Nos últimos três meses,
em seis sábados, a paulista Helaine Alves Ferreira,
de 35 anos, gerente do Banco do Brasil em São Paulo,
fez um programa bem diferente: ela passou entre quatro e cinco
horas em escolas públicas da periferia paulistana para
falar sobre orçamento a alunos do ensino fundamental.
Na sala de aula, ela ensinava a usar planilhas eletrônicas
para controlar os gastos e monitorava as crianças em
um jogo no qual os pequenos passavam por prefeitos que precisavam
lidar com a entrada e a saída de recursos do caixa.
Essas atividades fazem parte do projeto Banco na Escola,
que é apoiado pela Fundação Banco do
Brasil e por outras seis instituições financeiras
e conta com mais de 200 voluntários cadastrados, como
Helaine. Um dos objetivos é fazer os alunos cuidarem
melhor do patrimônio da escola. “Achei a proposta
interessante e sabia que eu podia ajudar”, conta Helaine.
“Elas são ávidas por aprender e o que
ensinamos vai ser sempre útil a elas.”
Assim como Helaine, cada vez mais brasileiros estão
participando de projetos sociais sem receber nada por isso
– ou melhor, nada que possa ser depositado no banco.
Em 1998, segundo uma pesquisa do Instituto de Estudos da Religião
(Iser), havia 22 milhões de voluntários no país.
Quatro anos depois, esse contingente chegava à marca
de 42 milhões de pessoas (cerca de ¼ da nossa
população), de acordo com um levantamento da
Organização das Nações Unidas.
A ONU inclusive considerou o Brasil um exemplo de solidariedade
para o mundo na celebração do Ano Internacional
do Voluntariado, em 2001.
O crescimento dessa população foi motivado,
em grande parte, pela multiplicação das centrais
de voluntariado, organizações que servem de
canal entre voluntários e instituições
que precisam deles. Atualmente, existem 76 centrais em 17
estados e no Distrito Federal, segundo o site Portal do Voluntário.
Até o fim da década passada, o trabalho voluntário
era concentrado em instituições religiosas (57%
dos casos, segundo uma pesquisa feita pelo Iser em 2000).
Atualmente, não só as centrais são mais
numerosas como também o público que as procura
vem crescendo. Criado em 1997 por um grupo de funcionários
públicos cariocas, o RioVoluntário capacitou
e encaminhou 350 voluntários naquele ano. No ano passado,
foram 1.640. “Os brasileiros já têm uma
tradição de solidariedade, como se viu nas Diretas
Já. Eles sentem necessidade de fazer algo em prol de
sua comunidade, mas não têm informações”,
afirma a coordenadora geral de voluntariado do RioVoluntário,
Maria Tereza Campos. “Centrais como a nossa mostram
como e onde ser voluntário e capacitam as pessoas e
instituições para esse trabalho.”
Segundo ela, metade dos inscritos se dedica a trabalhos relacionados
a educação; 31% estão em projetos de
saúde, como transfusão de sangue e leitura para
cegos; 13% lidam com assistência social, como ajuda
à população de rua; e 6% participam de
atividades culturais, como cursos de teatro, dança
e balé para crianças carentes. O Centro de Voluntariado
de São Paulo, também fundado em 1997, cadastrou
9.033 interessados em trabalho voluntário em seus três
primeiros anos e nada menos que 11.838 no ano passado.
Foi por meio desse centro que, há três anos,
a bibliotecária aposentada Albertina Ramos, de 57 anos,
conheceu a Associação Viva e Deixe Viver, que
forma pessoas como ela para contar histórias para crianças
internadas em hospitais. “Eu tinha energia de sobra
e vontade de ajudar os outros, mas não sabia como.
No CVSP, encontrei uma causa com que me identifiquei muito”,
diz Albertina, que já trabalhara como voluntária
na administração da Pastoral do Menor. Hoje,
ela reserva uma hora por semana para ir ao Hospital Auxiliar
Cotoxó. “É um compromisso imperdível”,
ela garante. “Nada paga a alegria de aliviar a dor das
crianças, que até aceitam melhor a hora de tomar
remédio.”
Voluntários de todas as idades
O voluntariado vem atraindo gente de todas as idades. Em Natal,
a estudante Pryscila Araújo, de 22 anos, atua desde
os 15 no grupo de escoteiros da cidade. Lá, ela participa
da organização de oficinas de teatro, aulas
e festivais de música para crianças e jovens
de baixa renda e faz a avaliação das atividades
do grupo. “Todos temos potencial de mudar o mundo. Ao
ajudar os outros, estamos melhorando a nós mesmos e
nossas condições de vida”, afirma Pryscila.
Seu entusiasmo pela idéia é tanto que ela atua
também como divulgadora do Natal Voluntários,
a central de voluntariado local, e há dois meses fundou
com alguns amigos uma central na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN).
No outro extremo da pirâmide etária está
o voluntário carioca Domenico Aversa, de 80 anos. Bancário
aposentado, ele dedica duas horas diárias para trabalhar
na Biblioteca Popular da Ilha do Governador como atendente
e pesquisador do centro de referência histórica
da Ilha. Lá, ele pesquisa em jornais a história
do bairro, que lamenta ter sido tema de apenas um livro. “Descobri
no voluntariado um caminho para voltar à ativa. Ajudar
os estudantes que vêm fazer pesquisas é algo
que me motiva muito. Ultimamente, dou palestras em escolas
do bairro”, diz Aversa, que entrou na biblioteca através
do RioVoluntário.
Além das centrais, outro fator de expansão
do voluntariado são os programas de responsabilidade
social das empresas. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) mostra que das 782 mil empresas
privadas do país, 462 mil (59%) realizam alguma atividade
social. Esses programas têm incentivado funcionários
a realizarem ações voluntárias. É
o caso do Banco na Escola e do BB Educar, um projeto de alfabetização
de jovens e adultos gerenciado pela Fundação
Banco do Brasil. A iniciativa, que já beneficiou mais
de 115 mil pessoas e hoje atende a outras 152 mil, conta com
mais de 15 mil alfabetizadores cadastrados entre funcionários
do banco e pessoas indicadas por eles.
É o caso do gaúcho Júlio Antônio
Zacoteguy, que é analista no escritório do banco
em Porto Alegre e participa do BB Educar desde 1993. Formado
em história, ele se sensibilizou tanto com o programa
que se formou como alfabetizador e hoje faz, pela internet,
um curso de especialização em formação
de adultos junto à Universidade de Brasília.
“Ver a alegria de alguém que descobre o mundo
das letras é algo indescritível. É a
maior recompensa que se pode ter”, diz Zacouteguy, que
junto com os colegas, está entrando em contato com
instituições para receber alimentos e roupas,
que serão destinadas, pela equipe do Banco do Brasil,
a entidades sociais da região.
As informações são
da Fundação Banco do Brasil.
|