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19/09/2005 - 07h14

"Berço dos mamíferos", no Rio de Janeiro, sofre com abandono

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MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

O homem esteve lá há mais de 8.000 anos, e o poder público não aparece também há um bom tempo. Considerado por cientistas o "berço dos mamíferos" por abrigar fósseis de animais primitivos que viveram entre 60 milhões e 2 milhões de anos atrás, o Parque Paleontológico São José de Itaboraí, em Itaboraí (cidade a 45 km do Rio) está abandonado.

Sem vigilância, fiscalização ou infra-estrutura, o parque --criado pela Prefeitura de Itaboraí em 1995 em uma área de 1,3 quilômetro quadrado-- vem sendo invadido e sofrendo com o roubo de fósseis de grande importância histórica e científica.

Logo na entrada, há um pequeno museu que pode ser considerado o retrato do abandono. As janelas do prédio estão quebradas, facilitando o roubo.

"Em quase dez anos de parque, nada ou muito pouco foi feito. Não conseguimos sensibilizar os órgãos de fomento sobre a riqueza do lugar", disse Maria Antonieta Rodrigues, geóloga da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e uma das defensoras do local .

Nessa região foram encontrados fósseis de mamíferos como a preguiça gigante, de marsupiais, parentes muito antigos dos cangurus e gambás, além de ancestrais dos tatus e tamanduás. Também são achados restos de répteis, moluscos e aves primitivas, animais que viveram nos períodos Paleoceno (há 60 milhões de anos) --fase que se seguiu à extinção dos dinossauros-- e Pleistoceno (2 milhões de anos).

Segundo a paleontóloga Lílian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foram encontradas em Itaboraí pelo menos 60 espécies diferentes de animais extintos --a primeira delas em 1926.

"O parque foi o primeiro registro brasileiro da existência de mamíferos após o fim dos dinossauros", declarou Bergqvist, autora de artigos científicos sobre o local.

O material tem sido objeto de estudos de pesquisadores de universidades brasileiras e de várias partes do mundo.

Segundo Rodrigues, a importância do parque o incluiu na cronologia sul-americana das eras geológicas. São José de Itaboraí nomeia um andar (subperíodo, no jargão geológico) chamado Itaboraiense, do período Paleoceno. Ela disse que a riqueza da região se assemelha à da Patagônia, na Argentina.

"É a única reserva no Brasil que apresenta essas características", disse Benedito Humberto Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Arqueologia e um dos principais estudiosos da região. A maioria dos fósseis achados no parque está hoje no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista (zona norte do Rio), mas muitos outros, segundo Benedito Rodrigues, permanecem escondidos no sítio paleontológico.

Pré-história no Maracanã

A área onde está localizado o parque foi, durante 50 anos (1933-1983), propriedade da empresa Cimento Mauá, que explorava o calcário da região e teve participação importante em grandes obras realizadas no Rio, como o estádio do Maracanã e o aeroporto internacional, na Ilha do Governador (zona norte).

Para realizar a atividade, a mineradora abriu uma cratera de cerca de cem metros no local. A escavação atingiu o lençol freático e formou uma lagoa artificial (leia texto na próxima página).

Doze anos depois do fim da exploração do calcário na região, a prefeitura de Itaboraí desapropriou a área e criou o parque.

Outra relíquia, segundo Maria Antonieta, são rochas resultantes de erupções vulcânicas-- chamadas de ancaramitos. Somente em outros dois pontos do Estado existe material desse tipo.

Invasões

Sem uma vigilância permanente, a área compreendida pelo parque foi invadida por cerca de 50 famílias, que vivem nas antigas instalações da Mauá.

Como não há saneamento básico, esgoto e lixo são jogados no parque. Garrafas, plásticos, latas de cerveja e restos de comida são espalhados por toda a área. "Em breve, o parque se transformará em um grande favelão", declarou Benedito Rodrigues.

Como não há fiscalização, os fósseis são retirados do local indiscriminadamente. A Folha flagrou o aposentado Adílson Bernardes de Sá, 65, com uma bolsa cheia de fósseis de caramujos petrificados que havia acabado de recolher. Ele disse que entregaria o material a cientistas. Os pesquisadores que se aventuram pelo local, no entanto, têm pouco apoio.

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