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Economista
aponta mais um ano difícil para o trabalhador
O crescimento,
otimista, de 2,5% projetado para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro
pelo governo, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e
pela média dos analistas não será suficiente
para que a economia absorva os cerca de 1,5 milhão de pessoas
que devem ingressar no mercado de trabalho este ano. De acordo com
cálculos do economista João Sabóia, professor
do Instituto de Economia da UFRJ, essa taxa de expansão garante,
no máximo, o surgimento de 1,103 milhão de postos.
Ou seja, haveria um déficit de 397 mil vagas.
Isso significa
que, por mais um ano, o desempenho da economia brasileira não
será capaz sequer de manter inalterada a situação
do mercado de trabalho, isto é, acomodar quem chega e deixar
estável o número de pessoas ocupadas e desempregadas.
Segundo Sabóia, para isso seria necessária uma expansão
de 3,4% do PIB. Só a partir dessa taxa de crescimento o país
poderia realmente criar oportunidades de trabalho e reduzir o número
de desocupados.
Enquanto isso,
o aumento do salário-mínimo para R$200 promove uma
melhora na economia informal. Apesar do governo insistir que o salário-mínimo
só é usado para reajustar os benefícios previdenciários,
pois perdeu importância para o mercado de trabalho, no Rio,
38% dos trabalhadores informais ganham o piso salarial; em São
Paulo, são 35% deles.
Leia
mais:
- Mais
um ano de desemprego
Leia
também:
- Anel de desigualdade cerca centro rico de SP
- Aumento
do mínimo tem grande peso na economia informal
- Inadimplência
alta reduz retorno de financiamento ao consumidor
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Anel
de desigualdade cerca centro rico de SP
São Paulo
é uma cidade tão desigual quanto o Rio. Metade de
seus moradores vive em domicílios cujo chefe ganha até
R$ 700, o que equivale a 47% da renda média da cidade, de
R$ 1.480. No Rio, essa proporção é praticamente
a mesma: 48%. A grande diferença entre as duas capitais é
a distância geográfica entre ricos e pobres.
Em solo carioca,
qualquer turista pode observar o contraste entre os morros e os
prédios da zona sul. Em São Paulo, quem visita exclusivamente
os bairros centrais ricos ou a extrema periferia pobre não
enxerga esse grau de desigualdade, pois essas são regiões
com razoável homogeneidade no padrão de vida de seus
habitantes.
A desproporção
entre riqueza e pobreza torna-se mais visível em um cinturão
de distritos que estão no meio do caminho entre um extremo
e outro da cidade. São locais próximos o bastante
da região central para ainda serem atraentes aos mais ricos,
mas que misturam edifícios de alto padrão com construções
de baixa renda, favelas ou cortiços em quantidade suficiente
para fazer crescer as estatísticas de desigualdade.
É o que
mostra estudo feito pela Folha com base nos dados socioeconômicos
do Censo 2000 que foram divulgados até agora pelo IBGE (Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No mapa, elaborado
pelo Geoscape (www.geoscape.com.br) a pedido da reportagem, os distritos
paulistanos estão pintados de acordo com o grau de desigualdade
interna. Os que estão em marrom, vermelho e laranja têm
maior diferença de renda. Nos que estão em verde,
existe mais homogeneidade, seja ela na riqueza ou na pobreza.
Ao sul, a fronteira
entre os bairros ricos e os pobres é demarcada por distritos
como Vila Andrade, Santo Amaro e Jabaquara. À leste, por
Vila Prudente, Vila Formosa e Água Rasa. Ao norte, por Casa
Verde, Vila Guilherme e São Domingos. À oeste, por
Jaguaré, Rio Pequeno e Vila Sônia, entre outros distritos.
Em todos esses casos, a metade mais pobre dos chefes de família
alcança menos de 60% da renda média do distrito.
O caso mais
marcante é o de Vila Andrade. Lá 50% dos responsáveis
pelo domicílio têm renda de até R$ 800 por mês,
enquanto a renda média dos chefes vai a R$ 3.383. Colocado
de outra forma, a soma dos rendimentos mensais da metade de baixo
da pirâmide (R$ 8,4 milhões) é menos de um quarto
da renda total da metade superior (R$ 35,5 milhões).
Há uma
explicação para isso. Na Vila Andrade convivem condomínios
de alto padrão, como o Portal do Morumbi, e a segunda maior
favela da cidade, ironicamente batizada de Paraisópolis.
A diferença
em relação ao Rio, nesse caso, é que os ricos
ocupam o alto do morro, enquanto os pobres ficam na baixada. O divisor
de águas é a avenida Giovanni Gronchi, onde estão
grandes estabelecimentos comerciais, como o Shopping Jardim Sul.
Em situação oposta está Cidade Tiradentes.
Na extrema zona leste, fronteiriço ao município de
Ferraz de Vasconcelos, o distrito é um conglomerado de Cohabs,
como são chamados os conjuntos habitacionais de baixa renda
construídos pelo município.
Estão
lá as Cohabs Inácio Monteiro, Prestes Maia, Cidade
Tiradentes e Barro Branco, entre outras. Daí a homogeneidade:
a renda conjunta da metade mais pobre dos chefes de família
(R$ 12,4 milhões) do distrito equivale a 83% da renda da
metade mais "rica" (R$ 14,9 milhões).
Se considerarmos
só a distribuição de renda interna, a Cidade
Tiradentes está mais próxima de distritos ricos como
Moema (renda média de R$ 5.577), onde a metade mais pobre
tem renda conjunta equivalente a 72% da metade mais rica, do que
de outros distritos pobres, como Pirituba, no qual essa proporção
cai a 62%.
As semelhanças,
porém, param aí. Cidade Tiradentes é um dos
três distritos mais violentos de São Paulo, com uma
taxa anual de mortalidade por homicídio de 102 mortes por
100 mil habitantes, enquanto em Moema esse índice é
de apenas 7 por 100 mil.
Isso indica que a causa da violência não é a
desigualdade de renda dentro de uma determinada área, seja
ela um bairro ou uma cidade, mas a proximidade entre as populações
muito rica e muito pobre em uma mesma conurbação (região
formada por uma cidade e seus subúrbios ou por cidades reunidas,
como no ABC paulista), conjugada com a precária presença
do Estado.
O caso de Vila
Andrade é exemplar. Tem o mais elevado índice de desigualdade
de renda, mas sua taxa de homicídio, de 29/100 mil, é
inferior à média da cidade e um terço da taxa
do vizinho Jardim Ângela, o segundo mais homogêneo distrito
do ponto de vista da distribuição da renda.
(Folha de
S. Paulo)
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