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15/01/2002 - 10h07

Pesquisadores criam bactéria mutante para combater o amarelinho

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
da Folha de S.Paulo

Cientistas do Fundecitrus, em Araraquara (SP), criaram há pouco mais de um mês mutantes da bactéria Xylella fastidiosa, que podem anular a função patogênica do microorganismo, ou seja, a capacidade de causar a doença do amarelinho (Clorose Variegada dos Citros). A descoberta será divulgada nesta semana pelo Fundecitrus.

O amarelinho incide sobre mais de um terço dos 200 milhões de pés de laranja de São Paulo e provocou perdas estimadas em R$ 650 milhões em 2000.

As bactérias mutantes foram obtidas pelo francês Patrice Gaurivaud, bolsista do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), que usou a técnica de inserção de DNA na célula da Xylella, desenvolvida em junho de 2000 pela bióloga Patrícia Brant Monteiro.

Patrícia conta que foram selecionados 27 genes relacionados à patogenicidade da bactéria. "Isso foi fácil porque o projeto Genoma identificou genes homólogos aos existentes em outras bactérias causadoras de doenças em plantas", diz a cientista, em referência ao sequenciamento do genoma da Xylella, o primeiro feito em todo o mundo com fitopatógeno.

Fragmentos de DNA montados com material genético da bactéria Escherichia coli e da própria Xylella foram introduzidos na célula por meio de eletrosporação. Nessa técnica, choques elétricos criam poros nas membranas da célula da bactéria, abrindo caminho para a entrada do pedaço alienígena de DNA.

Dos 27 genes, 12 apresentaram resultados favoráveis, levando à produção de bactérias mutantes. Elas serão inoculadas em plantas de uva, fumo, vinca e citros colocadas numa sala que imita as condições climáticas do norte de SP.

A sala foi equipada com recursos da Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os cientistas vão averiguar neste semestre se as plantas não ficarão doentes e quais genes mutantes eliminaram de fato a função patogênica da bactéria.

"Podem sobrar três ou quatro genes mutantes com a função patogênica "desligada" no final dessa etapa", diz a cientista. Uva e fumo foram escolhidos por apresentar sintomas primeiro que os citros.

Os genes modificados estão ligados a diferentes aspectos do funcionamento da Xylella, como o metabolismo do ferro, objeto de controvérsia entre os pesquisadores que trabalham no projeto Genoma Funcional, que tem como finalidade estudar diferentes aspectos da biologia da bactéria.

"Ficamos tentados em pesquisar esse aspecto porque há um conjunto de genes da Xylella envolvidos no metabolismo do ferro", diz a bióloga.

As dúvidas na comunidade científica são se a quantidade de ferro sequestrada causa danos à planta, como se dá esse processo e quais as consequências disso na laranjeira. O ferro é elemento essencial em reações bioquímicas que ocorrem nas células de qualquer organismo.

Também foram escolhidos genes vinculados à produção da goma que funciona como uma capa protetora do agregado de bactérias formado por células ligadas umas às outras por espécies de pontes chamadas de pilus. O agregado de células e sua goma protetora bloqueiam a passagem de água e nutrientes pela planta, provocando a CVC.

A goma, constituída por polissacarídeos (açúcares), protegeria a bactéria contra toxinas e produtos químicos em circulação no interior da planta, além de concentrar nutrientes para a alimentação da Xylella. Acredita-se também que a goma permite a adesão dos agregados de Xylella nos vasos do xilema (conjunto de vasos condutores de água e sais minerais).

Alguns dos 12 genes escolhidos codificam para enzimas que degradam a parede celular da planta permitindo o deslocamento da Xylella pelo vegetal. Se esses genes são "desligados", a bactéria não conseguiria atravessar os vasos da laranjeira, o que inibiria a colonização da planta.

Finalmente, foram selecionados genes vinculados à emissão de toxinas pela bactéria relacionadas à indução de sintomas da doença na planta. Genes envolvidos no processo de agregação entre as células de Xylella serão utilizados para a produção de novas mutantes. O objetivo é verificar se a mutação impede a agregação das células e o entupimento dos vasos.

Patrícia iniciou sua pesquisa em 98, quando viajou à França para desenvolver a técnica de modificação genética da bactéria.

Leia também:

  • Genoma abriu caminho para combate ao amarelinho

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