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28/12/2007 - 10h50

Inovação tecnológica sobrevive com dinheiro público

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EDUARDO GERAQUE
da Folha de S.Paulo

Não bastasse ter uma indústria pouco capaz de transformar conhecimento científico em riqueza, o Brasil enfrenta um outro problema: as empresas nacionais que buscam desenvolver inovação tecnológica estão ainda quase todas atreladas ao capital público.

Um exemplo é o Cietec (Centro Incubador de Empresas Tecnológicas), uma das principais incubadoras de empresas do país. Em abril, a iniciativa do governo paulista, mantida apenas com dinheiro público, faz dez anos e seus resultados confirmam a dependência estatal.

Das 128 empresas reunidas na incubadora atualmente, apenas cinco já receberam algum aporte de fundos de investimento privado. As outras vivem com linhas de financiamento estaduais e federais.

"Um problema para as empresas de inovação, ao meu ver, é a falta de recursos humanos específicos", explica Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Ou seja, nem sempre o cientista entende de negócios e nem sempre o administrador entende de ciência.
"Concordo com ele. Mas é por isso, talvez, que aqui estamos no caminho certo", afirma Flávio Lacerda, o lado administrativo da diretoria da Adespec -Adesivos Especiais.

Enquanto ele responde pelo posicionamento da empresa no mercado, a engenheira química Wang Shu Chen faz ciência.

Nascida em 2001 como incubada do Cietec, a empresa de adesivos "ecológicos" (eles não usam solventes, substâncias que causaram problemas de saúde em Chen quando ela trabalhava em uma grande empresa do setor) recebeu, agora em 2007, um aporte importante.

O fundo administrado pela Rio Bravo, que tem como um dos sócios Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, colocou aproximadamente R$ 5 milhões na empresa.

"Nossa expectativa é chegar em 2012 com um faturamento anual de R$ 50 milhões", explica Lacerda.

Atualmente, a empresa não fatura nem 10% disso. "Estamos em um mercado [de adesivos e selantes ecológicos] de aproximadamente US$ 220 milhões", explica o diretor da Adespec. Antes de ser capitalizada por fundos de investimento, a Adepesc recebeu R$ 1 milhão de verba pública, boa parte desses recursos de instituições como a Fapesp.

Sobrevivência

Como não pode colocar o seu dinheiro em produtos de mercado, a agência paulista lançou em 2004 um programa para ajudar empresas a chegarem até o mundo real. Os recursos vieram da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), uma agência do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Esse programa de inovação tecnológica já injetou no sistema, entre 2005 e setembro de 2007, em todas as fases, R$ 7,9 milhões. Mas isso é apenas parte do bolo.

A agência de fomento paulista mantém um outra linha, própria, para fazer com que as empresas possam chegar até as portas do mercado.

Nesse outro trilho já foram colocados R$ 98,8 milhões em dez anos. Ao todo, 692 projetos foram ajudados. Deste total, 214 chegaram ao fim da segunda fase, de onde saíram as 20 empresas que foram apoiadas com os recursos da Finep. Essa taxa de sucesso é considerada normal pela instituição.

Passados três anos, 85% das 20 empresas estão no mercado, segundo apurou a Folha. Um estudo mais sistemático sobre isso está sendo feito.

"Agora começamos a ter retorno comercial. O apoio do programa público foi fundamental", afirma Spero Morato, da empresa Lasertools.

A inovação, neste caso, não foi um produto, mas um sistema que usa o laser para fazer gravações em vários tipos de peça. Para isso, a empresa trabalha com três pesquisadores.

Menos sorte teve a Brasil Ostrich, apoiada pelo mesmo programa, que desenvolveu um software de gestão e criação de avestruzes. A firma ainda não conseguiu entrar no mercado.

"O problema é que o setor, há dois anos e meio, entrou em uma crise profunda. Foi uma variável externa que afetou nossas projeções, mas estamos esperando a poeira baixar para retomar as vendas", disse Celso Carrer, diretor da empresa.

Se em algumas empresas apoiadas pelo capital público, o que é normal no exterior, o faturamento aumentou 500%, o caso do Cietec mostra um sistema de inovação com falhas --como é a falta de empreendedores--, ainda insolúveis.

 

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