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04/12/2005
-
09h33
MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo
Dezembro inaugura o ano das eleições presidenciais na América Latina. Serão nove a partir de agora e, se incluídas as eleições legislativas, 12, nada menos do que uma por mês, em média.
Com as mudanças políticas, surge o risco de mudanças econômicas, o que faz os economistas, ou pelo menos parte importante deles, preocuparem-se com o que tem sido chamado de nascimento do "novo populismo" na região.
"O macropopulismo está morto" diz Sebastian Edwards, ex-economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, hoje economista da Universidade da Califórnia. Edwards, com Rudiger Dornbusch, é autor de "A Macroeconomia do Populismo na América Latina", em que ele explica: "A macroeconomia do populismo enfatiza o crescimento e a distribuição de renda, mas não leva em conta os riscos da inflação, do déficit público, das restrições externas e da reação dos agentes econômicos a políticas agressivas".
No Brasil para participar do Seminário Interamericano de Economia, realizado na PUC-RJ pelo NBER (ONG norte-americana que reúne pesquisadores da área de economia), ele debateu o suposto ressurgimento do populismo com o ex-ministro Pedro Malan (Fazenda), o brasilianista Albert Fishlow e o economista Dionísio Carneiro, da PUC.
Em maior ou menor grau, todos concordam que há uma espécie de "novo populismo" espreitando a região. Para Edwards, ele é novo porque não traz de volta o mesmo tipo de abordagem dos anos 60 e 70. Ao invés de política macroeconômica alternativa, surgiu, na avaliação dele, o "micropopulismo". Ou seja, há pouca dúvida a respeito da necessidade de se preocupar com o controle de inflação e gastos públicos, mas há uma série de políticas microeconômicas, como proteção à indústria, que ele considera fazer parte de um novo populismo.
Fishlow concorda que o que era chamado de populismo no campo econômico há 20 anos perdeu praticamente todo o espaço. O novo populismo, diz ele, não propõe um novo modelo econômico. "O Equador está dolarizado, a Venezuela sobrevaloriza moeda e a Argentina tem modelo econômico com câmbio desvalorizado e controlado", exemplifica, com países que ele considera como focos do novo populismo.
O que ele chama de novo populismo é basicamente o que Edwards chama de micropopulismo. "Política de elevação irresponsável de salários, proteção à indústria, incerteza em relação às regras", diz.
Há motivo para se preocupar com o surgimento de um novo populismo? Para a Fitch Ratings, o risco é pequeno. A maioria dos países deve manter políticas similares à brasileira, em menor ou maior grau. De qualquer maneira, o risco sempre existe e há indícios de que a população da região não está muito satisfeita com os resultados da política adotada até agora. Em 2002, nada menos do que 45% dos latino-americanos disseram ao Latinobarômetro que eles apoiariam um governo não-democrático se ele resolvesse os "problemas econômicos". É verdade que, desde então, os países da região pegaram carona na onda de crescimento mundial, mas continuam andando mais devagar que outros países emergentes.
A agência de classificação de risco chega a dividir os países pelo grau de risco político. Brasil e México estão no grupo de médio risco, Chile, no de risco baixo. Entre os mais arriscados, estão Venezuela e Bolívia.
O risco político, nesse caso, é entendido como a possibilidade de mudanças drásticas na política econômica.
Dionísio Carneiro, mais pessimista, vê uma espécie de "janela de oportunidade" para o ressurgimento do populismo. Ele lembra a boa conjuntura internacional, com preços de commodities em alta, dinheiro sobrando nos mercados e investidores mais tolerantes. O que tudo isso tem a ver com o renascimento de políticas econômicas inadequadas?
Os países, apesar de relativamente mais abertos, estão menos dependentes do mercado financeiro internacional e menos vulneráveis. Com isso, ficam também menos sujeitos à vigilância do mercado. Por outro lado, diz Carneiro, "o desempenho medíocre do crescimento aumenta a intolerância com as políticas monetárias conservadoras".
Fishlow lembra que não é à toa que cresce a insatisfação dos latino-americanos com a "boa política econômica", já que, depois de quase duas décadas de abertura, privatização e reformas, o crescimento não apareceu.
Malan também diz duvidar da "morte do macropopulismo", mas diz que há um processo de aprendizagem pelo qual a própria população acaba descobrindo que "não há mágicas".
"A saída é aprofundar o debate público para mostrar que algumas promessas não são viáveis, possíveis", diz.
Claro, o que Malan, Edwards, Carneiro e Fishlow consideram populismo é visto por economistas de outras linhas teóricas como política adequada para emergentes, que inclui política industrial, controle de capitais e adoção de câmbio desvalorizado.
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Novo populismo na AL preocupa economistas
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da Folha de S.Paulo
Dezembro inaugura o ano das eleições presidenciais na América Latina. Serão nove a partir de agora e, se incluídas as eleições legislativas, 12, nada menos do que uma por mês, em média.
Com as mudanças políticas, surge o risco de mudanças econômicas, o que faz os economistas, ou pelo menos parte importante deles, preocuparem-se com o que tem sido chamado de nascimento do "novo populismo" na região.
"O macropopulismo está morto" diz Sebastian Edwards, ex-economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, hoje economista da Universidade da Califórnia. Edwards, com Rudiger Dornbusch, é autor de "A Macroeconomia do Populismo na América Latina", em que ele explica: "A macroeconomia do populismo enfatiza o crescimento e a distribuição de renda, mas não leva em conta os riscos da inflação, do déficit público, das restrições externas e da reação dos agentes econômicos a políticas agressivas".
No Brasil para participar do Seminário Interamericano de Economia, realizado na PUC-RJ pelo NBER (ONG norte-americana que reúne pesquisadores da área de economia), ele debateu o suposto ressurgimento do populismo com o ex-ministro Pedro Malan (Fazenda), o brasilianista Albert Fishlow e o economista Dionísio Carneiro, da PUC.
Em maior ou menor grau, todos concordam que há uma espécie de "novo populismo" espreitando a região. Para Edwards, ele é novo porque não traz de volta o mesmo tipo de abordagem dos anos 60 e 70. Ao invés de política macroeconômica alternativa, surgiu, na avaliação dele, o "micropopulismo". Ou seja, há pouca dúvida a respeito da necessidade de se preocupar com o controle de inflação e gastos públicos, mas há uma série de políticas microeconômicas, como proteção à indústria, que ele considera fazer parte de um novo populismo.
Fishlow concorda que o que era chamado de populismo no campo econômico há 20 anos perdeu praticamente todo o espaço. O novo populismo, diz ele, não propõe um novo modelo econômico. "O Equador está dolarizado, a Venezuela sobrevaloriza moeda e a Argentina tem modelo econômico com câmbio desvalorizado e controlado", exemplifica, com países que ele considera como focos do novo populismo.
O que ele chama de novo populismo é basicamente o que Edwards chama de micropopulismo. "Política de elevação irresponsável de salários, proteção à indústria, incerteza em relação às regras", diz.
Há motivo para se preocupar com o surgimento de um novo populismo? Para a Fitch Ratings, o risco é pequeno. A maioria dos países deve manter políticas similares à brasileira, em menor ou maior grau. De qualquer maneira, o risco sempre existe e há indícios de que a população da região não está muito satisfeita com os resultados da política adotada até agora. Em 2002, nada menos do que 45% dos latino-americanos disseram ao Latinobarômetro que eles apoiariam um governo não-democrático se ele resolvesse os "problemas econômicos". É verdade que, desde então, os países da região pegaram carona na onda de crescimento mundial, mas continuam andando mais devagar que outros países emergentes.
A agência de classificação de risco chega a dividir os países pelo grau de risco político. Brasil e México estão no grupo de médio risco, Chile, no de risco baixo. Entre os mais arriscados, estão Venezuela e Bolívia.
O risco político, nesse caso, é entendido como a possibilidade de mudanças drásticas na política econômica.
Dionísio Carneiro, mais pessimista, vê uma espécie de "janela de oportunidade" para o ressurgimento do populismo. Ele lembra a boa conjuntura internacional, com preços de commodities em alta, dinheiro sobrando nos mercados e investidores mais tolerantes. O que tudo isso tem a ver com o renascimento de políticas econômicas inadequadas?
Os países, apesar de relativamente mais abertos, estão menos dependentes do mercado financeiro internacional e menos vulneráveis. Com isso, ficam também menos sujeitos à vigilância do mercado. Por outro lado, diz Carneiro, "o desempenho medíocre do crescimento aumenta a intolerância com as políticas monetárias conservadoras".
Fishlow lembra que não é à toa que cresce a insatisfação dos latino-americanos com a "boa política econômica", já que, depois de quase duas décadas de abertura, privatização e reformas, o crescimento não apareceu.
Malan também diz duvidar da "morte do macropopulismo", mas diz que há um processo de aprendizagem pelo qual a própria população acaba descobrindo que "não há mágicas".
"A saída é aprofundar o debate público para mostrar que algumas promessas não são viáveis, possíveis", diz.
Claro, o que Malan, Edwards, Carneiro e Fishlow consideram populismo é visto por economistas de outras linhas teóricas como política adequada para emergentes, que inclui política industrial, controle de capitais e adoção de câmbio desvalorizado.
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