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17/10/2006 - 09h43

Doleiro é solto após fazer acordo de delação com juiz

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

O megadoleiro Hélio Laniado foi liberado pela Justiça após permanecer preso por 420 dias. Ele saiu da custódia da Polícia Federal em Curitiba na última terça-feira após assinar um acordo de delação premiada, pelo qual se compromete a revelar como funcionavam os seus negócios e quem eram seus maiores clientes, segundo a Folha de S.Paulo apurou.

Dependendo do que Laniado revelar, ele pode ter uma pena menor. Esse tipo de acordo já beneficiou doleiros como Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, e Alberto Youssef.

Laniado ganhou fama muito além do mercado financeiro por duas razões: tinha uma coleção de namoradas da qual fizeram parte a apresentadora Daniela Cicarelli e a atriz Carolina Ferraz e seu volume de remessas ilegais, de US$ 1,2 bilhão entre outubro de 1995 e junho de 2002, é recorde entre os processos que já passaram pela Justiça brasileira.

O acordo de delação premiada foi negociado entre os advogados do doleiro e a Força-Tarefa CC5, um grupo de procuradores e delegados da Polícia Federal que detém um volume inédito de informações sobre doleiros porque é alimentado com documentos vindos dos Estados Unidos --numa das remessas, os procuradores americanos enviaram um contêiner de papéis.

Os EUA têm informações sobre Laniado porque ele usava bancos daquele país. Tanto que é réu em um processo em Nova York junto com 33 doleiros.

Os integrantes da Força-Tarefa CC5 comemoraram o acordo de delação porque consideram Laniado "o maior peixe" que já apanharam. Delegados da PF que conhecem os negócios de Laniado dizem que ele trabalhava para bancos e grandes empresas. Já existem evidências de que Laniado remetia e trazia dólares para o Banco Santos.

Laniado foi preso quando desembarcava no aeroporto de Praga no dia 16 de agosto do ano passado de um vôo vindo de Israel. Ele fugira para Israel, onde havia obtido a cidadania israelense, após a Justiça Federal decretar a sua prisão.

Foi o serviço secreto de Israel, o Mossad, que informou à Interpol que Laniado estava no avião, segundo dois delegados da PF ouvidos pela Folha sob a condição de que seus nomes não fossem revelados. Não se sabe bem por que o Mossad dedurou Laniado --um dos delegados levanta a hipótese de que pode ser gratidão pelo esforço da PF brasileira em esclarecer o caso de Josef Mengele, o carrasco nazista cuja ossada foi descoberta em 1985 e posteriormente identificada.

O doleiro foi extraditado da República Tcheca em 4 de agosto último. Ficou 353 dias detido num porão úmido, sob os cuidados de carcereiros que não falavam um "ah" em inglês, segundo o advogado Roberto Podval, que defende Laniado.

Podval nega que seu cliente tenha feito um acordo de delação. "Não teve delação, não gosto dessa figura jurídica. Soltaram o Hélio não por mérito, mas por uma questão processual", afirma o advogado.

A questão processual a que o advogado se refere foi um habeas corpus deferido em maio pelo Supremo Tribunal Federal, que suspendeu as prisões preventivas de dois co-réus do processo de Laniado: Eliott Maurice Eskinazi e Dany Lederman. Laniado não foi beneficiado porque estava preso em Praga e tentava evitar a extradição. Quando ele desistiu de anular a extradição (ou seja, aceitou que a República Tcheca o enviasse para uma prisão brasileira), sua situação passou a ser idêntica à dos outros dois co-réus que tinham sido liberados pelo Supremo.
O juiz federal Sérgio Moro, da 2ª Vara Federal de Curitiba, diz que não pode comentar o caso porque o processo e a decisão de liberar Laniado estão sob segredo de Justiça.

Dany Lederman cumpriu a pena e obteve em 2019 a reabilitação criminal, benefício jurídico que restitui ao condenado a sua situação anterior à sentença, incluindo retirar de sua ficha antecedentes criminais.

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