Aids se dissemina
entre usuários de crack
Raquel Souza
Equipe GD
Usuários de crack
estão cada vez mais sujeitos à contaminação do HIV.
É o que mostra a pesquisa realizada pela psiquiatra Renata Cruz Soares
de Azevedo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp,
que, nos últimos anos, estudou o tema para concluir sua tese de doutorado.
Apesar de não ser
uma droga injetável, o que a exclui da lista de comportamentos de risco
para a contaminação do HIV, seus efeitos levam os viciados a praticar
sexo sem camisinha e, em muitos casos, se prostituir para obter a mistura de bicarbonato
de sódio e pasta de cocaína..
A psiquiatra contou com
a participação de 252 usuários de cocaína (nas variantes
injetável e crack), na faixa etária entre 16 a 51 anos. Desses,
20% eram portadores do HIV.
Os dados apontam que o uso
de cocaína injetável continua representando o comportamento de risco
mais perigoso. Dos infectados pelo HIV, 33% haviam contraído o vírus
dessa maneira. O número de usuários de crack que apresentavam o
vírus da Aids atingiu 11%. "Há poucas pesquisas sobre a combinação
do crack e da Aids, mas esse é um número alto", explica Renata.
A grande contradição,
conta a pesquisadora, é que os usuários de "pedra", maneira
como denominam o crack, alegam fugir das drogas injetáveis como maneira
de prevenir a Aids. Na cabeça deles, é uma forma de escapar da doença,
sem precisar abrir mão dos efeitos da cocaína.
O que os usuários
de crack não percebem é que o circuito dessa droga os expõe
muito mais do qualquer outra. "Eles são bastante jovens e começaram
a usar o crack há três anos, em média - um terço a
menos do que os que usam injetável. Entretanto, estão mais envolvidos
com a prostituição, apresentam maiores problemas familiares e já
possuem problemas com a Justiça", relata Renata.
O medo de contrair Aids
não fez com que 52% dos entrevistados passassem a usar preservativo com
parceiros ocasionais do sexo oposto. Entre aqueles que se prostituem para consumo
de drogas, 56% nunca usou preservativo. O número cai para 46% em caso de
relações homossexuais.
Experiência
- Nas ruas do centro de São Paulo, os casos de HIV entre os jovens usuários
de crack continuam a aumentar. "Eu vi um monte de gente morrer de Aids",
conta Esmeralda do Carmo Ortiz, 21 anos, que recentemente escreveu um livro em
que registra o tempo em que viveu nas ruas da capital.
Ela lembra que para consumir
o crack, do qual já foi usuária, o dinheiro era conquistado na "correria".
Roubos faziam parte de seu cotidiano. "O ruim é que o crack tira a
sua força, mas você já está tão envolvido que
só piora as coisas".
Segundo ela, foi por isso
que muitos de seus amigos optaram pela prostituição. "Sem tomar
nenhum cuidado ou ter algum tipo de higiene, vários pegaram doenças
sexualmente transmissíveis inclusive a Aids", relata.
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