ASNEIRAS
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ASNEIRAS E EQUÍVOCOS

Pelo menos temos afeto

Rodrigo Zavala
Especial para o GD

Curioso pode ser um bom adjetivo para o estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) esta semana. Segundo os dados levantados pelo órgão, o aluno brasileiro aprende mal, mas está contente com seus professores. Isto é, subvertendo a idéia de bons professores fazem uma boa educação, os estudantes avaliaram positivamente seus mestres num assunto que não dominam.

Para se entender melhor isso, vamos aos dados. Foi pedido a todos os inscritos na prova do Exame Nacional do Ensino Médio 2003 (Enem) - um total de 1,8 milhão de alunos - que respondessem a um questionário com 188 questões sobre seus professores, escolas, interesses, modos de vida, hábitos de leitura, família. 1,3 milhão responderam. Então, cruzaram-se as respostas fornecidas com o resultado de cada aluno nas provas de conhecimentos gerais e de redação

Conclusão: 90,19% dos alunos acham seus professores respeitosos, "dedicados", "atenciosos", ou mesmo, "firmes, porém não-autoritários". No entanto, essa maioria de jovens obteve nota média na prova objetiva de 49,55, numa escala de zero a cem. Ou seja, teriam "levado pau" em conhecimentos gerais, mesmo com professores tão sensacionais.

Segundo a psicóloga Rosely Sayão, os alunos avaliaram seus professores pelo viés do afeto. Especialista em educação e colunista da Folha, ela acredita que os estudantes “gostam dos professores e estão aprisionados por esse afeto".

Muito bem, num país em que o professor do ensino médio ganha metade do salário de um policial civil ou um quarto da remuneração de um delegado, saber que pelo menos alunos possuem um afeto especial por ele, já é alguma coisa.

Afinal, sabe-se, conforme pesquisas realizadas pelo próprio Inep, que apenas 27,6% dos alunos da rede privada que fizeram as provas de matemática e de língua portuguesa do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação) tiveram desempenho considerado adequado pelo ministério. Comparando com o desempenho da rede pública, o resultado pode parecer uma maravilha --a porcentagem de alunos no nível adequado nas públicas foi de 3,7% no teste de língua portuguesa e de 2,1% no de matemática.

É nessas horas que se pode mudar o dito clichê: “o amor é cego”. Mais do que cego, ele não deve entender de matemática ou de português também.

 
 
 

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