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cacique - Não use este termo da língua dos taínos para designar todo e qualquer líder temporal de grupo de índios. Reserve-o para chefes de grupos indígenas da América Central e das Antilhas. Para os demais, use chefe. Veja pajé.

cacoete de linguagem - Evite expressões pobres de valor informativo e portanto dispensáveis em textos noticiosos: antes de mais nada, ao mesmo tempo, pelo contrário, por sua vez, por outro lado, via de regra, com direito a, até porque.

Dispense também modismos ou chavões que vulgarizam o texto jornalístico: Inflação galopante, erro gritante, óbvio ululante, rota de colisão, vitória esmagadora, luz no fim do túnel, prejuízos incalculáveis, consequências imprevisíveis, no fundo do poço, inserido no contexto, detonar um processo, equipamento sofisticado, avançada tecnologia, caixinha de surpresas, caloroso abraço, fonte inesgotável, ruído ensurdecedor, em nível de, extrapolar, a todo vapor, atuação impecável (irretocável, irrepreensível), na vida real, catapultar, pavoroso incêndio, confortável mansão, calorosa recepção, duras (pesadas) críticas, escoriações generalizadas, o cardápio da reunião, ataque fulminante, fortuna incalculável, preencher uma lacuna, perda irreparável, líder carismático, familiares inconsoláveis, monstruoso congestionamento, calorosos aplausos, sonora (estrepitosa) vaia, trair-se pela emoção, quebrar o protocolo, visivelmente emocionado, gerar polêmica, abrir com chave de ouro, aparar as arestas, trocar figurinhas, a toque de caixa, chegar a um denominador comum, correr por fora, ser o azarão, consternar profundamente, coroar-se de êxito, debelar as chamas, literalmente tomado, requintes de crueldade, respirar aliviado, fazer uma colocação, tirar uma resolução, carreira brilhante (meteórica), atirar farpas, estrondoso (fulgurante, retumbante) sucesso, enquanto [significando "na condição de"], perfeita sintonia, corações e mentes, dispensa apresentação, fez por merecer, importância vital, com direito a.

Corte ou substitua essas expressões sempre que possível em textos noticiosos, mas atenção: às vezes elas podem dar cor ou ironia a um texto mais leve, como "sides", "features" e colunas assinadas.

Evite também palavras que emprestem tom preciosista ou exagerado ao texto, como viatura, veículo, residência, mansão, esposa, colisão, falecer, óbito, magnata, miserável, sanitário, toalete. Dê preferência ao vocabulário coloquial: carro de polícia, carro, casa, mulher, batida, morrer, morte, empresário, pobre, banheiro.

cacófato - Embora o jornal não seja em geral lido em voz alta, evite -especialmente em títulos- termo chulo ou desagradável formado pela união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais de outra: por cada, conforme já, marca gol, nunca gostou, confisca gado, uma herdeira, boom da construção civil.

caixa- - caixa-d'água, caixa-dois (no sentido de caixa paralelo de empresas), caixa-forte, caixa-preta.

caixa alta/baixa - Veja maiúsculas/minúsculas.

calúnia/difamação/injúria - Existe uma gradação decrescente entre os três tipos de crime contra a honra. Caluniar alguém é atribuir falsamente fato definido como crime. Difamar é imputar fato ofensivo à reputação. Injuriar é ofender a dignidade ou o decoro de alguém. Consulte também o anexo Jurídico.

Câmara dos Deputados - Escreva sempre com maiúscula, mesmo em segunda menção: O presidente da Câmara. Veja maiúsculas/minúsculas.

Câmara Municipal - Escreva sempre com maiúscula, mesmo em segunda menção: O diretor-geral da Câmara. Veja maiúsculas/minúsculas.

campus - O plural desta palavra latina é campi.

capital - Não use como sinônimo de qualquer cidade em particular: São Paulo é capital apenas para os paulistas. Só faz sentido usar a palavra capital quando acompanhada do Estado ou país a que se está referindo: Reikjavík, capital da Islândia.

  Evite citar o país no caso de capitais muito conhecidas -como Paris, Moscou, Washington- ou que se tornam conhecidas em função do noticiário -como Bagdá durante a Guerra do Golfo.
capitalista - Esta palavra não deve ser usada para qualificar personagem da notícia. O empresário, o banqueiro, o industrial, o comerciante não devem ser chamados de capitalista. Autoridade pública de país capitalista deve ser identificada pelo seu cargo e nacionalidade: O presidente norte-americano, não o líder capitalista.

cardápio - Não deve ser usado em sentido figurado para designar os temas discutidos por pessoas: O prefeito e o governador do Rio jantaram juntos ontem; no cardápio, as próximas eleições. Veja cacoete de linguagem.

cardeal - A rigor, o título deve vir antes do sobrenome do prelado: O arcebispo de São Paulo, dom Paulo cardeal Arns, esteve ontem com o papa João Paulo 2º. Mas a forma é pouco coloquial. Prefira: O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns ou o cardeal Arns. Jamais escreva o cardeal dom Paulo, nem dom Arns. Veja tratamento de pessoa.

cargos - Escreva sempre com minúscula: presidente, secretário, ministro, diretor, professor, papa, deputado, doutor, juiz, embaixador, desembargador. Veja maiúsculas/minúsculas.

carioca - Referente à cidade do Rio de Janeiro. O adjetivo para o Estado do Rio de Janeiro é fluminense.

carisma - Não empregue este conceito da ciência política de maneira indistinta para qualquer liderança que aparente ter prestígio pessoal. Em grego, significa dom excepcional. Reserve o termo para políticos como Getúlio Vargas, Juan Domingo Perón, Charles de Gaulle, Fidel Castro, Adolf Hitler.

caro - É errado dizer que o preço está caro. O certo é o preço está alto.

castelhano - Prefira espanhol para designar o idioma.

Caso Clinton/Lewinsky - No caso Monica Lewinsky, pairam sobre o presidente dos EUA as suspeitas de falso testemunho (Clinton teria negado em juízo seu suposto relacionamento com a ex-estagiária da Casa Branca) e obstrução de justiça (ele teria coagido a moça a mentir sobre o assunto em depoimento). Em português, não é correto usar o termo perjúrio no lugar de falso testemunho. A expressão em inglês "grand jury'', utilizada para definir o júri que vai decidir se há evidências suficientes para indiciar Clinton, deve ser traduzida como júri de inquérito ou júri de inquisição. A tradução correta da expressão "material evidence'' é prova relevante.

CE - Use esta sigla para designar a Comunidade Européia. Não confunda com CEE, Comunidade Econômica Européia, uma das três organizações que compõem a CE. As outras duas são: Comunidade Européia de Energia Atômica (Euratom) e Comunidade Européia do Carvão e do Aço (conhecida pela sigla inglesa ECSC).

Países membros da CE: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal e Reino Unido.

Celsius - Escala de temperatura usada no Sistema Internacional. O zero representa o ponto de congelamento da água e o 100 o de ebulição ao nível do mar. A palavra vem de Anders Celsius (1701-1744), astrônomo sueco que criou a escala. Use Celsius ou ºC, nunca graus centígrados, o que seria uma redundância: A temperatura era de 33 graus Celsius negativos ou -33ºC, e não 33 graus centígrados.

centímetro - Deve-se usar a abreviatura cm quando antecedida de algarismo: O corte de tecido media 55 cm de largura.

cerca de - Evite. A melhor informação é sempre a mais precisa. Quando for indispensável, use apenas para números redondos e que não possam ser contados com facilidade: cerca de 200 pessoas estavam na festa, nunca cerca de 157 pessoas estavam na festa nem cerca de 11 bailarinos estavam no palco.

champanhe - Vinho branco espumante da região de Champanhe, nordeste da França. Se não vier dessa região, chame de espumante ou tipo champanhe. Tome cuidado com a concordância, porque o nome da bebida é masculino: o champanhe está gelado. Já o da região é feminino: Uma viagem pela Champanhe.

chavão - Veja cacoete de linguagem.

chefe - Pode ser usado, entre outras coisas, para designar genericamente líder não-religioso de grupos de índios, em lugar de cacique, morubixaba ou tuxaua.

Chefe é substantivo comum-de-dois: o chefe, a chefe. Não use chefa.

chefe da nação - Só use para referir-se a sociedades tribais. Nas sociedades não-tribais, os chefes são de Estado ou de governo. Além disso, a expressão forma um cacófato (danação). Veja Estado; nação.

chegar a/chegar em - Nunca escreva chegar em. O correto é chegar a algum lugar: Bob Dylan chega amanhã a São Paulo, nunca em São Paulo.

cheque/xeque - Não confunda o cheque de banco com o xeque do xadrez (xeque-mate) ou com o título de sabedoria árabe: Ele visou o cheque; O argumento foi posto em xeque; O xeque entrou em sua tenda.

ciências - Escreva seus nomes sempre com minúscula: química, física, biologia, antropologia, pedagogia. Veja maiúsculas/minúsculas.

clichê - Placa de metal com relevo de foto, desenho ou letra para impressão. Também adquiriu o sentido de frase feita, chavão. Veja cacoete de linguagem; clichês (no cap. Edição).

co- - Talvez seja o prefixo mais confuso da língua portuguesa. Use hífen em formações mais modernas e aglutine em palavras mais antigas: coabitação, co-administrar, co-autor, co-avalista, co-diretor, co-edição, coexistência, colateral, coobrigação, co-ocupar, cooperar, co-opositor, cooptar, co-piloto, co-produção, co-proprietário, co-responsável, comensal, corredor, comover.

codinome - Veja apelido.

colchetes - Recurso gráfico ( [] ) com função semelhante à dos parênteses, mas mais abrangente. Permite introduzir breves esclarecimentos no interior do texto, em especial quando interrompem declaração textual: "A Escherichia coli [tipo de bactéria frequente no intestino humano] é o burro de carga da engenharia genética", disse o cientista.

Não use colchetes para fazer remissão dentro de uma mesma página -bastam parênteses: (veja gráfico ao lado).

cólera - Quando significa raiva é palavra feminina: Sua irritação chegava ao limite da cólera. Quando designa a doença, pode ser masculino ou feminino, mas a Folha padroniza com o masculino: O cólera chegou ao Brasil.

coletiva - Em textos, não use este jargão jornalístico para designar entrevista coletiva.

colocação de pronomes - Este é um capítulo da sintaxe em que as gramáticas não concordam. A maior parte da confusão vem do fato de que os pronomes oblíquos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos) são pronunciados de forma diferente em Portugal e no Brasil. Jamais ocorreria a um português, por menos instruído que fosse, dizer: Me parece que. O e do me praticamente não é pronunciado em Portugal e assim o me antes do parece formaria um encontro consonântico de difícil pronúncia: m'p'rece q'. No Brasil, os pronomes oblíquos têm uma pronúncia mais acentuada. Já deixaram de ser átonos e caminham em direção ao tonalismo; hoje são semitônicos.

Até que esses pronomes se tornem de fato tônicos, adote as seguintes normas:

  a) Próclise (pronome antes do verbo) - Dê preferência a este caso. É o mais próximo da linguagem coloquial do Brasil e na maioria dos casos não fere demais a norma culta: Eu o vi; Ele se informou são mais eufônicos no Brasil que Eu vi-o; Ele informou-se. A próclise é obrigatória na norma culta quando ocorrem certas palavras que têm uma espécie de poder atrativo: partículas negativas (não, ninguém, nada etc.), pronomes relativos (que, o qual, quem, quando, onde etc.), indefinidos (algum, alguém, diversos, muito, tudo etc.), advérbios e conjunções (como, quando, sempre, que, já, brevemente, aqui, embora etc.);

  b) Ênclise (pronome depois do verbo) - Use-a para evitar começar frase com pronome. É também comum com infinitivos, em orações imperativas ou com gerúndio. Na norma culta, prevalece sobre a próclise se não houver partícula que atraia o pronome. Não pode ser usada com futuro do presente ou do pretérito;

c) Mesóclise (pronome no meio do verbo) - Evite ao máximo. Na norma culta substitui a ênclise em verbos no futuro do presente ou do pretérito: Dir-lhe-ei; Fá-lo-ia.

colônia - Não use este termo considerado pejorativo para designar grupo de pessoas com laços étnicos ou religiosos. Empregue comunidade: comunidade de origem japonesa; comunidade islâmica.

coloquial - Veja linguagem coloquial.

comentário - Pequeno artigo interpretativo. Veja artigo.
"commodity" - Em inglês, mercadoria. Designa mercadoria em estado bruto ou produto primário como chá, café, estanho, cobre etc. Tome cuidado com o plural: "commodities".

comprimento/cumprimento - Não confunda a medida com a saudação, elogio ou a ação de cumprir: O carro tem 3,8 m de comprimento; Recebeu um cumprimento da Direção de Redação; O soldado foi homenageado por ter morrido "no cumprimento do dever", anunciou o Pentágono.

comunista - Use apenas para indicar ligação de alguém com organizações comunistas quando isso for importante no contexto da notícia. Nunca empregue para se referir a pessoas com inclinações políticas de esquerda. Veja direita/esquerda.

concerto/conserto - Concerto musical, mas conserto de objetos, máquinas.

concisão - O texto jornalístico deve ser conciso. Tudo o que puder ser dito em uma linha não deve ser dito em duas. Veja tamanho de texto.

concordância nominal - Preste atenção ao cortar e reescrever textos. É deste trabalho que surgem os piores erros de concordância nominal: A medida foi criticados; Aparelhagem de microscopia mal regulado. Esse tipo de erro ocorre quando o redator troca um substantivo por outro de gênero ou número diferentes -decretos por medida, aparelho por aparelhagem- e não adapta o adjetivo. Redobre a atenção com períodos longos.

Tome cuidado também com as construções em que um adjetivo qualifica mais de um substantivo: A casa e o prédio velhos; Foi confiscada a carne e o gado. Aplique nesses casos regras análogas às da concordância verbal, expostas no próximo verbete. Lembre-se de que em português o masculino prevalece sobre o feminino: Alexandra e Herculano são bons autores.

concordância verbal - Há uma única regra: o verbo concorda em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) com o sujeito da oração. É errado dizer nós vai ou ele são, como qualquer um percebe. Mas logo surgem as dificuldades: mais de um é ou mais de um são? Existe Deus e o diabo ou existem Deus e o diabo? Em geral, as duas construções são admitidas e podem ter significados diferentes.

A maioria das dificuldades ocorre quando coexistem palavras de caráter fortemente plural e singular no mesmo sujeito:

a) Coletivos - Às vezes, as idéias de plural e singular existem ao mesmo tempo numa única palavra. É o caso dos coletivos. A palavra exército, mesmo no singular, encerra a idéia de plural (um exército é composto de vários soldados). Ninguém escreve o exército são. Mas Alexandre Herculano escreveu: "Vadeado o rio, a cavalgada encaminhou-se por uma senda tortuosa que ia dar à entrada do mosteiro, onde desejavam chegar". Trata-se da concordância lógica (também chamada ideológica ou siléptica) que se opõe à concordância gramatical. Evite esse tipo de construção; prefira o singular: A maioria acredita no governo.

Mas atenção: tanto faz escrever a maioria dos entrevistados acreditam quanto acredita. Havendo um substantivo seguido da preposição de e de outro substantivo ou pronome formando um partitivo, o verbo pode ir para o plural (concordância lógica) ou singular (concordância gramatical), dependendo da ênfase que se quer dar. O uso do singular reforça a idéia de conjunto. O plural, a de individualidade dos membros do conjunto.

Há casos em que a concordância lógica é preferível: A pesquisa revelou que 1% das mulheres brasileiras são desquitadas; A campanha prevê que 1 milhão de crianças sejam vacinadas. De acordo com a concordância gramatical, os períodos ficariam: A pesquisa revelou que 1% das mulheres brasileiras é desquitado; A campanha prevê que 1 milhão de crianças seja vacinado;

b) Um - Este numeral está impregnado de singularidade. Quando faz parte de um sujeito logicamente plural, carrega o verbo para o singular: Cada um daqueles deputados era servido por 40 motoristas; Mais de um brasileiro deseja ganhar na loteria. Exceção: Mais de um ministro se cumprimentaram na recepção (porque há idéia de reciprocidade).

Tome cuidado com a expressão um dos que, que de preferência deve ser acompanhada de plural. Mas atenção: a concordância pode alterar o sentido da frase: Schwartzkopf foi um dos generais que mais se distinguiram na Guerra do Golfo (ele se distinguiu, entre outros generais que também se distinguiram), mas Schwartzkopf foi um dos generais que mais se distinguiu na Guerra do Golfo (ele foi o que mais se distinguiu); O Sena é um dos grandes rios que passa por Paris (é o único grande rio que passa por Paris). Evite esta última construção, que é muito sutil para texto noticioso.

As expressões um e outro e nem um nem outro podem ser usadas tanto com plural como com singular, indistintamente: um e outro é bom ou um e outro são bons. Prefira o plural se a expressão vier acompanhada de um substantivo: um e outro homem são bons.

Também costumam apresentar dificuldade os seguintes tópicos:

a) Ou - Use o singular se ou introduzir idéia de exclusividade: Nicodemo ou Aristarco será eleito presidente (apenas um deles será eleito); se os dois agentes puderem realizar a ação, o verbo vai para o plural: Nicodemo ou Aristarco devem chegar nos próximos minutos;

b) Nem - Pode levar o verbo para o plural ou o singular, indistintamente. Nem Ulisses nem Eneas será eleito presidente; Nem Ulisses nem Eneas serão eleitos presidente;

c) Com - Se a relação for de igualdade, o verbo vai para o plural: O general com seus oficiais tomaram o quartel. Se os elementos não têm a mesma participação, o verbo vai para o singular: Bush com seus aliados venceu o Iraque. Esse tipo de concordância também vale para expressões como não só... mas também, tanto... como, assim... como. Esse tipo de construção é precioso demais para textos noticiosos;

d) Verbo antes do sujeito composto - Nestes casos, o verbo pode concordar com o elemento mais próximo ou com o conjunto: Estréia o filme e a peça ou Estréiam o filme e a peça. Use o plural se o sujeito composto for uma sucessão de nomes próprios ou se a ação for de reciprocidade: Adoeceram Maria, Carla e Paula; Enfrentam-se Corinthians e Palmeiras. Essas construções também são preciosas demais para ser usadas em textos noticiosos;

e) Gradação/resumo - Sujeitos compostos devem ser conjugados com o verbo no singular se constituírem uma gradação: "Aleluia! O brasileiro comum, o homem do povo, o joão-ninguém, agora é cédula de Cr$ 500,00!" (Carlos Drummond de Andrade).

O singular também vale para sujeitos compostos resumidos por palavras como tudo, nada, ninguém, nenhum, cada um: Jogo, bebida, sexo e drogas, nada pôde satisfazê-lo;

f) Pronomes - Eu e tu somos, tu e ele sois, eu e ele somos. A 1ª pessoa prevalece sobre a 2ª, que prevalece sobre a 3ª. Essas construções são raras no jornalismo.

Se o pronome pessoal vier antecedido de interrogativos ou indefinidos como quais, quantos, alguns, poucos, muitos, na norma culta, o verbo concorda com o pronome pessoal: Poucos de nós conhecemos a gramática. Admite-se também a concordância mais coloquial com o indefinido ou interrogativo: Poucos de nós conhecem a gramática;

g) Quem/que - Sou um homem que pensa ou sou um homem que penso, mas sou eu quem fala. Com quem o verbo vai sempre para a 3ª pessoa;

h) Pronomes de tratamento - O verbo e o pronome possessivo ficam sempre na 3ª pessoa: Vossa santidade deseja sua Bíblia? Se houver um adjetivo, ele concorda com o sexo da pessoa a que se refere: Sr. governador, vossa excelência está equivocado;

i) Sujeitos infinitivos - Quando o sujeito de uma frase é uma sucessão de infinitivos genéricos, use o singular: Plantar e colher não dá dinheiro. Se os infinitivos forem determinados, plural: O comer e o beber são necessários à saúde;

j) Nomes próprios - Se o sujeito é um nome próprio plural e estiver ou puder estar precedido de artigo, use o plural: Os EUA lançaram um ultimato a Saddam Hussein; Os Andes são uma cadeia de montanhas; As Filipinas são um arquipélago. Outros nomes perderam a idéia de plural: O Amazonas corre em direção ao mar; Minas Gerais é um Estado brasileiro; Alagoas tem belas praias;

l) Nomes de obras - Mesmo no plural, dê preferência ao singular: "Os Pássaros" é um filme de Hitchcock; "Os Lusíadas" é a obra-prima de Camões;

  m) Nomes de empresas - O verbo também pode ir para o singular quando o sujeito é um nome de empresa no plural: Lojas Arapuã adota nova estratégia, ou adotam nova estratégia;

n) Concordância por atração - Em frases com o verbo de ligação ser, o verbo pode concordar com qualquer elemento (sujeito ou predicativo). Em geral, concorda com o mais forte: Isto são histórias; O que trago são fatos; Emília era as alegrias da avó; Dois milhões de dólares é muito dinheiro.

Veja fazer; haver; porcentagem.

conferência de imprensa - A tradução da expressão de língua inglesa press conference é entrevista coletiva. Em segunda menção use entrevista.

Congresso - Veja Parlamento/Congresso.

conjunção - Use conjunções e locuções conjuntivas quando tiverem a função de estabelecer o nexo indispensável entre orações ou frases. A falta desses conectores pode tornar o texto fragmentado, obscuro. Quando não necessários, funcionam como obstáculo para a leitura, atravancando o texto.

Dispense elo de ligação entre elementos independentes: Oito pessoas foram detidas por atirar pedras nos policiais. A polícia recolheu dois coquetéis Molotov no local em vez de Oito pessoas foram detidas por atirar pedras nos policiais. Por outro lado, a polícia recolheu dois coquetéis Molotov no local. A locução por outro lado nada acrescenta à simples sucessão de duas orações.

Não deixe de empregar conjunção quando for indispensável para dar sentido: O dono do terreno disse não dar importância ao fato, mas chamou a polícia para retirar os invasores em vez de O dono do terreno disse não dar importância ao fato. Chamou a polícia para retirar os invasores. A relação de oposição entre as duas ações deve ser marcada pela conjunção adversativa mas. Em resumo: verifique se a conjunção pode ser suprimida sem prejuízo da clareza. Entre as mais frequentes e desnecessárias estão: contudo, porém, todavia, portanto, entretanto, no entanto, pois, logo, em decorrência de, por consequência, dessa forma, ao mesmo tempo, por outro lado, além disso, além do que, ao passo que, à medida que, à proporção que, ora...ora, ou bem...ou bem, por conseguinte. Nunca use conjunções ou locuções conjuntivas que soem antiquadas: outrossim, não obstante, destarte, dessarte, entrementes, consoante, de sorte que, porquanto, conquanto, posto que. Veja e; porém.

conservador/progressista - Empregue estes adjetivos apenas quando não for possível maior precisão para qualificar pessoa ou idéia favorável ou contrária à manutenção da estrutura social vigente. Dê preferência à filiação partidária, por exemplo. Por serem vagos e desgastados pelo uso, a utilização desses termos deve ser discutida com o editor ou editor-assistente. Veja direita/esquerda; terrorista/guerrilheiro.

Constituição - Com maiúscula quando designar a Lei Fundamental ou o conceito político. Veja maiúsculas/minúsculas.

contemplar - Significa olhar, considerar ou dar algo. Evite usar como sinônimo de prever, estabelecer ou regular: A Constituição estabelece a punição, e não A Constituição contempla a punição.

contra - Pede hífen apenas antes de vogal, h, r, s: contra-atacar, contra-ataque, contrabaixo, contracapa, contracheque, contra-estímulo, contrafilé, contra-histórico, contragolpe, contra-indicar, contra-informação, contramaré, contra-ofensiva, contra-oferta, contra-ordem, contraproducente, contraproposta, contra-reforma, contra-revolução, contra-senso, contratempo, contratorpedeiro.
contrato de trabalho por tempo determinado - Está errado utilizar a expressão contrato temporário de trabalho para se referir ao projeto recentemente aprovado pelo Senado. O que os senadores aprovaram foi a ampliação do contrato de trabalho por tempo determinado, modalidade que reduz diretitos trabalhistas.
Regulamentado por lei em 1973, o contrato temporário atende à necessidade transitória de substituição de funcionário regular de uma empresa (uma mulher em licença-maternidade, por exemplo).

contravenção - Não confunda com crime. Contravenção é infração criminal considerada menos grave que o crime. A diferença está na pena que é aplicável em cada caso. Exemplos de contravenção: jogo do bicho, direção perigosa de veículo e disparo de arma de fogo. Veja crime. Consulte também o anexo Jurídico.

copidesque - Palavra aportuguesada do inglês copydesk. Designa o trabalho -ou pessoa que o executa- de reescrever textos para publicação. Na Folha, o texto é copidescado de preferência pelo próprio autor.

  Quando for inevitável que outro jornalista o faça, a assinatura do autor deve ser suprimida se as alterações forem profundas e não puderem ser comunicadas a ele.

Textos de colaboradores devem ser copidescados apenas para adequação às normas da gramática e deste manual, salvo exceções definidas pela Secretaria de Redação. Veja assinatura de texto (no cap. Edição).

córner - Use escanteio.

cosmonauta - Designação dada a tripulantes ou passageiros em nave do programa espacial da CEI (Ex-URSS). Os norte-americanos usam astronauta.

crase - Contração do artigo definido feminino a com a preposição a. Em vez de se grafar aa, grafa-se à. A pronúncia correta é a. Só se usa crase quando uma palavra (substantivo ou adjetivo) exigir a preposição a e houver um substantivo feminino que admita o artigo a ou as: Vou à escola.

Assim, é erro grave colocar crase antes de nomes masculinos ou verbos ou pronomes, pois esses termos (salvo em raras exceções) não admitem artigo feminino. Estão erradas as construções: Vou à pé, ele está à sair, entrega à domicílio, venda à prazo, direi à ela, não contou à ninguém. Também não se usa crase quando a preposição a estiver seguida de palavra no plural: discursou a autoridades, presta socorro a vítimas. O mesmo vale para expressões em que já houver uma preposição antes da preposição a: foram até a praça, ficaram até as 19h.

  Há uma regra geral que dá conta da maioria dos casos: troque a palavra feminina por outra masculina. Se na substituição for usada a contração ao, haverá crase. Caso contrário, não: estar à janela porque se diz estar ao portão; às três horas porque se diz aos 42 minutos; entregou o documento a essa mulher porque não se diz entregou o documento ao esse homem; assistiu a uma boa peça porque não se diz assistiu ao um bom filme.

Em algumas poucas expressões é difícil substituir o termo feminino por outro masculino. Nesses casos, troque o a por uma outra preposição e veja se o artigo sobrevive: O carro virou à direita porque se diz O carro virou para a direita.

A substituição do feminino pelo masculino também não funciona para nomes de países ou cidades. Para saber se ir a Roma leva crase, substitua os verbos ir ou chegar por vir ou voltar. Se o resultado for a palavra da, haverá crase: Vou à França porque volto da França, mas vou a Roma porque volto de Roma.

Casos especiais:

a) Há crase antes de palavras masculinas se estiver subentendida a expressão à moda de ou à maneira de: móveis à Luís 15, filé à Chateaubriand. Também se pode dizer Vou à João Mendes. Neste caso, está subentendido o termo praça.

b) A crase também deve ser usada em locuções adverbiais com termos femininos: às vezes, às pressas, à primeira vista, à medida que, à noite, à custa de, à procura de, à proporção que, à toa, à uma hora (uma é numeral e não artigo indefinido). Nestes casos, a regra geral de substituir por palavra masculina não funciona.

c) Em outras locuções, como à vela, à bala, à mão, à máquina, à vista o uso da crase é optativo. Serve para esclarecer o sentido da frase. Receber a bala pode significar receber a bala no corpo ou receber os visitantes à bala. Aqui também não funciona a regra geral de substituir por palavra masculina.

d) Nomes de países ou cidades femininos que normalmente repelem o artigo levam crase se estiverem qualificados: Voltou à Roma de César; Viajou à bela Paris.

  < e) É possível usar crase em pronomes demonstrativos aquele, aquilo, aquela, a, as: Ele não se referiu àquele deputado; O presidente se dirigiu àquela casa; O padre nunca se adaptou àquilo; A capitania de Minas Gerais estava ligada à de São Paulo; Falarei às que quiserem me ouvir. Haverá crase se houver necessidade do uso de preposição antes do pronome.
crente - Não use para designar o fiel de qualquer religião ou seita. Indique sempre a que igreja a pessoa pertence.

criar - Veja gerar.

crime - Ação ou omissão punida pela lei. Não confunda com contravenção. Crime é considerado mais grave que contravenção e é punido com penas mais severas. Pode ser doloso ou culposo. Doloso, quando o autor quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Culposo, quando o autor não quis o resultado mas deu causa a ele por imprudência, negligência ou imperícia -por exemplo, homicídio decorrente de acidente de trânsito provocado por erro de motorista. Veja acusação criminal; contravenção. Consulte também o anexo Jurídico.

crioulo - Nunca use para se referir a pessoas negras.

crise - Use com cuidado expressões como a pior crise da história do país. Ao longo dos anos, todas as crises políticas e econômicas têm sido assim classificadas.

crítica - Gênero jornalístico opinativo que analisa e avalia trabalho intelectual ou desempenho: artes, espetáculos, livros, competição esportiva, discurso político, projeto ou gestão de administração pública, trabalho acadêmico. É sempre assinada.

A crítica deve ser fundamentada em argumentos claros. Quando escrita por especialista, deve permanecer acessível ao leigo, sem ser banal. Não deve conter acusação de ordem pessoal. Lembre-se: o objeto da crítica é a obra ou desempenho, e não a pessoa. Veja resenha.

crônica - Gênero em que o autor trata de assuntos cotidianos de maneira mais literária que jornalística. Pode ser também um pequeno conto. É sempre assinada.

culminar - Evite esta expressão como sinônimo de terminar, que já se tornou um lugar-comum. Use-a apenas no sentido literal de chegar ao ponto mais alto: A participação do Brasil nas disputas da Copa Jules Rimet culminou com sua conquista definitiva. Não: Culminando o espetáculo, o cantor apresentou sua última canção.

"curriculum vitae" - Em latim, carreira da vida. Escreva currículo.

curtir - Evite como gíria, exceto ao reproduzir declaração textual. Veja declaração textual; gíria.

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Novo Manual da Redação - 1996

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