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terceiro setor
06/08/2004
Interesse pelo trabalho voluntário cresce no Brasil

Nos últimos três meses, em seis sábados, a paulista Helaine Alves Ferreira, de 35 anos, gerente do Banco do Brasil em São Paulo, fez um programa bem diferente: ela passou entre quatro e cinco horas em escolas públicas da periferia paulistana para falar sobre orçamento a alunos do ensino fundamental. Na sala de aula, ela ensinava a usar planilhas eletrônicas para controlar os gastos e monitorava as crianças em um jogo no qual os pequenos passavam por prefeitos que precisavam lidar com a entrada e a saída de recursos do caixa.

Essas atividades fazem parte do projeto Banco na Escola, que é apoiado pela Fundação Banco do Brasil e por outras seis instituições financeiras e conta com mais de 200 voluntários cadastrados, como Helaine. Um dos objetivos é fazer os alunos cuidarem melhor do patrimônio da escola. “Achei a proposta interessante e sabia que eu podia ajudar”, conta Helaine. “Elas são ávidas por aprender e o que ensinamos vai ser sempre útil a elas.”

Assim como Helaine, cada vez mais brasileiros estão participando de projetos sociais sem receber nada por isso – ou melhor, nada que possa ser depositado no banco. Em 1998, segundo uma pesquisa do Instituto de Estudos da Religião (Iser), havia 22 milhões de voluntários no país. Quatro anos depois, esse contingente chegava à marca de 42 milhões de pessoas (cerca de ¼ da nossa população), de acordo com um levantamento da Organização das Nações Unidas. A ONU inclusive considerou o Brasil um exemplo de solidariedade para o mundo na celebração do Ano Internacional do Voluntariado, em 2001.

O crescimento dessa população foi motivado, em grande parte, pela multiplicação das centrais de voluntariado, organizações que servem de canal entre voluntários e instituições que precisam deles. Atualmente, existem 76 centrais em 17 estados e no Distrito Federal, segundo o site Portal do Voluntário. Até o fim da década passada, o trabalho voluntário era concentrado em instituições religiosas (57% dos casos, segundo uma pesquisa feita pelo Iser em 2000).

Atualmente, não só as centrais são mais numerosas como também o público que as procura vem crescendo. Criado em 1997 por um grupo de funcionários públicos cariocas, o RioVoluntário capacitou e encaminhou 350 voluntários naquele ano. No ano passado, foram 1.640. “Os brasileiros já têm uma tradição de solidariedade, como se viu nas Diretas Já. Eles sentem necessidade de fazer algo em prol de sua comunidade, mas não têm informações”, afirma a coordenadora geral de voluntariado do RioVoluntário, Maria Tereza Campos. “Centrais como a nossa mostram como e onde ser voluntário e capacitam as pessoas e instituições para esse trabalho.”

Segundo ela, metade dos inscritos se dedica a trabalhos relacionados a educação; 31% estão em projetos de saúde, como transfusão de sangue e leitura para cegos; 13% lidam com assistência social, como ajuda à população de rua; e 6% participam de atividades culturais, como cursos de teatro, dança e balé para crianças carentes. O Centro de Voluntariado de São Paulo, também fundado em 1997, cadastrou 9.033 interessados em trabalho voluntário em seus três primeiros anos e nada menos que 11.838 no ano passado.

Foi por meio desse centro que, há três anos, a bibliotecária aposentada Albertina Ramos, de 57 anos, conheceu a Associação Viva e Deixe Viver, que forma pessoas como ela para contar histórias para crianças internadas em hospitais. “Eu tinha energia de sobra e vontade de ajudar os outros, mas não sabia como. No CVSP, encontrei uma causa com que me identifiquei muito”, diz Albertina, que já trabalhara como voluntária na administração da Pastoral do Menor. Hoje, ela reserva uma hora por semana para ir ao Hospital Auxiliar Cotoxó. “É um compromisso imperdível”, ela garante. “Nada paga a alegria de aliviar a dor das crianças, que até aceitam melhor a hora de tomar remédio.”

Voluntários de todas as idades
O voluntariado vem atraindo gente de todas as idades. Em Natal, a estudante Pryscila Araújo, de 22 anos, atua desde os 15 no grupo de escoteiros da cidade. Lá, ela participa da organização de oficinas de teatro, aulas e festivais de música para crianças e jovens de baixa renda e faz a avaliação das atividades do grupo. “Todos temos potencial de mudar o mundo. Ao ajudar os outros, estamos melhorando a nós mesmos e nossas condições de vida”, afirma Pryscila. Seu entusiasmo pela idéia é tanto que ela atua também como divulgadora do Natal Voluntários, a central de voluntariado local, e há dois meses fundou com alguns amigos uma central na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

No outro extremo da pirâmide etária está o voluntário carioca Domenico Aversa, de 80 anos. Bancário aposentado, ele dedica duas horas diárias para trabalhar na Biblioteca Popular da Ilha do Governador como atendente e pesquisador do centro de referência histórica da Ilha. Lá, ele pesquisa em jornais a história do bairro, que lamenta ter sido tema de apenas um livro. “Descobri no voluntariado um caminho para voltar à ativa. Ajudar os estudantes que vêm fazer pesquisas é algo que me motiva muito. Ultimamente, dou palestras em escolas do bairro”, diz Aversa, que entrou na biblioteca através do RioVoluntário.

Além das centrais, outro fator de expansão do voluntariado são os programas de responsabilidade social das empresas. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que das 782 mil empresas privadas do país, 462 mil (59%) realizam alguma atividade social. Esses programas têm incentivado funcionários a realizarem ações voluntárias. É o caso do Banco na Escola e do BB Educar, um projeto de alfabetização de jovens e adultos gerenciado pela Fundação Banco do Brasil. A iniciativa, que já beneficiou mais de 115 mil pessoas e hoje atende a outras 152 mil, conta com mais de 15 mil alfabetizadores cadastrados entre funcionários do banco e pessoas indicadas por eles.

É o caso do gaúcho Júlio Antônio Zacoteguy, que é analista no escritório do banco em Porto Alegre e participa do BB Educar desde 1993. Formado em história, ele se sensibilizou tanto com o programa que se formou como alfabetizador e hoje faz, pela internet, um curso de especialização em formação de adultos junto à Universidade de Brasília. “Ver a alegria de alguém que descobre o mundo das letras é algo indescritível. É a maior recompensa que se pode ter”, diz Zacouteguy, que junto com os colegas, está entrando em contato com instituições para receber alimentos e roupas, que serão destinadas, pela equipe do Banco do Brasil, a entidades sociais da região.

As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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