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REFLEXÃO


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urbanidade
24/03/2004
O mau aluno que virou mestre

O chinês Jou Eel Jia tirou proveito de seus traumas infantis para ensinar, em São Paulo, como acalmar crianças.

Quando era menino e morava na China, ele tanto atenazou os pais e os professores com sua hiperatividade que acabou aos cuidados de mestres budistas, donos de uma ilimitada paciência. Viu-se obrigado a praticar diariamente vagarosas artes marciais e meditação. Para completar a terapia, quando chegava o boletim com as péssimas notas, Jou recebia a não menos milenar técnica do cascudo. "Ninguém sabia que eu tinha uma doença".

Veio morar no Brasil, onde se formou em medicina e aprendeu nos livros -e no divã do analista- que aquela inquietude tinha raízes em disfunções neurológicas. Continuou socorrendo-se das técnicas respiratórias que conheceu nos templos. O travesso aluno passou em primeiro lugar no vestibular, tornou-se clínico-geral pela Universidade Federal de São Paulo e resolveu especializar-se em medicina chinesa. Virou um dos badalados acupunturistas brasileiros. Desde a semana passada, ele é também mestre em sossegar alunos.

Na quinta-feira, foram diplomados 3.000 professores de educação física da rede estadual para dar aulas de lien ch'i, uma ginástica baseada no ritmo dos animais. A idéia pegou porque Jou, além de propor-se a treinar voluntariamente professores, tem pacientes influentes -mais precisamente, o governador Geraldo Alckmin- e estava ancorado num projeto piloto que conduziu em cinco escolas da cidade de São Paulo. Constatou-se que as crianças submetidas ao lien ch'i ficaram mais tranqüilas em sala de aula, segundo a educadora Luzia Lima, da Unicamp, responsável pela avaliação da experiência.

Escolas são apenas um começo. "Gostaria de ver em praças e parques gente praticando esse tipo de exercício, que favorece o equilíbrio emocional", sonha Jou.

em é tão sonho assim. O lien ch'i já existe, gratuitamente, nos parques Ibirapuera e Villa-Lobos e, ainda neste semestre, vai para o parque da Juventude, antigo Carandiru. Prepara-se para um dos testes ainda mais desafiadores: entrar na Febem, onde alguns dos internos fazem o menino Jou parecer um exemplo de serenidade e bom comportamento.

Esta coluna é publicada originalmente na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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