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11/10/2001 - 22h07

Tormenta de poeira em Marte altera plano da Nasa

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Ninguém na Nasa diz, mas a maior tempestade de areia em Marte nos últimos 30 anos pode trazer de volta o fantasma do fracasso para o programa de exploração do planeta vermelho.

Divulgação/Nasa
Marte antes da tempestade (esq.) e depois

A agência espacial americana promoveu uma entrevista coletiva hoje, em seu quartel-general em Washington, para anunciar os resultados conjuntos obtidos pelo telescópio espacial Hubble e pela sonda Mars Global Surveyor sobre o acompanhamento da tempestade. Ela toma conta de toda a superfície do planeta desde junho.

Os cientistas estão olhando bem de perto esse fenômeno, por mais de uma razão. Além da importância científica, a Nasa vela pela segurança da mais nova investida sobre o planeta, a sonda Mars Odyssey. Embora a nave não vá descer à superfície, a intensidade da tempestade exigirá ajustes no procedimento de entrada em órbita do veículo ao redor de Marte.

A razão para as sutis modificações é o efeito que uma grande tempestade de areia produz na atmosfera do planeta. Com o pó levantado, a temperatura se eleva (em até 45ºC, segundo a Nasa). Isso ocorre porque as partículas conservam o calor gerado pela absorção da luz solar melhor que a rarefeita atmosfera do planeta. O aquecimento, por sua vez, causa uma expansão da atmosfera _ou seja, ela fica mais alta.

A Mars Odyssey deve chegar a Marte em menos de duas semanas. A estratégia para colocá-la em órbita usa dois mecanismos. O primeiro é o disparo dos propulsores para frear a nave, colocando-a em uma órbita extremamente elíptica. "É uma órbita grande, de 20 horas", diz Jeffrey Paulp, um dos coordenadores da equipe da Mars Odyssey, do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato).

Aerofrenagem

Nessa órbita, a nave faz vôos "rasantes" sucessivos sobre o planeta, entrando em contato com a camada superior da atmosfera marciana. Usando o chamado arrasto atmosférico (em termos mais simples, resistência do ar), a nave vai, a cada passagem, reduzindo ainda mais sua velocidade, o que converte gradualmente a órbita elíptica em circular.

Só que a quantidade de arrasto a que a nave é submetida tem de ser precisamente calculada. Com uma atmosfera expandida, ela fica mais intensa do que se Marte estivesse em tempos de calmaria.

"O processo de aerofrenagem [a redução da velocidade pelo arrasto atmosférico] normalmente ocorreria quando a nave estivesse a, no mínimo, 100 km da superfície. Em condições de tempestade de areia, essa altura subiria para uns 130 km", afirma Paulp.

Depois de dois fracassos sucessivos (com as sondas Mars Polar Lander e Mars Climate Orbiter, ambas perdidas em 1999), a Nasa reavaliou todo o seu projeto de exploração robótica de Marte. A Mars Odyssey é a primeira nave da nova leva. Sobre seus ombros está toda a responsabilidade de mostrar que a agência americana dessa vez está no caminho certo.

Apesar da responsabilidade e do fator de risco adicional trazido pela tempestade de areia, a equipe da Mars Odyssey não está mais apreensiva por causa disso.

"Na verdade, isso nos deu ainda mais confiança, por sabermos que temos os 'olhos' da Mars Global Surveyor vigiando quando essas tempestades acontecem", afirma Paulp. O cientista não antecipa dificuldades para ajustar a altitude da nave a cada passagem, de acordo com o comportamento da atmosfera. "Teríamos de fazer isso diariamente de qualquer jeito _é apenas uma questão de sabermos o quanto precisamos erguer a nave."

Além de ajudar a garantir o sucesso da Mars Odyssey, a Nasa também teve a melhor chance de observar a formação de uma tempestade de areia em escala global.

"Essa é a oportunidade de uma vida inteira", disse James Bell, da equipe do Hubble, na coletiva em Washington. "Temos uma visão fenomenal e sem precedentes vinda dessas duas naves."

O Hubble, em órbita da Terra, deu uma visão panorâmica do fenômeno, com imagens que mostravam todo o planeta. Já a Mars Global Surveyor ofereceu tomadas localizadas da tempestade. "Os cientistas ainda não podem dizer por que essas tempestades surgem, mas já podem descrever de forma razoável como elas se desenvolvem", afirma Paulp.

O fenômeno começou em junho no hemisfério Sul do planeta e acabou se espalhando por toda a superfície. Os ventos chegam a atingir mais de 100 km/h.

Tempestades de areia são razoavelmente comuns em Marte, mas eventos que atinjam escala global são bem mais raros. "A última vez que isso aconteceu foi quando as Vikings [sondas enviadas a Marte em 1975] estavam chegando lá", diz David Mitchell, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
 

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