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18/12/2005 - 09h52

Intelectuais do PT querem "virada política"

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FÁBIO ZANINI
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Depois de ficarem afônicos durante grande parte da crise política, os intelectuais petistas estão lentamente deixando a letargia e buscam agora engrossar o coro dos que exigem a virada na política econômica, alianças eleitorais à esquerda e tolerância zero ao caixa dois, em possível segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Irritados, tentam recuperar um espaço que já foi deles no partido e que foi gradualmente reduzido desde que a revolução pragmática, comandada por José Dirceu, começou, há dez anos. Ironia das ironias, é o mesmo Dirceu que é hoje aliado tático contra o conservadorismo econômico.

"Não perdôo os responsáveis pelo que aconteceu no partido. Não aceito e não perdôo. No meu partido, não aceito isso, de forma alguma", diz a socióloga Maria Victoria Benevides, da Faculdade de Educação da USP.

O desabafo da professora é motivado pelo último lance da contabilidade criativa do ex-tesoureiro Delúbio Soares, o depósito de R$ 1 milhão para a Coteminas, empresa do vice-presidente, José Alencar. O desgosto de Benevides, no entanto, transparece também na crítica à política econômica de Antonio Palocci (Fazenda). "É o que existe de pior no governo."

Mudanças

Discretamente, está em curso no PT e em seu entorno uma movimentação para "fazer a disputa" do novo programa de governo de Lula, para a campanha da reeleição. Uma coalizão informal entre ministros liderados por Dilma Rousseff (Casa Civil), movimentos sociais e os "radicais" petistas já pode ser identificada, em oposição ao domínio da equipe econômica. É nessa canoa que os intelectuais querem entrar.

"O novo programa de governo precisa trazer o conceito claro de que a gestão macroeconômica do primeiro mandato teve o caráter de transição, para superar o modelo neoliberal. Tem de haver mudança fundamental e o resgate de nossas bandeiras históricas", diz o cientista político Juarez Guimarães, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Ligado à Fundação Perseu Abramo, centro de estudos políticos do partido, Guimarães já conseguiu fincar o pé da intelectualidade petista na comissão preparatória do programa de governo, um primeiro sinal de prestígio recuperado. Quem coordena a comissão é o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, um raro intelectual petista com poder real no governo.

Para o ano que vem, os intelectuais prometem mais. Querem ser ouvidos nos fóruns partidários. Vão participar de pelo menos seis seminários organizados no primeiro semestre pela fundação em parceria com o instituto alemão Friedrich Ebert. À bancada petista na Câmara dos Deputados já falaram Guimarães e Emir Sader, cientista político da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Outros também estão nos planos.

"Demonização"

Já me senti muito desanimada. Agora, estou indignada. Isso me motiva a brigar, inclusive dentro do PT", afirma Benevides. De acordo com ela, os intelectuais "têm uma certa culpa de não terem brigado o suficiente antes de as coisas acontecerem".

A exceção à regra é a filósofa Marilena Chaui, da USP, que mantém o silêncio e diz ter desistido de falar. Seus colegas se apressam em dizer que é um caso isolado. "Acho que se generalizou uma idéia a partir de uma condição muito particular da professora Marilena Chaui", afirma Guimarães.

Para Sader, a imagem de apatia é "relativa" e deve muito a um suposto bloqueio da mídia. "Certamente houve um desconcerto [por parte dos intelectuais], mas o bloqueio da imprensa foi brutal. Diga quais os espaços foram abertos para que a intelectualidade pudesse se expressar", diz.

São duas as frentes complementares que movem os acadêmicos petistas. Passado o susto paralisante com o esquema montado por Delúbio, eles agora enxergam a necessidade de defender o PT -- mais até do que o governo -- e a esquerda de forma geral. "Está em curso uma campanha de demonização da esquerda que nós não podemos aceitar", afirma Benevides.

Isso passa pela colaboração do próprio presidente Lula, de acordo com Sader. "O problema não é dentro do PT, é o Lula aceitar uma nova plataforma. Dentro do PT há quase um consenso sobre mudar o governo."

Há aproximadamente um mês, 20 reitores de universidades federais reunidos para apoiar José Dirceu, então ameaçado de cassação, chegaram a uma conclusão parecida. Energizados pelo ex-ministro, saíram da casa do secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Gustavo Balduino, prometendo um "engajamento militante" no próximo ano.

"O sentimento é de que há uma disposição plena de fazer o debate, uma rica oportunidade política. É preciso um engajamento militante", afirma Balduino.

E por que tanto silêncio, por tanto tempo? "Os intelectuais não têm o hábito de analisar a conjuntura, deixam mais para fazer a análise histórica. Chegou o momento", diz ele.

Especial
  • Leia a cobertura completa sobre a crise em Brasília
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