Anuário
traça perfil da economia brasileira
O Anuário
da Competitividade Mundial 2002 trouxe um dado curioso e, ao mesmo
tempo, positivo para o empresariado brasileiro: a economia do país
tem muito jogo de cintura. A flexibilidade e a adaptação
do empresário para enfrentar novos desafios é maior
do que todas as outras 48 nações mais competitivas
do planeta. No entanto, a alegria acaba aí.
O relatório,
preparado pela Escola de Administração de Lausanne
(IMD), na Suiça, deslancha um festival de negativas sobre
o Brasil. Primeiramente, coloca a competitividade da economia brasileira
em 35º lugar entre 49 países - perdendo quatro pontos
e voltando aos níveis de cinco anos atrás. Mais: a
eficiência governamental diminuiu no ranking (de 36º
para 38º), também a eficiência empresarial (28º
para 33º) e os problemas de infra-estrutura tampouco melhoraram
(de 31º para 37º).
E não
pára por aí. O ponto negativo mais crítico
para o país, demonstrado pela pesquisa, é a baixa
classificação na educação e na infra-estrutura
tecnológica e científica - simplesmente o 49º
colocado. Desse ponto resultam outras quedas como, a produtividade
baixa (42º), a insuficiência de trabalhadores qualificados
(37º), violência (45º). E não é preciso
ser um gênio da macroeconomia para saber que ter baixa classificação
nesses itens significa um altíssimo risco na competição
do futuro e, em um efeito bola de neve, ver os índices de
emprego e renda despencarem.
Leia
mais:
- Empresário brasileiro é o mais versátil
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Empresário
brasileiro é o mais versátil
Brasil, no entanto, está mal colocado em educação
e avanços tecnológicos, comprometendo o futuro.
A economia brasileira
tem muito jogo de cintura: a flexibilidade e a adaptação
do empresário brasileiro para enfrentar novos desafios é
maior do que todas as outras 48 nações mais competitivas
do planeta.
A constatação
é do Anuário da Competitividade Mundial 2002, publicado
ontem na Suíça, com base em pesquisa com empresários
internacionais. O relatório preparado pela Escola de Administração
de Lausanne (IMD), uma das mais reputadas da Europa, coloca a competitividade
da economia brasileira no 35 lugar entre 49, perdendo quatro pontos
e voltando aos níveis de cinco anos atrás.
O ranking continua
dominado pelos Estados Unidos, seguido desta vez por Finlândia
e Luxemburgo. Cingapura (5), Hong Cong (9) e Irlanda (10) perdem
três pontos cada, pagando o preço de sua dependência
tanto do mercado americano como das exportações de
alta tecnologia. Já a Holanda (4), Suíça (7)
e Áustria (13) se beneficiam de sua estabilidade num ambiente
econômico turbulento. A Alemanha (15), a maior economia da
Europa, perde vitalidade. (Ver quadro)
Stephane Garelli,
diretor da publicação, se declara "decepcionado"
com o resultado do Brasil porque "não reflete o trabalho
profundo de reformas feito no País". Mas se mostra entusiasmado
com a percepção da comunidade internacional sobre
os brasileiros.
"Os empresários
brasileiros sempre souberam enfrentar situações difíceis
e voláteis. Sabem trabalhar em qualquer sistema, o que é
ótimo quando se tornam internacionais e enfrentam ambientes
nem sempre amigável. Assim, tem mais chances de oportunidades
de negócios", afirma, dando como exemplo o sucesso da
Embraer. (Ver quadro)
Carlos Arruda,
coordenador do estudo feito pela Fundação Dom Cabral,
parceira brasileira do IMD, ressalta que além da capacidade
do executivo brasileiro em adaptar-se à situação
de mudança e empreender novas idéias e novos negócios,
outro ponto positivo foi a variação do crescimento
percentual das exportações de mercadorias e serviços,
que saltou de 9,9% em 2000 para 26,4% no ano passado, o que puxou
o Brasil do 37 para o 2 lugar nas exportações gerais.
Arruda disse
ainda que o Brasil tem sempre se destacado na variável de
práticas gerenciais, um sub-fator do bloco que mede a eficiência
dos negócios. Neste ano o Brasil ficou em 19 lugar.
O Anuário
constata que o desempenho econômico do Brasil caiu de 31 para
35, a eficiência governamental diminuiu (36 para 38), também
a eficiência empresarial (28 para 33) e os problemas de infra-estrutura
tampouco melhoraram (de 31 para 37).
Sua competitividade
é afetada por problemas do sistema de ensino (o pior entre
os 49) e saúde, altas taxas de juros (48), produtividade
baixa (42), insuficiência de trabalhadores qualificados (37),
violência (45), pesquisa básica modesta para ajudar
o desenvolvimento a longo prazo (39).
Arruda diz que
o ponto negativo mais crítico para o País é
a baixa classificação na educação e
na infra-estrutura tecnológica e científica. "O
analfabetismo brasileiro está em 45 lugar e a educação
secundária em último lugar entre as 49 nações
pesquisadas", diz.
"Não
é mais a vez dos manufaturados no mundo e sim dos produtos
com maior base tecnológica e científica. Ter baixa
classificação nesses itens significa um altíssimo
risco na competição do futuro. A Finlândia cresceu
na classificação geral porque investiu justamente
nesses dois itens, além da educação",
continua Arruda.
O Chile, afirma
Arruda, que saiu de 24 posição no ano passado para
20 neste ano pela maior eficiência governamental, inflação
estável e uma boa inserção mundial, convive,
ao mesmo tempo com o risco de não ter um crescimento sustentável
no longo prazo. Isto porque centros tecnológicos e científicos
estão deixando o país, daí a sua pauta de exportações
ser basicamente de produtos primários.
O Anuário,
contudo, salienta o potencial que o Brasil tem para afrontar a concorrência
externa: além de um povo flexível e preparado a desafios,
tem atitude geralmente positiva em relação a globalização,
disponibilidade de administradores competentes (5 entre os 49),
custo de vida (6 mais barato entre os 49), taxação
sobre as empresas (6), efetiva taxa sobre a renda (15), marketing
bem conduzido pelas empresas (8).
De 314 critérios
para medir a competitividade, a flexibilidade e a adaptação
são os únicos em que o Brasil chega em primeiro lugar,
a frente dos empresários dos EUA, Islândia, Nova Zelândia
e Irlanda. No pé da lista estão Polônia, França,
Alemanha e Japão.
Garelli não
tem dúvida de que esta qualidade da comunidade empresarial
brasileira será uma vantagem competitiva importante para
o Brasil. "Os chefes de empresas habituadas a economias bem
estruturadas, regras bem definidas, têm mais dificuldades
a operar num ambiente de globalização marcado pela
vulnerabilidade", diz.
Isso é
ainda mais importante, porque em 2002 o ambiente da competitividade
mundial se distinguirá por dois fatores: nervosismo e imprevisibilidade.
"As empresas devem aprender a viver mais expostas e menos protegidas".
Haverá uma sucessão rápida de notícias
boas e ruins, afetando de maneira desigual a competitividade dos
países. Os mercados procuram desesperadamente um desempenho
melhor depois do "annus horribilis" de 2001 quando US$
5 trilhões de capitalização na bolsa se evaporaram.
Além
disso, a comunidade empresarial não tem mais confiança
nos números. Muita renda foi manipulada para a alta e dívidas
escondidas, sobretudo na época da nova economia, por meio
de métodos contábeis pouco ortodoxos. O desmoronamento
da Enron e da Anderson agravaram o sentimento de insegurança.
Para Garelli,
os Estados Unidos continuarão a ser a nação
mais competitiva graças aos maciços investimentos
na infra-estrutura tecnológica, mas também a extraordinária
capacidade de atrair os melhores talentos do resto do mundo. "Hoje
não é mais questão de atrair apenas investimentos,
mas também talentos e os Estados Unidos se beneficiam disso".
(Gazeta Mercantil
- 30/04/02)
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