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10/10/2001 - 09h31

Guerra não deve estimular a economia dos EUA

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RICHARD W. STEVENSON
do "The New York Times"

Dada a natureza desse novo conflito com o terrorismo, não é provável que a economia seja estimulada pelos desdobramentos que estimularam os booms de tempos de guerra no passado, como encomendas elevadas de tanques e aviões ou a procura por trabalhadores que substituam aqueles que foram enviados às frentes de batalha.

Dessa vez, o rumo da economia será determinado em larga medida pelo poder relativo de duas forças amplas, mas antagônicas.

Do lado negativo temos a incerteza e, em alguns casos, o medo, que tomou conta das empresas, consumidores e investidores desde o dia 11 de setembro, debilitando ainda mais uma economia que já vinha oscilando à beira da recessão -se é que não havia ainda entrado em uma.

Do outro lado da equação está a política econômica do governo, que vinha já desde o começo do ano realizando um trabalho leve de socorro à expansão de negócios que durou uma década. Agora as medidas de estímulo fiscal e monetário estão sendo adotadas com toda a força, em um esforço por garantir que a queda de atividades posterior aos ataques terroristas seja tão curta e amena quanto possível.

''A questão é determinar se essa situação nos empurrará a uma recessão ou nos tirará dela'', diz Martin N. Baily, que presidia o conselho de assessores econômicos da Casa Branca no governo Bill Clinton. ''A parte que nos empurra para a recessão envolve uma preocupação maior de todos sobre os riscos'', disse. ''A parte que nos tira da recessão é o aumento dos gastos do governo, o corte de impostos, a menor preocupação com déficits orçamentários e ações mais agressivas do Fed para estimular a economia.''

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) recentemente tem operado a plena força para cortar as taxas de juros. O Congresso e o governo George W. Bush já aprovaram aumentos substanciais nos gastos do governo e parecem encaminhados à aprovação de uma segunda rodada de cortes e impostos e medidas adicionais de estímulo, neste ano.

Em comparação com passados esforços, no entanto, essa combinação de políticas monetária e fiscal não corresponde ao equivalente da mobilização econômica para a guerra vista na Segunda Guerra Mundial e talvez sequer estimule a economia da forma que a Guerra do Vietnã fez nos anos 60.

''Meu palpite é que a situação atual não se assemelhará a economias de guerra vistas no passado'', disse N. Gregory Mankiw, professor de Economia na Universidade Harvard. ''A menos que o estímulo fiscal termine por ser muito maior do que o previsto, as diferenças serão maiores do que as semelhanças, com relação ao passado.''

Em lugar disso, a eficiência das taxas de juros reduzidas, maiores gastos do governo e novos cortes de impostos em reativar a economia dependerá em certa medida de como prosseguir a batalha contra o terrorismo e do surgimento ou não de ataques retaliatórios contra os Estados Unidos e seus aliados.

Dado o fato de que a economia contemporânea dos Estados Unidos é muito mais substancial do que no passado, essa combinação deve ter poder suficiente, dizem os economistas, para impedir que as consequências dos ataques terroristas e da resposta militar a eles atropelem os pontos fortes da economia do país.

Além disso, assim que a pior parte da guerra passar, o cenário estará preparado para uma saudável recuperação, provavelmente em algum momento do ano que vem.
No passado, as guerras tiveram efeitos variados sobre a economia. Em 7 de dezembro de 1941, os Estados Unidos ainda estavam lutando para superar a Grande Depressão. O esforço de guerra concluiu essa tarefa e criou uma economia de pleno emprego, para todos os efeitos.

Em 7 de agosto de 1964, quando o Congresso aprovou a resolução do Golfo de Tonkin, dando seu apoio à ampliação do apoio norte-americano ao Vietnã, a economia já se recuperara de uma recessão de dez meses encerrada no começo de 1961. Os gastos militares ajudaram a manter a expansão até 1969 e chegaram a alimentar a inflação devido ao estímulo excessivo.

Em 2 de agosto de 1990, quando o Iraque invadiu o Kuait, a economia caiu em recessão, por oito meses. Uma alta passageira nos preços do petróleo prejudicou o desempenho econômico e o aumento modesto e temporário de gastos militares não bastou para estimulá-la muito.

Em 11 de setembro, estava claro que os Estados Unidos vinham passando por queda acentuada do crescimento econômico e que a expansão -a mais longa já registrada- talvez tivesse terminado.

A despeito de uma série de cortes nas taxas de juros por parte do Fed e de um corte de impostos assinado pelo presidente Bush, o desemprego começava a crescer, o investimento empresarial em novas fábricas e equipamentos estava paralisado e os consumidores estavam cada vez mais temerosos.

Se a economia não estava em recessão antes dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, quase certamente entrou em recessão a seguir. As grandes empresas anunciaram cerca de 200 mil demissões e suspenderam seus planos de expansão.

A força da economia nos últimos anos derivava em parte de uma sensação de entusiasmo quanto à disponibilidade de empregos e de oportunidades criadas pelos avanços tecnológicos, acoplado a um esforço das empresas para reduzir seus custos operacionais.

Ambos os fatores estão em risco, agora, diante das consequências da campanha contra o terror.

Empresas de muitos setores enfrentam a possibilidade de gastos pesados com a segurança, custos que não ajudam em nada a sua lucratividade. Baily disse que a linha aérea israelense El Al gasta cerca de 4% de seu faturamento com a segurança e recebe para o mesmo fim uma quantia equivalente a 3% de seu faturamento do governo israelense.

As linhas aéreas sediadas nos Estados Unidos, em contraste, vinham gastando em média apenas 2% do seu faturamento com a segurança.

É difícil avaliar com precisão o potencial de perda de entusiasmo entre as empresas, investidores e consumidores.

''Simplesmente não sabemos como a ação militar transcorrerá ou que resposta os terroristas podem dar'', disse Ian Shepherdson, economista da High Frequency Economics, uma empresa de consultoria. ''Mesmo que os Estados Unidos e outros governos consigam impedir novos ataques, não sabemos de que maneira os consumidores norte-americanos poderão reagir a um estado de perpétua insegurança nacional.''

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