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06/12/2002 - 08h58

Chuva de meteoros causou dilúvio que inundou Marte, diz pesquisa

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Noé era feliz e não sabia. Como teria vivido na Terra, há 4.500 anos, pegou só 40 dias e 40 noites de chuva torrencial. Se tivesse nascido em Marte, há 3,8 bilhões de anos, teria enfrentado um dilúvio com duração de uma década.

Pode parecer uma verdadeira catástrofe do ponto de vista de um suposto Noé marciano, mas talvez tenha sido o episódio que deu à vida uma oportunidade mínima no planeta vermelho. É o que sugerem pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder e do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, ambos nos EUA.

Ao que parece, a evolução do planeta junta dois grandes episódios astronômicos do Sistema Solar em uma única cadeia de eventos. O primeiro diz que o planeta vermelho um dia já foi coberto por rios caudalosos, grandes lagos e oceanos. O outro conta que os planetas internos do Sistema Solar (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) foram bombardeados por uma violenta chuva de asteróides há 3,8 bilhões de anos.

A partir de uma simulação, os cientistas ligaram as duas coisas. Segundo eles, os impactos sobre a superfície marciana teriam aquecido o planeta e "despertado" seu ciclo hidrológico, atirando uma quantidade colossal de vapor d'água para a atmosfera.

Tudo que sobe tem de descer. Resultado: chuvas —por anos a fio. E o deserto vira mar. O planeta começa a se resfriar, mas ainda mantém ambiente favorável à água líquida (e, teoricamente, à vida) por mais 10 mil anos. Então, a água começa a se alojar no subsolo, congelar, evaporar e sumir da superfície —o mar vira deserto. Fim da história para aquele planeta azul, potencial irmão da Terra. Nasce o planeta vermelho.

"Essa era uma idéia que já havia sido sugerida antes, mas nunca confirmada com simulações", conta Teresa Segura, primeira autora do estudo que está publicado hoje na revista "Science". Agora o cenário parece bem mais provável, mas ainda assim especulativo.

"A única forma de confirmarmos essas idéias definitivamente é indo até lá", diz Segura, que é da Universidade de Colorado, mas está temporariamente no Ames.

Sondas automáticas não seriam de muita ajuda. Ela explica. "Seria preciso ter muita mobilidade na superfície, porque você não pode aterrissar no meio do penhasco para analisar as camadas das crateras", diz. "Nem mesmo as sondas de superfície teriam essa mobilidade. Teríamos de ir, mesmo."

Como isso não vai acontecer antes de pelo menos umas duas décadas, Segura e sua equipe continuam trabalhando no aprimoramento dos estudos teóricos. "Estamos incluindo mais detalhes nas simulações. E é interessante que todas as coisas que deixamos de fora originalmente só vão fazer aumentar o tempo em que a água era estável na superfície."

Ainda assim, sondas podem fazer um bocado pelo estudo de Marte. Outro estudo, também publicado hoje na "Science" (mas apenas na internet), mostra que há camadas de água congelada em contato direto com o ar marciano, na calota polar do sul.
 

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