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Valor
do Bolsa-Escola não deve ser reduzido
Reduzir o valor
do benefício oferecido pelo programa Bolsa-Escola, para tentar
atingir um maior número de crianças, pode comprometer
a eficácia do projeto. O alerta foi feito pelo Banco Mundial,
que fez o mais completo estudo a respeito do programa brasileiro
que concede uma bolsa mensal, de meio a um salário mínimo,
para famílias abaixo da linha da pobreza, que tenham crianças
em idade escolar (na maioria dos casos, de sete a 14 anos). Em troca,
elas têm de freqüentar pelo menos 90% das aulas.
Como o objetivo
do programa é evitar que as crianças deixem a escola
para trabalhar, se o benefício é menor do que o que
elas ganhariam na rua, a tendência é que as famílias
não permaneçam no programa. 'Qualquer ganho na redução
da transferência de renda deve ser posto contra o custo de
não se atingir os objetivos dos programas', advertem os técnicos
do Bird. 'Não recomendamos sacrificar a eficácia dos
programas para atingir uma população maior.'
O estudo do
Banco Mundial concluiu que os programas do gênero - cerca
de 60 -, aplicados em nível municipal e estadual desde 1995,
obtiveram sucesso nas duas pontas: mantiveram as crianças
na escola e diminuíram a pobreza das famílias. O relatório
mostra ainda, numa estimativa nacional, que a taxa de evasão
escolar é de 0,4% entre os favorecidos pelo Bolsa-Escola
e de 5,6% entre os que estão fora dos programas. A taxa de
aprovação também sobe de 80% para 88% entre
os beneficiários.
Os técnicos identificaram um problema de exclusão
nos programas Bolsa-Escola: os 'não-cobertos', como são
classificados. A maioria dos municípios e estados contempla
famílias com crianças entre sete e 14 anos, até
porque o monitoramento da freqüência e desempenho nessa
faixa de idade, de escolarização obrigatória,
é mais fácil. Ficam de fora, os miseráveis
com filhos pequenos ou adolescentes. O estudo sugere uma ampliação
da cobertura que atinja desde gestantes até adolescentes.
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Eficácia
de bolsa-escola depende de manter renda
O Banco Mundial (Bird), que concluiu recentemente a avaliação
mais completa feita até hoje sobre os programas bolsa-escola
no Brasil, faz um alerta: reduzir o valor do benefício para
tentar atingir um maior número de crianças pode, na
prática, comprometer a eficácia do projeto. No relatório
'Brasil - Uma Avaliação dos Programas Bolsa-Escola',
os técnicos do Bird não examinam o programa nacional,
recém-incluído no Projeto Alvorada. Mas as conclusões
reforçam os argumentos dos críticos ao programa do
governo Fernando Henrique Cardoso, que prevê R$ 15 por criança
até o máximo de R$ 45 por família.
O trabalho,
coordenado pelo economista brasileiro Guilherme Sedlacek, aponta
que os diversos programas do gênero - cerca de 60 -, aplicados
em nível municipal e estadual desde 1995, obtiveram sucesso
nas duas pontas: manter as crianças na escola e diminuir
a pobreza das famílias. Os programas não são
iguais em todos os lugares, mas partem do mesmo princípio:
a concessão de uma bolsa mensal, de meio a um salário
mínimo, para famílias abaixo da linha da pobreza,
com crianças em idade escolar, na maioria dos casos, de 7
a 14 anos. Em troca, elas têm de freqüentar pelo menos
90% das aulas.
Os resultados
positivos foram tratados como preliminares pelo Bird porque não
foram feitas pesquisas mais apuradas e os estudos existentes tratam
de exemplos isolados. No caso de Brasília, citando o trabalho
realizado em 1998 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), o Bird diz que, considerando a linha da pobreza como de
meio salário mínimo, a diferença entre a renda
das famílias beneficiadas e essa linha caiu de 0,4 para 0,04.
A renda per capita subiu de R$ 44,35 para R$ 72. A bolsa era de
R$ 130, equivalente a um salário mínimo na época.
O relatório
mostra ainda, numa estimativa nacional, que a taxa de evasão
escolar é de 0,4% entre os favorecidos pelo bolsa-escola
e de 5,6% entre os que estão fora dos programas. A taxa de
aprovação também sobe de 80% para 88% entre
os beneficiários. O nó do bolsa-escola está
nas suas possibilidades de expansão: como incluir mais crianças
sem estourar as contas públicas? 'Os governos podem ser tentados
a viabilizar financeiramente os programas, cortando o tamanho da
transferência (de renda)', dizem os técnicos no estudo.
Com uma transferência de meio salário mínimo,
o custo médio do bolsa-escola é de 1,4% da receita;
baixando para um quarto de salário mínimo, o custo
cai para menos de 1%.
Na outra ponta,
como o objetivo é evitar que as crianças deixem a
escola para trabalhar, se o benefício é menor do que
o que elas ganhariam na rua, a tendência é que as famílias
não permaneçam no programa. 'Qualquer ganho na redução
da transferência de renda deve ser posto contra o custo de
não se atingir os objetivos dos programas', advertem. 'Não
recomendamos sacrificar a eficácia dos programas para atingir
uma população maior.'
O secretário
do Programa Nacional Bolsa-Escola, Floriano Pesaro, diz que a intenção
do governo federal foi universalizar o benefício. 'O orçamento
é finito. Não é possível comparar um
projeto universal, como o federal, com programas com regras de exclusão,
como os municipais e estaduais', argumenta. O governo federal vai
destinar R$ 1,7 bilhão do Fundo de Combate à Pobreza
e a idéia é atingir um público de 10,7 milhões
de crianças entre seis e 15 anos, de famílias com
renda per capita de até R$ 90. Ele diz que a bolsa vai representar
um acréscimo entre 10% e 15% na renda dessas famílias
- e, embora não saiba informar quanto o programa representará
nos gastos do governo para este ano, Pesaro disse que serão
despendidos 10 vezes mais recursos com o bolsa-escola do que em
2000.
A prefeitura
de Recife está colocando em prática uma nova versão
para seu bolsa-escola, que envolve a integração com
outros projetos, como o Programa de Saúde da Família,
educação de jovens e adultos, capacitação
e profissionalização de pais, incentivo ao crédito
para microempresas e projetos de associativismo e cooperativas.
Porto Alegre também está preocupada em integrar o
programa de concessão de bolsa-auxílio a iniciativas
que garantam geração de renda e atendimento clínico
e psicológico às famílias beneficiadas. César
Bento, diretor técnico da Fundação de Assistência
Social e Comunitária, responsável pela política
de ação social da prefeitura, disse que essa nova
fase tem o objetivo de evitar a regressão à situação
anterior de risco.
Na capital gaúcha
existem 27 núcleos de atendimento familiar e cada um atende
50 famílias. Outros 15 núcleos serão criados
neste ano. Os casos geralmente são encaminhados por Conselhos
Tutelares e depois da avaliação da situação
de risco é concedida a bolsa-auxílio no valor de R$
150,00. A prioridade é para o atendimento de situações
em que os menores são vítimas de trabalho infantil,
violência familiar ou submetidos à mendicância.
O programa existe desde 1996 para atender menores de zero a 17 anos
e é exigida freqüência escolar e fim da situação
de risco. O contrato é firmado com as famílias por
seis meses e pode ser renovado por igual período.
O programa bolsa-escola
de Belém também tem como objetivo tirar crianças
e adolescentes de situações de risco. Integrado ao
projeto 'Sementes do Amanhã', permitiu o retorno aos bancos
escolares de cem crianças que ajudavam os pais a catar lixo
no aterro sanitário do Aurá. Implementado em 1997,
o programa atendeu, no ano passado, 9.734 famílias.
Para evitar
que as famílias se tornem dependentes do auxílio,
a prefeitura facilita o acesso às linhas de crédito
oferecidas pelo Banco do Povo. Com o dinheiro do financiamento -
pago com juros de 0,5% ao mês -, muitos pais estão
conseguindo montar pequenos negócios.
Na avaliação
do coordenador do programa do Recife, Manoel Moraes, o valor proposto
pelo governo federal, R$ 15 por aluno matriculado, terá impacto
econômico pequeno nas famílias que residem nas cidades,
por causa do alto custo de vida. A prefeitura pernambucana paga
R$ 75 por aluno matriculado no programa, que atende 6.753 crianças
de 7 a 14 anos. As crianças que completam 15 anos durante
o ano letivo têm o benefício estendido até o
fim do ano escolar.
No relatório
do Banco Mundial, os técnicos identificaram um problema de
exclusão nos programas bolsa-escola - os 'não-cobertos',
como são classificados. A maioria dos municípios e
estados contempla famílias com crianças entre sete
e 14 anos, até porque o monitoramento da freqüência
e desempenho nessa faixa de idade, de escolarização
obrigatória, é mais fácil. Ficam de fora, portanto,
os miseráveis com filhos pequenos ou adolescentes. O estudo
sugere uma ampliação da cobertura nos moldes do mexicano
Progesa, que atinge desde gestantes até adolescentes.
O Progesa exige
que as mães façam pré e pós-natal, dá
cestas básicas e aumenta o valor da bolsa à medida
que a criança vai avançando nas séries escolares.
Proposta semelhante foi apresentada ao Ministério da Fazenda,
há dois meses, pelos economistas José Marcio Camargo
e Francisco Ferreira, da PUC/RJ. Convidados pelo Instituto Brasileiro
de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas,
que mantém um convênio com o ministério, eles
elaboraram o projeto de um benefício social único
(BSU).
A linha da pobreza
utilizada como critério de seleção dos beneficiários
foi de R$ 74,48 per capita. Os economistas simularam dois cenários:
o primeiro, mais modesto no valor do benefício do que o segundo.
Por essa simulação, famílias com adolescentes
em idade de freqüentar o ensino médio receberiam uma
bolsa equivalente a três vezes o valor da renda per capita
dos indigentes, ou seja, R$ 223,44 mensais. A contrapartida seria
o comparecimento a 90% das aulas. As com filhos entre sete e 14
anos receberiam R$ 186,20. Já as famílias com crianças
com menos de sete anos teriam o benefício de R$ 148,96, sob
a condição de comparecimento regular a serviços
médicos. O mesmo se aplicaria a famílias sem crianças,
mas com gestantes, que teriam de fazer pré e pós-natal.
Esse valor também seria concedido a famílias com idosos
que não recebam aposentadoria. Casais sem filhos, desempregados,
também teriam direito a receber os R$ 148,96 e, em troca,
prestariam 20 horas semanais de serviços comunitários.
'O BSU, ampliando
o princípio do bolsa-escola, seria um programa de transferência
de renda associada à redução da probabilidade
de a família permanecer ou regressar à pobreza', diz
Ferreira. Os benefícios não seriam cumulativos. Se
atingissem apenas as famílias com filhos nas escolas fundamentais
e médias, pelos cálculos dos economistas, a proporção
de indigentes seria reduzida pela metade. A Secretaria de Política
Econômica informou que vê o projeto apenas como um trabalho
acadêmico.
(Gazeta Mercantil)
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