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IBGE
27/08/2004
Brasileiro dá destino inadequado a um quilo de lixo por dia

Você pensa que ao jogar algo fora o problema do lixo está resolvido? Pense de novo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 21% das 228 mil toneladas de lixo recolhidas por dia no país ainda são despejadas em vazadouros a céu aberto, sem nenhuma medida para minimizar o impacto ambiental, e 36% vão para aterros que não atendem a todas as medidas de segurança.

O IBGE também aponta que 35% do lixo são jogados em aterros sanitários, chamados assim por cumprirem todas as normas técnicas de proteção ao meio ambiente. No entanto, esses percentuais não são confiáveis, pois, para obtê-los, o instituto partiu de informações fornecidas pelos municípios, responsáveis legais pelo lixo, e não de pesquisas próprias. Ou seja: a realidade é um pouco pior. Espalhados pelo território nacional, os lixões dissipam odores desagradáveis, contribuem para a proliferação de vetores de doenças, como ratos, mosquitos e moscas, e podem contaminar cursos d’água e lençóis freáticos por meio do chorume – liquido proveniente da decomposição do lixo orgânico.

Mas, se depender da cidade catarinense de Chapecó, o IBGE pode confiar nas informações recebidas. Em 2000, após um investimento inicial de R$ 1 milhão, a prefeitura colocou em funcionamento seu aterro sanitário, cadastrado no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. “As cerca de 70 toneladas de lixo doméstico recolhidas diariamente vão para lá, onde também tratamos, à parte, o lixo hospitalar. Os rejeitos industriais vão para um aterro terceirizado”, explica Jair Antunes, diretor do Departamento de Meio Ambiente da cidade.

Medidas severas
No local, distante de mananciais e zonas residenciais, 8,2 hectares tiveram seu solo impermeabilizado e coberto por uma membrana especial de plástico, impedindo a penetração do chorume na terra. O lixo recolhido é distribuído pela área, compactado, coberto com terra e argila, “lacrado” por uma camada de plástico e novamente recoberto por terra, sobre a qual são plantadas gramíneas que evitam a erosão. Além disso, o aterro conta com sistemas de drenagem especiais para a captação do chorume e dos gases resultantes da decomposição. O chorume é tratado e os gases, como o metano, são queimados.

O novo procedimento substituiu o lixão de Parque das Palmeiras, que por mais de 20 anos recebeu os detritos da cidade e agora passará por um processo de recuperação, além de as famílias que trabalhavam lá como catadores terem formado, com o apoio da prefeitura, uma cooperativa de reciclagem. Antunes ressalta que o aterro faz parte de um processo mais amplo: “Implantamos a coleta seletiva, o recolhimento de pneus, e fazemos um trabalho de educação ambiental em parceria com as escolas públicas.”

Porém, Odair Balen, coordenador do Programa Verde Vida, ONG local, levanta alguns pontos ainda falhos. “Tecnicamente, não temos o que reclamar do aterro, mas a coleta seletiva é precária. Nossa organização recicla cerca de 230 toneladas por mês, enquanto a cooperativa da prefeitura apenas 50”, critica Odair.

Cidadãos devem ter papel ativo
Segundo Odair, parte do problema é causada pelos próprios moradores. “As pessoas acham ‘bonito’ que seus restos sejam levados ao aterro e não se preocupam em diminuir a produção de lixo ou separá-lo corretamente para a coleta seletiva. Falta-lhes cultura e consciência”, afirma. Os números estão a seu lado.

Tanto é assim que estudo feito pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), organização não governamental fundada em 1992 e mantida por diversas empresas privadas, revela que o brasileiro produz, em média, 700 gramas de lixo por dia. Levando-se em conta a expectativa de vida da população nacional, de 68 anos, isso significa que, até a morte, cada pessoa gera pouco mais de 17 toneladas de lixo. Esse número tende ser tanto maior quanto mais urbanizado for o local. Nos Estados Unidos, por exemplo, o índice é de 2 kg/habitante/dia.

A preocupação com o lixo é tamanha que o tema mereceu um capítulo à parte na Agenda 21, um dos principais documentos aprovados durante a Rio-92. Elaborado por governos e ONGs de 179 países, a Agenda 21 se propõe a traduzir em ações o conceito de desenvolvimento sustentável e apresenta o princípio dos três Rs: reduzir ao mínimo a geração de resíduos e aumentar ao máximo sua reutilização e reciclagem. Em países desenvolvidos, a maior parte das políticas públicas é voltada para ações que envolvam os três Rs. De acordo com o Cempre, na Suíça, por exemplo, somente 13% do lixo recolhido vão para aterros. Quase a metade, 45%, são incinerados, com a recuperação de energia e sem agressão à atmosfera, 11% (os restos orgânicos) são transformados em adubo e 31% são reciclados. No Brasil, 60% vão para aterros, enquanto 0% são incinerados, 1,5% vira adubo e apenas 8% são reciclados.

Lixo mínimo
Preocupada com o lixo gerado pelo Hotel Bühler, um dos mais tradicionais da região de Visconde de Mauá e do qual é proprietária, Norma Bühler incorporou os Rs em seu cotidiano. Há três anos, ela criou o projeto Lixo Mínimo, cuja idéia é simples: dar um fim correto aos dejetos por meio do reaproveitamento e da reciclagem de material orgânico e inorgânico. “Pesquisei como tratar diferentes tipos de resíduos e encontrei ajuda num projeto desenvolvido em Volta Redonda, chamado Lixo Zero”, explica Norma.

No hotel, todos os restos orgânicos são transformados em adubo ou aproveitados para a alimentação de animais. O lixo inorgânico é separado e lavado. Os materiais em boa condição para reciclagem, como latas de alumínio e embalagens Tetrapak, são doados à Sociedade Pestalozzi de Resende, instituição que atende pessoas com deficiência mental. Outros materiais, como preservativos, cigarros e restos de remédios, são enterrados para se decomporem ao longo de anos em locais conhecidos como cemitérios, longe de rios e lençóis d’água.


IVAN KASAHARA
da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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