CLT
é ignorada e emprego fica cada vez mais precário, aponta Datafolha
Enquanto
sindicatos e governo discutem a alteração da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), a situação do trabalhador brasileiro
está cada vez mais precária. Pesquisa realizada pelo Datafolha mostra
que a maioria dos brasileiros não usufruem dos direitos sociais previstos
em lei: não têm direito a 13.º (54%), férias remuneradas
(55%) ou plano de saúde (81%). Soma-se a isso uma queda da renda obtida
pelo trabalho. A
pesquisa também aponta que, entre 1996 e 2001, o percentual de brasileiros
com 16 anos ou mais que se declaram sem ocupação e buscando emprego
saltou de 4% para 11%. Projetando-se esses valores para o universo da população
pesquisada, vê-se que o número de desempregados foi triplicado, de
cerca de 4 milhões para 12,760 milhões. Apenas o novo contingente
de desempregados surgido nesses cinco anos equivale às populações
do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. A
maioria dos trabalhadores brasileiros - 56% - ganha até R$ 360 ou dois
salários mínimos por mês. Pior: desses, pouco menos da metade,
ou 26% da população com 16 anos ou mais, recebem até um salário
mínimo (R$ 180). Isso significa que cerca de 30 milhões de brasileiros
estão no limiar da linha de pobreza internacional definida pelo Banco Mundial,
com uma renda de até US$ 2 por dia. Para complicar, 7% do total (8 milhões
de pessoas) recebem até R$ 90 por mês, o que os joga para o patamar
da miséria (não têm o suficiente nem para comer). Um
dado curioso dá a dimensão da perda de poder de compra dos salários.
Considerando-se o rendimento médio mensal de hoje, o brasileiro pode comprar
93,5 kg de carne ou 194,3 kg de pão. Segundo pesquisa do ano de 1911 com
trabalhadores do setor têxtil em São Paulo, o salário médio
assegurava o consumo de 139,1 kg de carne bovina ou 313,3 kg de pães por
mês. Leia
mais: - O país dos direitos de papel Leia
também: - Mal-estar ainda predomina no trabalho
- Desemprego triplica; emprego bom cai 35% - Informalidade
achata ainda mais a renda - Para 56%, ganho vai até
R$ 360 - Jornada dura mais que 8 horas
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O
país dos direitos de papel A
maioria dos brasileiros não usufruem dos direitos sociais previstos em
lei: não têm direito a 13º (54%), férias remuneradas
(55%) ou plano de saúde (81%). Ganham pouco (56% faturam no máximo
dois salários mínimos, R$ 360/mês), trabalham muito -quando
conseguem vaga, já que 11% estão desempregados e 16% fazem bicos.
Consideram que ganham um salário injusto, acham que não são
valorizados, já pensaram em mudar de emprego e gostariam de abrir um negócio
próprio. Ainda assim dizem que se dão bem com chefes e colegas de
trabalho. Negros e mulheres ainda enfrentam discriminação e ganham
cerca de 40% menos do que a média. (Folha
de S. Paulo)
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Mal-estar
ainda predomina no trabalho (Marcio Pochmann) Onze
gerações separam o fim da escravidão e o atual exercício
do trabalho no âmbito do capitalismo brasileiro. Nesse tempo, o balanço
evolucionista do trabalho não parece animador, mesmo considerando que o
país deixou de ser uma grande fazenda geradora de produtos primários
voltados à exportação para se localizar, neste início
de terceiro milênio, entre as dez principais economias industriais do mundo. Essa
interpretação é sugestiva do conjunto de percepções
que os brasileiros apresentam a respeito do sentido do trabalho, revelado pelo
Datafolha. A constatação da ausência de uma verdadeira sociedade
salarial no Brasil, apontada pela síntese da pesquisa, distingue o recorrente
sucesso do capitalismo selvagem ante a insegurança e a instabilidade generalizadas
no trabalho. Diferentemente
da incessante busca pelo bem-estar social inventado pelo histórico reformismo
social-democrata no capitalismo avançado, contempla-se nas terras de Macunaíma
a persistência dos sinais de mal-estar no interior das classes que vivem
do próprio trabalho. Ora é o crescimento econômico que, na
ausência de políticas de proteção consistentes, realiza
uma incorporação social capenga, incapaz de reduzir as grandes distâncias
entre ricos e pobres. Ora é o desajuste da economia que, levando à
recessão ou reduzindo o ritmo de crescimento econômico, gera maior
exclusão. Não
há como negar que sobrevivem, pelo menos, quatro grandes questões
não resolvidas em relação ao mercado de trabalho. A
primeira revela a incompatibilidade entre a insuficiência da remuneração
obtida no trabalho e a diversidade oferecida pelo padrão de consumo. O
Datafolha aponta a presença de baixos rendimentos, longe da constituição
de uma sociedade salarial fundada no consumo de massa, já que 56% dos brasileiros
vivem com menos de R$ 12 diários. Considerando-se
o rendimento médio, constata-se que ao final do mês poderá
ter consumido 93,5 kg de carne ou 194,3 kg de pão. Conforme pesquisa de
1911 com trabalhadores do setor têxtil em São Paulo, o salário
médio assegurava o consumo de 139,1 kg de carne bovina ou 313,3 kg de pães. Mesmo
para as classes médias, conforme relatava o jornal "A Classe Operária",
em 18 de julho de 1925, a garantia necessária à cobertura do padrão
decente de consumo exigia a realização de serviços laborais
extraordinários. Em razão disso, consolidou-se, até hoje,
outra questão mal resolvida, que pode ser identificada pela cultura excessiva
das jornadas longas de trabalho. Segundo
o Datafolha, a maior parte dos brasileiros convive com jornadas extensas, considerando
que um em cada dois entrevistados indicou trabalhar ao menos seis dias por semana.
Pelos relatos da imprensa no início do século 20, a prática
de jornadas de trabalho acima de 11 horas por dia já existia, permitindo
associar o ambiente de trabalho a verdadeiras fábricas-cárceres. A
discriminação no e do trabalho estabelece uma terceira questão
não resolvida. Pelas informações oferecidas pelo Datafolha,
o salário médio mensal das mulheres era 40,4% menor em novembro
de 2001. Dados de 1911 permitem observar que a remuneração da mulher
era 41,2% menor do que a do homem quando no exercício das mesmas funções
laborais no setor têxtil. Finalmente,
uma quarta questão identificada por meio da intranquilidade existente no
exercício do trabalho assalariado no Brasil. Aparentemente ela surge com
aparência paradoxal. De um lado, a cada dez desempregados e trabalhadores
informais, nove sonham com um emprego com registro em carteira, revelando o interesse
pelo assalariamento regulamentado. Mas, de outro lado, oito em dez brasileiros
têm interesse por um negócio próprio. A incompatibilidade
entre o assalariamento e a perspectiva libertadora do exercício de um auto-emprego
pode ser apenas aparente, derivada tanto da ausência como da descontinuidade
dos contratos de trabalho -também conhecida como flexibilidade burra. Diante
do quadro de profunda insegurança no exercício do trabalho assalariado,
a possibilidade de auto-ocupação pode revelar não só
a descrença dos brasileiros no que a economia de mercado produz, por meio
do trabalho subordinado, mas o desenvolvimento de estratégias de sobrevivência.
Sem a presença do estágio de bem-estar social, ocasionada, em grande
medida, por uma rede de proteção social a funcionar ante os riscos
do trabalho (doença, acidente e desemprego), cabe ao trabalhador apostar
no empreendimento próprio mesmo com altíssimas taxas de mortalidade
dos negócios, como forma de procurar proteção da volúpia
do capitalismo selvagem à moda brasileira. Na
toada temporal, os sentidos atuais do trabalho confirmam a permanência de
uma sociedade pouco fundada no assalariamento regular e regulamentado. A estratégia
auto-ocupacional permanece ativa, afirmando-se cada vez mais pela necessidade
de sobreviver no capitalismo selvagem, avesso a reformas civilizatórias. (Folha
de S. Paulo)
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Desemprego
triplica; emprego bom cai 35% A
situação do trabalhador brasileiro é cada vez mais precária.
Seja pela dificuldade crescente de arrumar uma ocupação, seja pela
perda de qualidade dos empregos disponíveis. A isso soma-se uma queda da
renda obtida do trabalho. Esse quadro, já conhecido para as regiões
metropolitanas nas pesquisas do Seade/Dieese e do IBGE, revela-se nacional, segundo
pesquisa Datafolha, feita entre 19 e 21 de novembro do ano passado. O levantamento,
realizado em 126 municípios de todos os Estados do país, ouviu 2.578
pessoas e tem margem de erro de dois pontos percentuais. Entre
1996 e 2001, o percentual de brasileiros com 16 anos ou mais que se declaram sem
ocupação e buscando emprego saltou de 4% para 11%. Projetando-se
esses valores para o universo da população pesquisada, vê-se
que o número de desempregados foi triplicado, de cerca de 4 milhões
para 12,760 milhões. Apenas o novo contingente de desempregados surgido
nesses cinco anos equivale às populações do Rio de Janeiro
e de Belo Horizonte. Mas
não é apenas a quebra sucessiva de recordes de desemprego que tem
aumentado a precarização do trabalho no Brasil. O emprego formal,
seja o registrado em carteira ou o oferecido pelo funcionalismo público,
sofreu perda significativa desde 1996. Segundo
o Datafolha, o percentual de brasileiros que vivem de bicos ou de trabalhos esporádicos
(free-lance) cresceu de 13% para 16%, equiparando-se ao percentual de assalariados
registrados, que caiu de 22% para 16% nesses cinco anos. Os funcionários
públicos, que eram 9% da População em Idade Ativa (PIA) em
1996, somam agora apenas 5%. Também os autônomos regulares, aqueles
que pagam ISS (Imposto Sobre Serviços), estão em queda: passaram
de 9% para 5% no período. O
único segmento que se manteve estável foi o dos assalariados sem
registro, cujo percentual passou de 11% para 10%. Em
outras palavras, se fôssemos dividir esses tipos de ocupação
entre estáveis e precárias, o primeiro grupo, formado por assalariados
registrados, servidores públicos e autônomos regulares, encolheu
de 40% da PIA em 1996 para 26% em 2001. O grupo dos ocupados em situação
precária aumentou de 24% para 26%. Ou seja, apenas metade da força
de trabalho ocupada no Brasil tem garantias mínimas. Nesses cinco anos,
cerca de 16 milhões de brasileiros perderam os direitos associados ao fato
de terem uma ocupação estável. Além
de dar menos direitos, a informalidade paga pior. Um assalariado registrado ganha
em média R$ 551,80, segundo o Datafolha. Quem vive de bico recebe R$ 393,20,
e o assalariado sem registro, ainda menos: R$ 286,30. A pesquisa mostra que a
precarização varia conforme a região do país. A situação
é muito pior no Nordeste, onde a soma de desempregados e trabalhadores
em ocupações precárias chega a 41% da PIA, do que no Sul,
onde esse percentual é de 31%. Quem
sobra com essas ocupações piores, com maior frequência, são
as pessoas com menor escolaridade (21% dos que estudaram até o ensino fundamental
vivem de bico), as de cor parda ou negra, e as que vivem fora das regiões
metropolitanas. Os setores da economia nos quais o problema é mais crítico
são a agropecuária e a construção civil, cujos percentuais
de ocupados em ocupações temporárias é de 45% e 51%,
respectivamente. Essa
transformação do mercado de trabalho brasileiro em tão curto
período tem diversas explicações, que variam segundo a tendência
ideológica do especialista. Mas, como regra geral, elas passam pelo aumento
da inserção brasileira na economia global (o que implicou aumento
de importações e fechamento de vagas, principalmente na indústria)
e por taxas de crescimento inferiores às necessárias para o país
encaixar os milhões de jovens que chegam anualmente ao mercado de trabalho. (Folha
de S. Paulo)
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Informalidade
achata ainda mais a renda A
diferença entre os rendimentos dos trabalhadores do setor formal e informal
é ainda maior do que sugere a pesquisa Datafolha. Segundo
o estudo, um trabalhador com carteira assinada ganha 92% a mais que um assalariado
sem registro e tem um rendimento 40% maior do que os brasileiros que fazem bico. A
pesquisa apurou, no entanto, apenas a renda bruta do entrevistado no mês
anterior -outubro de 2001. Assim, rendimentos extras como férias e 13º
salário não foram computados. Considerando
apenas esses dois direitos, a renda anual dos trabalhadores brasileiros formais
pula para mais de o dobro da renda daqueles que não são registrados.
Além disso, fica 56% maior do que a dos que fazem bico. Os
trabalhadores formais contam ainda com outros direitos que, apesar de não
serem pagos todo mês ou ano, acabam se transformando em rendimento adicional
em algum momento. Eles
têm direito, por exemplo, a seguro-desemprego, auxílio-doença
e ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), uma poupança
equivalente a um salário por ano e que pode ser sacada em situações
específicas, como demissão. (MB) (Folha
de S. Paulo)
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Para
56%, ganho vai até R$ 360 A
maioria dos trabalhadores brasileiros ganha até R$ 360 ou dois salários
mínimos por mês: 56%. Pior ainda: desses, pouco menos da metade,
ou 26% da população com 16 anos ou mais, recebem até um salário
mínimo (R$ 180). Isso significa que cerca de 30 milhões de brasileiros
estão no limiar da linha de pobreza internacional definida pelo Banco Mundial,
com uma renda de até US$ 2 por dia. Para complicar, 7% do total (8 milhões
de pessoas) recebem até R$ 90 por mês, o que os joga para o patamar
da miséria (o que significa não ter o suficiente nem para comer). É
bom lembrar que as informações se referem apenas às pessoas
ocupadas. Ou seja, a renda declarada, em muitos casos, terá de ser compartilhada
por outras pessoas da mesma família. Na
pirâmide do mercado de trabalho, 25% dos ocupados ganham entre R$ 361 e
R$ 900 por mês. Então vêm 9% com renda mensal superior a R$
901 e inferior a R$ 1.800. Apenas 5% dos ocupados recebem mais do que dez salários
mínimos. Os
de menor rendimento são, principalmente, os assalariados sem registro e
os que têm trabalhos esporádicos. As funções que apresentam
melhor remuneração são as de empresário (R$ 2.062,
em média), autônomo regular (R$ 1.275), funcionário público
(R$ 785) e assalariado com registro (R$ 645). (Folha
de S. Paulo)
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Jornada
dura mais que 8 horas Desde
1934, a legislação prevê a jornada de oito horas diárias.
Mas nem todos os brasileiros desfrutam desse direito. Pelo menos 39% dos ocupados
afirmam trabalhar mais do que oito horas por dia. Na média, os brasileiros
trabalham 8 horas e 24 minutos. Para
contrariedade dos defensores do ócio produtivo, como o italiano Domenico
de Masi, não é só a jornada diária do brasileiro que
é grande. Ao longo da semana, a maioria dos trabalhadores, 55%, diz laborar
mais do que as 40 horas previstas pela Constituição de 1988. E isso
não é fruto apenas das horas-extras feitas ao longo da semana: 52%
afirmam trabalhar também aos sábados e/ou domingos. A
distribuição da carga de trabalho não é homogênea.
Os homens dizem trabalhar mais do que as mulheres: média diária
de 8 horas e 42 minutos contra 7 horas e 54 minutos. Mas esse dado embute uma
injustiça, porque não incorpora as horas gastas nas tarefas domésticas. Quem
ganha mais trabalha mais. Quem recebe até R$ 90 trabalha 7 horas e 18 minutos,
enquanto os que ganham mais do que R$ 1.800 fazem 9 horas e 18 minutos. Quem não
tem trabalho fixo tem média menor de ocupação do que registrados:
8 horas e 6 minutos contra 8 horas e 36 minutos. Os empresários trabalham
10 horas por dia, contra 7,5 horas dos funcionários públicos (Folha
de S. Paulo)
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