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amazônia
13/04/2005
Projeto ensina jovens de comunidades ribeirinhas a serem repórteres rurais

A capacidade de se comunicar é uma das principais características do homem. Transmitir conhecimentos acumulados permite repassar experiências às gerações futuras, educando-as. A falta que a comunicação faz está bem ilustrada no episódio bíblico da Torre de Babel, mas também pode ser resumida na frase do velho guerreiro Chacrinha: “quem não se comunica, se trumbica”. Para pessoas que vivem em comunidades distantes dos grandes centros, em que educação e outros serviços públicos não são garantidos a todos, a tarefa de se comunicar é mais difícil e ainda mais importante.

Justamente para que essas populações não se “trumbiquem”, o Projeto Saúde & Alegria (PSA), a Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh) e o Comunicação, Educação e Informação em Gênero (Cemina) vêm desenvolvendo projetos que estimulam processos de comunicação em locais distantes e isolados. Nestes lugares, onde internet e televisão são raros, ganha força o meio de comunicação que parece nunca perder seu potencial: o rádio.

Nos municípios de Santarém e Belterra, oeste do Pará, o PSA, integrante do Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil, proporciona aos caboclos mocorongos (chama-se mocoronga a pessoa natural de Santarém) uma intensa troca de informações. A Rede Mocoronga de Comunicação Popular é composta por 31 comunidades ribeirinhas, formadas, em sua maioria, por descendentes de índios. Organizada por jovens, que são capacitados como repórteres rurais, a Rede serve como espaço para a expressão da cultura local, fortalece a identidade das comunidades e promove o uso de conhecimentos tradicionais para a conservação da floresta. São produzidos programas radiofônicos (transmitidos por alto-falantes espalhados pelos vilarejos), vídeos (exibidos em telões montados) e jornais comunitários (reproduzidos por mimeógrafo).

O coordenador do PSA, Caetano Scannavino, lembra que antes da Rede, os jovens não se interessavam muito pelas outras ações do programa, mas ficavam de olho em câmeras e microfones. “Percebemos isso e começamos o trabalho que iria originar isso tudo. A comunicação para essas populações é fundamental. Ela serve para mobilizar toda a comunidade a partir de instrumentos geridos pelo público jovem, que passa a ser valorizado, ganha o respeito dos mais velhos”, diz. O conteúdo gerado vai desde acontecimentos locais, pequenas histórias e entrevistas com idosos, até campanhas de vacinação, de higiene e de prevenção contra queimadas.

“O trabalho dos jovens resgata, registra e difunde a cultura local”, destaca o coordenador. “E resgatar a cultura, na Amazônia, pode ser considerado educação ambiental, pois para essa população é uma questão de sobrevivência”, complementa, referindo-se ao fato de que a escassez de serviços e a baixa circulação de moeda obrigam os caboclos a usar os recursos naturais de forma sustentável. As fitas de vídeo e cassetes são trocadas entre as comunidades, permitindo o intercâmbio de experiências. Além disso, o PSA seleciona os melhores conteúdos e os divulga fora da região, permitindo que se tenha uma imagem da Amazônia a partir da ótica de seus próprios moradores.

O próximo passo, agora, é entrar no mundo digital. A Rede já conta com dois telecentros e o objetivo é estender o acesso à Internet a todas as comunidades e construir um portal. A Rede Mocoronga já recebeu o Prêmio Telemar de Inclusão Digital e o Prêmio Yeomans para Conteúdos Locais, oferecido pela Global Knowledge Partnership, uma parceria entre organizações de 144 países.

Enquanto isso, no semi-árido...
No sertão nordestino, a Redeh e o Cemina também usam o rádio para potencializar suas ações. Atualmente, o Programa de Capacitação em Convivência com o Semi-Árido ocorre nos municípios baianos de Paulo Afonso e Curaçá e em Delmiro Gouveia, Alagoas. A metodologia, vencedora de um edital do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familar (Pronaf), capacita jovens agricultores para que eles abordem em suas comunidades temas importantes, como questões ambientais e de gênero e técnicas de convivência com o semi-árido.

Os beneficiados, principalmente mulheres e jovens de até 35 anos, recebem orientações sobre esses temas e são capacitados em produção radiofônica para produzir programas a fim de repassar aos demais membros da comunidade as informações recebidas. “Quase todo município do Brasil tem um pequeno programa de rádio acessível à população e que serve quase como um núcleo comunitário”, justifica a coordenadora-geral da Redeh e do Cemina, Thais Corral.

Os principais temas abordados nos programas são: gravidez na adolescência e a sua prevenção, violência contra a mulher, corrupção e meio ambiente. “Usamos o rádio como meio de comunicação e de cidadania”, define Thais. A metodologia do Programa de Capacitação em Convivência com o Semi-Árido constituirá uma das técnicas a serem apresentadas no seminário Promovendo o Uso de Tecnologias Adequadas ao Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Remotas do Semi-Árido Brasileiro. O evento, organizado pela Redeh/Cemina, está marcado para os dias 17 a 19 de agosto, em Maceió.

IVAN KASAHARA
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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