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13/09/2007 - 09h38

Cientista brasileira faz "contrabando" para burlar veto dos EUA

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Cientistas brasileiros precisaram "contrabandear" nanotubos de carbono, um produto químico de alta tecnologia usado em pesquisa básica, após terem um pedido de compra negado por uma empresa dos Estados Unidos.

O caso aconteceu em 2005 e foi relatado ontem pela química Adelina Pinheiro Santos, do Laboratório de Química de Nanoestruturas do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, órgão da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) em Belo Horizonte. É mais um exemplo de restrições que têm sido impostas a cientistas brasileiros por normas de exportação em vigor nos EUA.

Ontem a Folha revelou que a fabricante de computadores Dell tentou impor restrição à compra de equipamentos pelo físico Paulo Gomes, da Universidade Federal Fluminense, exigindo que ele assinasse um termo declarando que não usaria o computador "na produção de armas de destruição em massa" nem que transferisse os equipamentos a cidadãos de países do "eixo do mal", como Cuba, Irã e Coréia do Norte.

Cientistas ouvidos pelo jornal afirmam que vários grupos de pesquisa no país têm sido cerceados pelos EUA na importação de produtos considerados sensíveis, como fibras de carbono, sensores eletrônicos de alta freqüência e material para pesquisa nanotecnológica. Os americanos temem uso militar desses componentes -como em centrífugas de urânio.

"O Brasil integra uma lista de países chamados "sensíveis", que têm um alto grau de proibição", disse à Folha Ricardo Galvão, diretor do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas). "Somos continuamente foco desse cerceamento, que eu acho inaceitável."

O próprio Galvão já sentiu a proibição na pele, também em 2005, ao tentar receber de colaboradores portugueses uma peça que continha equipamentos de microondas. Depois de muita espera, descobriu que a peça vinda da Europa havia sido desviada para os EUA, que barraram seu envio ao Brasil. A pesquisa que usaria o equipamento não pôde ser feita.

Em outra ocasião, os americanos chegaram a proibir o Cern, o Centro Europeu de Física Nuclear, na Suíça, de mandar dispositivos microeletrônicos para serem testados no Brasil. "Precisaram fazer tudo lá, com tecnologia mais cara."

Nanotubos na mala

Adelina Santos, da CNEN, teve mais sorte, graças ao tamanho do material de que precisava --e da ajuda de um colega que trabalhava nos EUA.

No primeiro semestre de 2005, ela tentou comprar 1 grama de nanotubos de carbono da empresa americana Carbon Nanotechnologies Inc. para uma pesquisa no desenvolvimento de polímeros. Nanotubos são tubos compostos de átomos de carbono com milionésimos de milímetro de comprimento. Sua produção, no entanto, é tão sofisticada que, apesar de nano, seu preço é mega: 1 g custa US$ 500.

Mas nem com o dinheiro na mão Santos conseguiu o material. A resposta da empresa foi dada por e-mail: "Infelizmente não somos autorizados a vender para o Brasil no momento. O governo dos EUA tem regulações estritas no tocante à exportação de certos materiais".

"Eles ainda foram gentis comigo", brinca a cientista. "Uma colega minha mandou uma solicitação no mês passado e nem recebeu resposta."

"Tive de pedir a um colega que estava nos EUA na época para fazer a compra. Nos encontramos num congresso, ele me passou o material, botei na mala morrendo de medo e trouxe. Vê só que situação!"

Galvão, do CBPF, diz que o governo brasileiro deveria negociar com os EUA o alívio às proibições. "Nem o Chile tem tantas." Por enquanto, o físico protesta como pode. "Eu, pessoalmente, não compro mais computadores Dell."

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