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13/12/2005
-
09h47
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
Filhotes de camundongo que passaram por uma cirurgia complicada quando ainda estavam na barriga da mãe são a mais nova prova do potencial científico e, quem sabe, terapêutico das células-tronco embrionárias humanas (CTEHs). Essas curingas do organismo foram injetadas no cérebro dos bichos e se integraram a ele, criando cobaias cujo órgão era parcialmente humano.
O trabalho, encabeçado pelo biólogo brasileiro Alysson Muotri, do Instituto Salk de Estudos Biológicos (Estados Unidos), está na edição de hoje da revista científica "PNAS" (www.pnas.org). Além do lado assombroso de ver células de origem humana perfeitamente conectadas a várias regiões do cérebro de uma outra espécie, os resultados prometem abrir caminho para formas bem mais sofisticadas de estudar doenças mentais, simulando-as com precisão em cobaias.
"Conseguimos diversos tipos de neurônios, oligócitos e astrócitos", diz Muotri, citando as várias formas de célula do sistema nervoso que o experimento gerou. A idéia, segundo ele, era justamente mostrar o potencial de diferenciação, ou seja, de especialização, das células-tronco embrionárias. Elas são uma das maiores esperanças da medicina para regenerar tecidos e órgãos lesados, mas ninguém ainda sabe como controlar suas capacidades.
Terreno fértil
Normalmente, injetar as CTEHs em seu estado "puro", sem direcionar de alguma forma seu desenvolvimento, seria receita para o desastre. Elas podem até gerar teratomas, tumores que são uma mistura horripilante de todos os tecidos possíveis, incluindo dentes totalmente formados. Mas a coisa muda de figura quando o receptor das células está na fase embrionária --no caso, camundongos no 14º dia de gestação.
Nessa fase de seu desenvolvimento, os bichos foram delicadamente retirados do útero materno (com placenta e tudo) e receberam em seu cérebro injeções de CTEHs marcadas com um corante fluorescente, para permitir que os cientistas as rastreassem mais tarde. "Preferimos os 14 dias de gestação por algumas razões. Uma delas é que nesse estágio o feto já está com o sistema nervoso isolado, e é nula a chance de que alguma das células injetadas migre para o sistema reprodutor", produzindo roedores com espermatozóides ou óvulos humanos. Além disso, nessa fase ainda não há risco de rejeição, diz Muotri.
Depois que os animais nasceram, os pesquisadores os sacrificaram e examinaram em detalhe sua estrutura cerebral. Descobriram não só que as CTEHs haviam se espalhado por todo o órgão (numa quantidade inferior a 0,1% do total, em média), mas que elas haviam estabelecido conexões com as demais e até haviam se ajustado em tamanho --as humanas tendem a ser maiores.
"Essa é a primeira vez que se consegue a integração funcional dessas células diferenciadas num organismo vivo", resume Muotri.
"As possibilidades são enormes. Poderíamos transplantar CTEHs derivadas de pacientes com Alzheimer [por clonagem] para o cérebro de animais normais e observar a capacidade de integração e diferenciação delas", sugere o biólogo. Seria um dos modelos mais realistas já criados para entender doenças neuronais, e nem haveria necessidade de aumentar o número de células humanas nos bichos para isso, afirma o pesquisador do Salk.
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Filhotes de camundongo que passaram por uma cirurgia complicada quando ainda estavam na barriga da mãe são a mais nova prova do potencial científico e, quem sabe, terapêutico das células-tronco embrionárias humanas (CTEHs). Essas curingas do organismo foram injetadas no cérebro dos bichos e se integraram a ele, criando cobaias cujo órgão era parcialmente humano.
O trabalho, encabeçado pelo biólogo brasileiro Alysson Muotri, do Instituto Salk de Estudos Biológicos (Estados Unidos), está na edição de hoje da revista científica "PNAS" (www.pnas.org). Além do lado assombroso de ver células de origem humana perfeitamente conectadas a várias regiões do cérebro de uma outra espécie, os resultados prometem abrir caminho para formas bem mais sofisticadas de estudar doenças mentais, simulando-as com precisão em cobaias.
"Conseguimos diversos tipos de neurônios, oligócitos e astrócitos", diz Muotri, citando as várias formas de célula do sistema nervoso que o experimento gerou. A idéia, segundo ele, era justamente mostrar o potencial de diferenciação, ou seja, de especialização, das células-tronco embrionárias. Elas são uma das maiores esperanças da medicina para regenerar tecidos e órgãos lesados, mas ninguém ainda sabe como controlar suas capacidades.
Terreno fértil
Normalmente, injetar as CTEHs em seu estado "puro", sem direcionar de alguma forma seu desenvolvimento, seria receita para o desastre. Elas podem até gerar teratomas, tumores que são uma mistura horripilante de todos os tecidos possíveis, incluindo dentes totalmente formados. Mas a coisa muda de figura quando o receptor das células está na fase embrionária --no caso, camundongos no 14º dia de gestação.
Nessa fase de seu desenvolvimento, os bichos foram delicadamente retirados do útero materno (com placenta e tudo) e receberam em seu cérebro injeções de CTEHs marcadas com um corante fluorescente, para permitir que os cientistas as rastreassem mais tarde. "Preferimos os 14 dias de gestação por algumas razões. Uma delas é que nesse estágio o feto já está com o sistema nervoso isolado, e é nula a chance de que alguma das células injetadas migre para o sistema reprodutor", produzindo roedores com espermatozóides ou óvulos humanos. Além disso, nessa fase ainda não há risco de rejeição, diz Muotri.
Depois que os animais nasceram, os pesquisadores os sacrificaram e examinaram em detalhe sua estrutura cerebral. Descobriram não só que as CTEHs haviam se espalhado por todo o órgão (numa quantidade inferior a 0,1% do total, em média), mas que elas haviam estabelecido conexões com as demais e até haviam se ajustado em tamanho --as humanas tendem a ser maiores.
"Essa é a primeira vez que se consegue a integração funcional dessas células diferenciadas num organismo vivo", resume Muotri.
"As possibilidades são enormes. Poderíamos transplantar CTEHs derivadas de pacientes com Alzheimer [por clonagem] para o cérebro de animais normais e observar a capacidade de integração e diferenciação delas", sugere o biólogo. Seria um dos modelos mais realistas já criados para entender doenças neuronais, e nem haveria necessidade de aumentar o número de células humanas nos bichos para isso, afirma o pesquisador do Salk.
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