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17/09/2001 - 04h49

Sino volta a soar hoje em Wall Street

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FERNANDO RODRIGUES
enviado especial a Nova York

A Bolsa de Valores de Nova York reabre hoje depois de passar quatro dias fechada, desde a terça-feira, por causa da destruição das duas torres do World Trade Center. A reabertura será às 9h30 (10h30 em Brasília), com a presença do secretário do Tesouro dos EUA (o equivalente a ministro da Fazenda), Paul O'Neill, que tocará o sino que dá a partida aos negócios, e da senadora democrata pelo Estado de Nova York Hillary Clinton.

Foi a primeira vez que a Bolsa nova-iorquina fechou para negócios desde a Segunda Guerra Mundial. Os quatro dias de paralisação representaram o período mais longo de fechamento desde 1914, durante a Primeira Guerra Mundial.

A expectativa geral é que os negócios registrem forte queda no preços das ações por causa da incerteza sobre o desdobramento dos ataques terroristas. Uma queda de 10% a 15% não será surpresa para a maioria do mercado. A desvalorização dos papéis pode reforçar a idéia de que a economia dos EUA terá problemas adicionais para se recuperar a partir do ano que vem, algo que era dado como certo antes dos ataques terroristas da semana passada.

Apesar do pessimismo que reina no mundo financeiro nova-iorquino, há também um certo consenso sobre este primeiro dia de volta das atividades do mercado financeiro não ser o termômetro definitivo sobre o futuro da economia.

"A relevância do primeiro momento é relativa", disse ontem à Folha Bernardo Parnes, presidente do banco de investimentos Merrill Lynch no Brasil.

Na avaliação do executivo da Merrill Lynch, os governos norte-americano e de outros países desenvolvidos continuarão a irrigar a economia mundial para evitar uma crise de liquidez. Colocarão dinheiro à disposição em grande quantidade para empresas e investidores terem acesso a recursos.

Se essa medida não for suficiente, espera-se o corte dos juros básicos dos Estados Unidos quando o Federal Reserve (banco central) tiver sua próxima reunião, em 2 de outubro, ou mesmo antes.

De acordo com o jornal inglês "The Observer", o Fed e os bancos de investimentos estão preparados para gastar bilhões de dólares para manter o mercado acionário ativo. Segundo o jornal, foi formado um grupo de trabalho secreto para estudar os efeitos nos mercados financeiros, com representantes das Bolsas, dos bancos e do governo. Diz o "Observer" que poderia haver uma ação "sem precedentes".

O grande problema do mercado financeiro é a falta de um valor de referência. Um dos motivos para a volatilidade do mercado é que não se conhece exatamente o que seria um patamar alto ou baixo para o preço das ações. Além disso, a crise dos atentados terroristas não está nem perto de um desfecho minimamente previsível. Essa instabilidade tende a deixar os investidores em ações sempre mais céticos.

Para Jair Ribeiro Neto, diretor-executivo do banco JP Morgan em Nova York, um fator complicador é a economia norte-americana estar passando por uma recessão, mas "sobre uma base de atividades muito alta, depois de dez anos de crescimento robusto e contínuo".

Em entrevista ontem à Folha, Ribeiro Neto fez a seguinte avaliação: "O que precisa ser analisado é o impacto das medidas de segurança que serão adotadas sobre os ganhos de produtividade conquistados nos últimos anos".

Reflexos
Em outras palavras, o controle dos vôos e do transporte em geral, por motivos de segurança, tornará mais lento o trânsito de mercadorias no país, que tem o maior nível de consumo do planeta.

A gigante de computadores Dell é um caso a ser observado. A empresa entrega todos os seus estoques para uma grande firma de despachos expressos, que se responsabiliza pela montagem das máquinas nas caixas e pelo despacho aos revendedores ou consumidores finais. Com novas normas de segurança, é necessário saber o quanto as regras afetarão o preço final dos produtos.

Independentemente do que pode acontecer nos próximos dias, há consenso entre profissionais do mercado de capitais de que as ações de companhias aéreas podem desabar, pois esse setor deve ser um dos que mais sofrerão com a crise dos atentados terroristas.

Um tipo de ação que eventualmente registrará alta é o de empresas do setor militar, como a Raytheon (que ganhou a licitação para fazer o Serviço de Vigilância da Amazônia, o Sivam, no Brasil, na década passada).

Reconstrução
Uma operação de guerra foi montada pela Prefeitura de Nova York no distrito financeiro da cidade com o objetivo de permitir a reabertura da Bolsa de Valores hoje pela manhã. Apesar de o famoso edifício em Wall Street não ter sofrido avarias, mais de 30 mil metros de cabos subterrâneos foram danificados na região da Bolsa de Valores no atentado de terça-feira. Cerca de 13 mil endereços ficaram sem energia elétrica.
Houve perda de 400 megawatts de energia, o suficiente para iluminar 400 mil casas.

Além disso, as ruas e os edifícios ficaram cobertos por uma espessa camada de sujeira, resultado do desmoronamento do World Trade Center. O ar ficou quase irrespirável nos primeiros dias. Só houve melhora porque choveu na sexta-feira.

Até sábado, cerca de 30 km de cabos de energia foram estendidos provisoriamente sobre as ruas e calçadas do distrito financeiro de Nova York. Esse procedimento permitirá que alguns edifícios possam ser reabertos hoje. Cabos telefônicos também tiveram de ser substituídos para restabelecer as comunicações.

Depois de fazer um teste com o sistema de telefonia e de computadores da Bolsa no sábado, o presidente da instituição, Richard Grasso, deu uma entrevista coletiva informando que tudo funcionara bem.

Limitações
Há ainda um problema sem solução, que é a comunicação da Bolsa com as corretoras que operam nesse mercado. Cerca de 20% do cabeamento continua danificado e muitos terão dificuldade para trabalhar durante o pregão.

Apesar dessa limitação, as empresas afetadas pela falta de comunicação estão se reposicionando provisoriamente em outros locais para poder voltar hoje ao mercado financeiro. A reabertura da Bolsa de Valores é um evento importante para a economia norte-americana. Trata-se de um dos maiores emblemas do capitalismo, por ser o maior mercado de valores do planeta.

Além de O'Neill e de Hillary, devem comparecer hoje para ouvir o sino tocar (a forma como os pregões são abertos) o prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, o governador do Estado de Nova York, George Pataki, e o presidente da SEC (Securities and Exchange Commission, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA).

Não foi apenas a Bolsa de Valores de Nova York que permaneceu fechada por quatro dias. Também não funcionaram a Nasdaq (Bolsa eletrônica que concentra a maior parte dos papéis de empresas do setor de alta tecnologia) e a Nybot (New York Board of Trade, a Bolsa de mercadorias da cidade). Ambas devem funcionar normalmente a partir de hoje.

A Nybot ficava no World Trade Center e seus 1.600 corretores ficaram sem lugar para trabalhar. A partir de hoje, eles estarão operando de uma unidade dessa instituição localizada em Queens, uma das regiões administrativas da cidade de Nova York.

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