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23/09/2001
-
08h46
LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
As famílias de baixa renda são as que mais têm sofrido com o aumento de preços provocado pela alta do dólar. Os preços administrados (que incluem energia elétrica e gás de cozinha) e os de bens não-duráveis (principalmente alimentos) foram os que mais pressionaram a inflação neste ano.
Grande parte dos preços e tarifas dos itens que compõem esses dois grupos são corrigidas de acordo com a alta do dólar. As famílias mais pobres gastam a maior parte de sua renda -numa proporção muito maior do que as de classe média e alta- com alimentação e habitação.
Apesar da forte alta do dólar nas últimas semanas, no entanto, o impacto sobre os preços deve ocorrer somente no ano que vem. Segundo o economista Luís Afonso Fernandes, do BBV Banco, a defasagem entre a valorização do dólar e o repasse para os preços ao consumidor tem sido de três meses, desde 99.
A inflação medida pelo IPCA está, no acumulado do ano até agosto, em 5,1%. Quase a metade disso (47,7%) ocorreu devido ao aumento dos preços administrados. A tarifa de energia, por exemplo, subiu 13,8%. O segundo maior impacto na inflação foi provocado pelo grupo serviços (24,6%). Em seguida, bens não-duráveis (21,9%), composto principalmente por alimentos.
Luz elétrica e combustíveis (área que inclui o gás de cozinha) são corrigidos de acordo com a variação do dólar porque o petróleo e seus derivados e a energia que o país importa são cotados, no mercado internacional, em dólar. Assim, quando a moeda americana se valoriza, esses itens ficam mais caros em reais.
O mesmo acontece com alguns alimentos e seus derivados. O Brasil importa quase todo o trigo que consome. Por isso, os preços de pães, farinhas e massas sofrem o impacto da alta do dólar.
A soja e seus derivados são reajustados também de acordo com a variação da moeda americana. Assim como o petróleo, seu preço é cotado em dólar. Desse modo, mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores mundiais de soja, o preço do produto no mercado interno também segue a moeda americana.
Entre os alimentos, o preço dos cereais -que inclui soja- foi, disparado, o que mais subiu este ano (35,2%). Logo depois, veio o item "óleos e gorduras", que aumentou 24,2%. Em seguida, panificados (15,1% mais caros) e farinhas e massas (9,9%). Todos influenciados, direta ou indiretamente, pela alta do dólar.
De acordo com a pesquisa de orçamento familiar da FGV, o peso dos gastos com alimentação sobre a renda das famílias paulistas que ganham até 2,5 salários mínimos (R$ 450) é de 42,7%. Praticamente o dobro do peso para as famílias que ganham de 25 a 33 salários mínimos (de R$ 4.500 a R$ 5.940), que despendem com alimentação 21,18% de sua renda.
A família paulista com renda de até 2,5 salários mínimos gasta somente com gás de cozinha (botijão) 1,39% de seus ganhos. Com luz elétrica, 5,15%. Para as famílias que recebem de 25 a 33 salários, o gás representa 0,21% e a energia, 1,7%.
Em 2002, o impacto do câmbio sobre a tarifa de energia tende a ser maior do que em 2001. O economista Sérgio Werlang, professor da FGV do Rio e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, sugere que o governo tome algumas medidas para reduzir o impacto do dólar sobras as tarifas públicas.
Segundo ele, a energia que o país consome da Usina de Itaipu -da qual o governo brasileiro é o maior acionista- poderia ser cobrada das distribuidoras em reais.
Ele aconselha que o preço da gasolina não seja corrigido em outubro. Isso geraria despesas adicionais para o Tesouro Nacional, porque a defasagem entre o preço do petróleo no mercado internacional e os derivados vendidos pela Petrobras aumentaria e teria que ser arcado pelo governo.
Alta do dólar prejudica mais pobres
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
As famílias de baixa renda são as que mais têm sofrido com o aumento de preços provocado pela alta do dólar. Os preços administrados (que incluem energia elétrica e gás de cozinha) e os de bens não-duráveis (principalmente alimentos) foram os que mais pressionaram a inflação neste ano.
Grande parte dos preços e tarifas dos itens que compõem esses dois grupos são corrigidas de acordo com a alta do dólar. As famílias mais pobres gastam a maior parte de sua renda -numa proporção muito maior do que as de classe média e alta- com alimentação e habitação.
Apesar da forte alta do dólar nas últimas semanas, no entanto, o impacto sobre os preços deve ocorrer somente no ano que vem. Segundo o economista Luís Afonso Fernandes, do BBV Banco, a defasagem entre a valorização do dólar e o repasse para os preços ao consumidor tem sido de três meses, desde 99.
A inflação medida pelo IPCA está, no acumulado do ano até agosto, em 5,1%. Quase a metade disso (47,7%) ocorreu devido ao aumento dos preços administrados. A tarifa de energia, por exemplo, subiu 13,8%. O segundo maior impacto na inflação foi provocado pelo grupo serviços (24,6%). Em seguida, bens não-duráveis (21,9%), composto principalmente por alimentos.
Luz elétrica e combustíveis (área que inclui o gás de cozinha) são corrigidos de acordo com a variação do dólar porque o petróleo e seus derivados e a energia que o país importa são cotados, no mercado internacional, em dólar. Assim, quando a moeda americana se valoriza, esses itens ficam mais caros em reais.
O mesmo acontece com alguns alimentos e seus derivados. O Brasil importa quase todo o trigo que consome. Por isso, os preços de pães, farinhas e massas sofrem o impacto da alta do dólar.
A soja e seus derivados são reajustados também de acordo com a variação da moeda americana. Assim como o petróleo, seu preço é cotado em dólar. Desse modo, mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores mundiais de soja, o preço do produto no mercado interno também segue a moeda americana.
Entre os alimentos, o preço dos cereais -que inclui soja- foi, disparado, o que mais subiu este ano (35,2%). Logo depois, veio o item "óleos e gorduras", que aumentou 24,2%. Em seguida, panificados (15,1% mais caros) e farinhas e massas (9,9%). Todos influenciados, direta ou indiretamente, pela alta do dólar.
De acordo com a pesquisa de orçamento familiar da FGV, o peso dos gastos com alimentação sobre a renda das famílias paulistas que ganham até 2,5 salários mínimos (R$ 450) é de 42,7%. Praticamente o dobro do peso para as famílias que ganham de 25 a 33 salários mínimos (de R$ 4.500 a R$ 5.940), que despendem com alimentação 21,18% de sua renda.
A família paulista com renda de até 2,5 salários mínimos gasta somente com gás de cozinha (botijão) 1,39% de seus ganhos. Com luz elétrica, 5,15%. Para as famílias que recebem de 25 a 33 salários, o gás representa 0,21% e a energia, 1,7%.
Em 2002, o impacto do câmbio sobre a tarifa de energia tende a ser maior do que em 2001. O economista Sérgio Werlang, professor da FGV do Rio e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, sugere que o governo tome algumas medidas para reduzir o impacto do dólar sobras as tarifas públicas.
Segundo ele, a energia que o país consome da Usina de Itaipu -da qual o governo brasileiro é o maior acionista- poderia ser cobrada das distribuidoras em reais.
Ele aconselha que o preço da gasolina não seja corrigido em outubro. Isso geraria despesas adicionais para o Tesouro Nacional, porque a defasagem entre o preço do petróleo no mercado internacional e os derivados vendidos pela Petrobras aumentaria e teria que ser arcado pelo governo.
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