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, de receber R$ 50 mil mensais da empresa de lixo Leão Leão para ajudar no caixa dois da direção nacional do PT, ao tempo de sua segunda gestão como prefeito de Ribeirão Preto (2000-2002).
Um dos seis promotores que atuam no caso, Aroldo Costa Filho, 42, 15 anos de Ministério Público, disse que o grupo não se sente "intimidado" com a acusação do Ministério da Fazenda, de que romperam normas ao divulgar o depoimento de Buratti, e que as investigações "vão continuar". Costa Filho, que não é filiado a partido político e não vota há mais de dez anos, falou à Folha antes da entrevista coletiva de Palocci, ontem, em Brasília. O promotor disse que há indícios de que Buratti e Palocci continuaram "ligados implicitamente, por baixo do pano". Leia a entrevista:
Folha - O Ministério Público se sentiu intimidado com a reação do Ministério da Fazenda?
Aroldo Costa Filho - De forma alguma. O promotor Sebastião [Silveira] comunicou à imprensa, inicialmente, o teor do depoimento do Buratti com autorização prévia do procurador-geral de Justiça. Nós não fizemos nada aleatoriamente sem consultá-lo porque sabíamos da relevância, da importância desse depoimento que poderia trazer implicações no âmbito econômico do país. Foi autorizado e nós cumprimos nosso dever constitucional de comunicar à imprensa e à sociedade aquilo que estava ocorrendo.
Folha - A nota em que a Fazenda acusa a Promotoria foi uma forma de pressionar os promotores?
Costa Filho - Pode ter sido feito com esse objetivo, mas isso não vai nos intimidar. Tudo o que fizemos nessas investigações foi com respaldo em documentos apreendidos, nas interceptações telefônicas e nos depoimentos colhidos. Nós temos indícios veementes de que tudo aquilo que o Buratti falou é verdade. Vamos prosseguir nossas investigações. No que se refere a Ribeirão, nós vamos continuar, nas outras cidades da região, também. No que tange ao ministro, vai para o STF [Supremo Tribunal Federal] e a Procuradoria Geral da República. E em relação aos prefeitos que ainda estão no cargo, no âmbito criminal, ao procurador-geral de Justiça, porque a ele compete também investigar e processar criminalmente esses prefeitos.
Com pressão ou sem pressão, isso não vai interferir em nada. Nós vamos continuar trabalhando do mesmo jeito. Ninguém vai calar o Ministério Público com ameaças de que vai representar ou processar. Nós temos consciência de que nosso trabalho foi feito de forma legítima, correta e nos termos da lei. Portanto não temos nada a temer e vamos continuar trabalhando.
Folha - Qual o peso do testemunho de Buratti?
Costa Filho - O depoimento dele veio confirmar toda a nossa investigação durante esse um ano e meio em que trabalhamos no caso, veio dar credibilidade e respaldar nossas investigações. Nós tínhamos documentos, nós tínhamos as interceptações, e o Rogério veio confirmar tudo isso.
Folha - Buratti se sentiu pressionado ou ameaçado a ponto de querer falar?
Costa Filho - Ao ser decretada sua prisão, na última quarta-feira, ao final do interrogatório, ele já disse que gostaria de conversar com os promotores. Mas como já era tarde, nove horas da noite, deixamos essa conversa para a manhã do dia seguinte. Na quinta de manhã, eu e Sebastião comparecemos ao CDP [Centro de Detenção Provisória] e lá, em conversa informal, ele disse que tinha medo. Porque com a sua prisão os fatos poderiam ser revelados e ele temia pela sua vida. Após a conversa, ele concluiu que a melhor forma de preservar a sua vida era falar a verdade, e disse que queria ser ouvido novamente. Foi agendado com o delegado seccional, na própria quinta-feira. Ele se entrevistou com seu advogado, [Roberto] Telhada, por volta de 40, 50 minutos, e ao final ele resolveu que iria declinar a verdade sobre aquilo que ele sabia.
Folha - O sr. considera que Buratti vai levar adiante suas denúncias?
Costa Filho - Não posso prever o futuro, mas ele nos disse que tinha a intenção de contar toda a verdade, inclusive gostaria de ser ouvido novamente pela CPI dos Bingos para nominar as pessoas envolvidas no escândalo da GTech.
Folha - Buratti tem mais a dizer?
Costa Filho - Segundo ele, ele tem mais informações.
Folha - Mais informações que comprometeriam o ministro Palocci?
Costa Filho - Eu não sei, porque ele não nos disse. Mas disse que quer esclarecer e passar a limpo isso para não passar como único responsável por toda essa situação.
Folha - No decorrer das investigações, vemos citados vários nomes do círculo de amizade e até do círculo administrativo do ministro Antonio Palocci. Essas pessoas continuaram agindo juntas mesmo depois da saída de Palocci da Prefeitura de Ribeirão, segundo o que indica a investigação?
Costa Filho - Acho que cada um foi para um lado. O próprio Buratti disse que estava isolado, que não tinha mais contato e que todo mundo o deixou numa situação muito difícil depois que o escândalo da GTech apareceu.
Folha - E antes do escândalo?
Costa Filho - Aparentemente eles continuavam unidos. O Palocci na prefeitura, e o Buratti, depois do escândalo de Ribeirão Preto [1994], foi trabalhar na Leão Leão. E o PT, ao assumir a administração, passou a exigir o pagamento de R$ 50 mil por mês. Aparentemente eles estavam ligados, não de forma clara, explícita, mas implicitamente, por baixo do pano, eles continuavam unidos.
Folha - Incluindo o chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, e o ex-assessor do ministro, Wladimir Poletto?
Costa Filho - Sobre essas pessoas, nós temos conversas, várias, de Wladimir com Buratti falando de negócios na região e no Rio de Janeiro. E há algumas referências também ao Juscelino. Poucas referências, mas há. Aparentemente eles continuavam conversando e realizando um esquema, de acordo com o Buratti, visando conseguir dinheiro para caixa do PT.
Folha - Há críticas sobre a divulgação do vídeo que registrou o depoimento. O que ocorreu?
Costa Filho - Quem fez a gravação do vídeo foi a Polícia Civil. O Ministério Público não teve nenhuma participação com a gravação. E na divulgação também. O Ministério Público foi surpreendido com a exibição da fita. Sabíamos da gravação, mas não sabíamos que havia sido fornecida a um órgão de imprensa.
Folha - Qual o objetivo da gravação?
Costa Filho - Mostrar que o depoimento foi espontâneo, que foi legítimo, sem qualquer coação, sem qualquer constrangimento, ao contrário do que o advogado do Buratti até então dizia. Como o Buratti disse, ele resolveu falar porque percebeu que seu advogado não estava defendendo os interesses dele. O advogado tinha amizade com os advogados da Leão Leão, é um advogado que historicamente combate o Ministério Público e não gostaria de um acordo com o Ministério Público. Isso de alguma forma poderia macular seu currículo de "brigas" com o Ministério Público.
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice