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06/02/2004
Vítimas de enchentes hostilizam Marta

Pouco depois de anunciar isenção do IPTU para as vítimas de enchente, a prefeita Marta Suplicy (PT) foi hostilizada ontem por um grupo de moradores da região do Aricanduva (zona leste de São Paulo), uma das mais afetadas pelas últimas chuvas.
Quando Marta tentou discursar, moradores jogaram lama em sua direção. Ela não foi atingida, mas sim uma jornalista ao seu lado. Marta desistiu de falar e entrou no carro. Ao deixar o local, auxiliada por homens da Guarda Civil Metropolitana, teve o carro esmurrado por moradores.

Mais tarde, Marta negou que tivesse sofrido hostilidade. "Não fui recebida com lama, mas com desespero. Estou aqui para dar solidariedade." A visita ocorreu dois dias depois de ela ter discutido com uma moradora do Jardim Jussara (zona oeste), área que também foi afetada por chuvas na última segunda-feira. O bate-boca foi transmitido pela TV.

Ontem, a prefeita visitou casas na rua Ganges (travessa da av. Aricanduva) que estavam alagadas e cheias de barro. Os moradores haviam perdido geladeiras, fogões e boa parte da mobília.

Na casa de Karina Aparecida Firmo, 23, a prefeita pediu que fosse providenciada uma marmita. "Pelo que vi aqui, não vai ter como fazer comida", disse Marta.

Segundo Marta, os que tiveram as casas alagadas, além da isenção do pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), receberão auxílio do SOS Cidade, um plano emergencial para arrecadar de voluntários e empresários doações de roupas, colchões, móveis e até eletrodomésticos. Várias empresas anunciaram ontem mesmo adesão à campanha.

"Para quem perdeu fogão, geladeira, roupa, a prefeita acabou de anunciar que está convocando todos os empresários. Nunca vocês viram; a prefeita vem aqui e enfrenta o problema", disse o secretário Jilmar Tatto (Transportes), do alto do carro, enquanto tentava acalmar a população. Muitos moradores gritavam "você não vai se reeleger" e "mentirosa".

A hostilidade enfrentada por Marta foi justificada por Alexsandro Gomes da Silva 29. Desempregado e morador da rua Pataxó, ele perdeu todos os móveis da casa. Para Silva, Marta não deveria nem ter aparecido no bairro. "Ela veio aqui no dia errado. O povo está todo revoltado, queriam até linchar a mulher. Veio aqui pra quê, pra apanhar?"

Também moradora da rua Pataxó, a metalúrgica Juliana dos Santos Belo de Almeida, 18, teve o muro de sua casa derrubado. Para ela, a prefeitura agiu errado. "Ela vem aqui falando de cesta básica, de colchonete, a gente não precisa dessas coisas. Precisa de dignidade, de honra e de vontade de viver de novo depois disso tudo."

À tarde, Marta afirmou que irá a Brasília hoje, reunir-se com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, para obter recursos para obras antienchentes.
A prefeitura atendeu em seis dias 1.072 famílias atingidas pela chuva, volume sete vezes maior do que o registrado em janeiro e fevereiro de 2003.



ISABELLE MOREIRA LIMA
da Folha de S. Paulo

 
 
 

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