SÃO
PAULO. Dirigentes de seis centrais sindicais do país,
entre elas CUT e Força Sindical, lançam hoje
a reivindicação que prometem transformar na
principal bandeira das negociações trabalhistas
deste ano: a redução da jornada de trabalho
de 44 para 40 horas semanais, sem corte nos salários.
A campanha será lançada em São Paulo
e marca o início da coleta de assinaturas para um abaixo-assinado
que pretende agilizar a tramitação no Congresso
de projetos de emenda constitucional sobre o tema. O abaixo-assinado
será entregue após as comemorações
do 1 de Maio.
Com a redução da jornada em quatro horas semanais,
argumentam os sindicalistas, é possível criar
entre 1,9 milhão e 3 milhões de empregos. Trata-se
de um número até modesto: só na Grande
São Paulo, há quase 2 milhões de desempregados.
Mas a reivindicação não é isolada.
As centrais querem ainda limitar o número de horas-extras
e reduzir a flexibilidade que as empresas têm hoje,
como o banco de horas.
"As empresas aumentaram muito a produtividade nos últimos
anos com o uso de tecnologia. O ganho alcançado até
agora só foi absorvido pelas empresas. Chegou a hora
de dividir", afirma Luiz Marinho, presidente da CUT.
A jornada de trabalho no Brasil foi de 48 horas semanais
até a Constituição de 1988, quando baixou
para 44 horas semanais. Na prática, porém, as
empresas começaram a reduzir a jornada em 1985, em
acordos coletivos firmados diretamente com os trabalhadores.
É por isso que a campanha deste ano não vai
se limitar a tentar mudar a lei.
Trabalhadores
" O tema vai para a mesa das empresas. Será
a principal bandeira das negociações salariais
deste ano", diz João Carlos Gonçalves,
o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.
Estudos do Dieese mostram que o brasileiro trabalha em média
1.949 horas por ano. É mais do que em países
como Japão (1.989 horas/ano) e Alemanha (1.560 horas/ano).
De 1999 para cá, com a instabilidade econômica,
as empresas passaram a usar cada vez mais a hora-extra para
evitar novas contratações. Entre 1985 a 1988,
o percentual de trabalhadores da Grande São Paulo que
faziam hora-extra era de 22%. Entre 1989 a 1996, esse percentual
pulou para 39%. Em janeiro passado, era de 46,7%. No Rio,
bate na casa de 48% e em Recife chega a 54,5%.
"Trabalhamos muito, mas para adotar a redução
da jornada e produzir efeito no emprego é preciso que
a economia tenha dinamismo. Sem crescimento econômico,
a medida é mais um fator de custo e pode deteriorar
a atividade econômica", afirma Cláudio Dedecca,
economista da Unicamp.
Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio,
tudo vai depender da negociação com as empresas,
pois a simples redução da jornada em 10% não
garante a criação de vagas. Marinho, da CUT,
diz que limitar o uso de hora extra é essencial para
garantir a abertura de vagas depois da redução
da jornada. Segundo ele, uma alternativa é que, a cada
duas horas extras trabalhadas, uma seja paga com adicional
e outra seja obrigatoriamente compensada com descanso. Hoje,
cada hora extra fica ao menos 25% mais cara para a empresa.
O secretário-geral da Força Sindical lembra
que em abril começam as discussões em torno
da reforma trabalhista e os empresários vão
tentar tirar direitos já garantidos na Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT) e transferi-los para as negociações
coletivas, prejudicando os trabalhadores vinculados a sindicatos
com menor poder de fogo. Desta forma, explica, a redução
da jornada e a limitação das horas-extras entram
na discussão como uma “agenda positiva”
lançada pelos trabalhadores.
As informações são do jornal O Globo.
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