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30/10/2006 - 09h24

Durante crise, ministros sugeriram renúncia

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

Em agosto do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu de alguns ministros a sugestão de renunciar ao mandato. Lula rejeitou a idéia, mas ela dá a dimensão de quão tensos foram os dias que se seguiram ao depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios. Para Lula, aquele foi o seu pior momento, segundo apurou a Folha em conversas reservadas.

Sem combinar versões ou estratégias de defesa com o PT, Duda decidiu depor à CPI, na qual chegou a chorar. Ele confessou que recebera do publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, R$ 10,5 milhões em pagamento a trabalhos para o PT nas eleições de 2002. Segundo Duda, a campanha de Lula teria sido quitada com dinheiro legal. Os R$ 10,5 milhões seriam pagamento, via caixa 2, de outras campanhas do partido.

Duda e o governo estavam sendo chantageados por Valério, que exigia proteção política e dinheiro para ficar calado.

Naqueles dias, a cúpula do governo imaginava que um processo de impeachment poderia começar, ainda que não prosperasse, já que a base parlamentar do governo estava em frangalhos e as pesquisas de opinião indicavam queda em sua popularidade.

Foi nesse contexto que alguns ministros sugeriram a Lula a renúncia. "Vocês são uns frouxos. Vou resistir", disse o presidente, de acordo com relatos obtidos pela Folha.

A oposição ajudou Lula. Um emissário do presidente ouviu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do então prefeito de São Paulo, José Serra, que eles não participariam de uma tentativa de impeachment. Os tucanos avaliaram que Lula sangraria politicamente e seria presa fácil na eleição do ano seguinte. Serra deixaria a prefeitura para concorrer ao Planalto, e o PSDB retornaria ao poder.

Naquele momento, FHC chegou a sugerir publicamente que Lula não fosse candidato à reeleição. Novamente, alguns ministros do presidente discutiram o tema com ele. Lula terminaria o mandato, a oposição não tentaria seu impeachment, e ele desistiria de concorrer. Mais uma vez, o petista resistiu. Auxiliares contam que o presidente chegou a chorar, mas nunca jogou a toalha

Ainda no fim de agosto, no dia 25, Lula afirmou, numa reunião reservada, que só seria candidato se tivesse chance de vitória, o que levou parte da imprensa a acreditar que ele poderia desistir da reeleição. Mas, imediatamente, falou algo contraditório: "Se o PT estiver muito mal, se o governo estiver apanhando de tudo quanto é lado, vou ser candidato para defender o PT e o meu governo. Aí não tem jeito."

Genoino

No início de julho, a revista "Veja" revelou que Marcos Valério avalizara empréstimos de R$ 2,4 milhões do banco BMG ao PT. O documento também foi assinado por Delúbio Soares, então tesoureiro da sigla, e por José Genoino, à época presidente do partido. A primeira reação de Genoino foi negar a assinatura. Quando Lula viu a revista, chorou. "Não acredito que o Genoino tá nisso", disse.

No dia 8 daquele mês, a Polícia Federal prendeu, no Aeroporto de Congonhas, um assessor do irmão de Genoino com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 escondidos na cueca. Lula também não acreditou na história na primeira vez. Confirmado o episódio, disse que parecia "um pesadelo". No dia seguinte, Genoino renunciou à presidência do partido. Para Lula, Genoino pagou caro por erros nos quais não teve participação.

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