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educação
15/03/2004

“Escolas de latinhas” são desativadas e crianças ficam sem estudo

Vanessa Sayuri Nakasato
Veridiana Novaes

A Prefeitura de São Paulo desativou duas “escolas de latinhas” da região da Capela do Socorro, zona sul da cidade, com a promessa de substituí-las por prédios de alvenaria. No entanto, até agora, nada foi construído nesses lugares e, mais de 500 crianças estão sem ir para a aula.

As escolas de latinhas foram construídas na gestão do ex-prefeito Celso Pitta e possuem esse nome por serem feitas de madeira naval, isto é, placas de zinco revestidas por fibra de vidro. Consideradas inadequadas por serem muito quentes no verão, geladas no inverno e não apresentarem devida segurança, eliminá-las foi uma das prioridades estipuladas pela prefeita Marta Suplicy (PT) em campanha eleitoral.

"É louvável que se queira acabar com as escolas de latinhas a todo custo. Mas o que não se pode fazer é extingui-las sem que seja resolvido o problema da falta de vagas", afirma o vereador Carlos Giannazi (PT), que comunicou o problema à Secretaria Municipal da Educação e acompanhou a vistoria do promotor do Ministério Público, Vidal Serrano, em uma das escolas.

Segundo a coordenadora de Educação da Subprefeitura da Capela do Socorro, Maria Terezinha Ferreira Dias, todos os pais e professores da Escola Municipal Ensino Infantil (EMEI) Milton Santos e Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jardim Eliana foram avisados com antecedência sobre as respectivas desativações. Ela ainda afirma que a subprefeitura fez um planejamento minucioso com a diretoria de ensino do Estado para que nenhuma criança deixasse de ser redistribuída.

“Todos os pais assinaram autorização para que seus filhos pudessem ser transferidos para a escola mais próxima. E as desativações aconteceram a pedido da própria comunidade”, disse. A coordenadora ressaltou que, além de todos os estudantes terem sido encaminhados, os alunos de até cinco anos que eram da EMEI Milton Santos ainda vão para a escola de leva e traz. “Essa história de que tem criança fora da escola não procede”, rebateu.

Entretanto, não é essa a versão da desempregada Roberta Kelly Santos. Ela tem dois filhos e, o mais novo, que estudava na EMEI Milton Santos, não tem para onde ir. “Os funcionários foram transferidos, mas as crianças não”, contou ela dizendo jamais ter recebido e assinado qualquer documento de autorização de transferência.

Conforme ela, eram aproximadamente 640 alunos divididos em três períodos. Apenas 64 foram transferidos para o Centro Educacional Unificado (CEU) Cidade Dutra, que fica a cinco quilômetros de suas casas e sem transporte direto. “Quem ganhou uma vaga tem que andar 10 minutos de ônibus, mais 15 minutos a pé em ruas movimentadas e perigosas até para adultos, como as avenidas Interlagos e Robert Kennedy”, comentou.

Roberta trabalhava em um ferro velho, mas com seu filho de quatro anos em casa, entrava mais tarde e saía mais cedo do serviço. Resultado: acabou sendo demitida. Esse não foi um fato isolado. Outras mães com quem ela mantém contato estão na mesma situação. Algumas, inclusive, são chefes de família.

“Estamos todas desesperadas. Temos que trabalhar e não temos onde deixar nossos filhos. Além disso, nosso salário médio é de R$ 240. Não dá para pagar R$ 80 de escola particular”, lamentou.

A EMEI Milton Santos já foi demolida e, hoje, segundo moradores da região, aparenta ser um terreno abandonado. Ao contrário da EMEF Jardim Eliana, que tem sido ocupada por crianças e, principalmente, jovens viciados em drogas.

“Como a escola está vazia, muitas crianças vão para lá brincar. Aqueles marginais não querem nem saber se tem criança jogando bola do lado. Fumam maconha e cheiram cocaína em plena luz do dia, sem medo ou vergonha de ninguém”, revelou a dona de casa Ednéia Oliveira da Silva, vizinha da escola e mãe de um menino de seis anos.

A subprefeitura garantiu que daqui a três meses será iniciada a construção de uma nova escola no lugar da EMEI Milton Santos. Quanto a EMEF Jardim Eliana, será demolida em 15 dias, mas ainda não há previsão de obras no local.

 
 
 

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